102724 A Relatório Principal do Grupo Banco Mundial Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de DIVIDENDOS DIGITAIS VISÃO GERAL A Relatório Principal do Grupo Banco Mundial Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de DIVIDENDOS DIGITAIS VISÃO GERAL Este livreto contém uma visão geral e uma lista de conteúdos do Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2016: Dividendos Digitais, doi: 0.1596/978-1-4648-0671-1. Uma versão em PDF do livro final e completo, uma vez publicado, estará disponível no site https://openknowledge.worldbank.org/ e exemplares impressos poderão ser adquiridos no site http://Amazon.com. Favor usar a versão final do livro para fins de citação, reprodução e adaptação. © 2016 International Bank for Reconstruction and Development / The World Bank 1818 H Street NW, Washington DC 20433 Telefone: 202-473-1000; Internet: www.worldbank.org Alguns direitos reservados Este trabalho foi produzido pelo pessoal do Grupo Banco Mundial com contribuições externas. As apurações, interpretações e conclusões expressas neste trabalho não refletem necessariamente a opinião do Banco Mundial, de sua Diretoria Executiva nem dos governos dos países que representam. O Banco Mundial não garante a exatidão dos dados apresentados neste trabalho. As fronteiras, cores, denominações e outras informações apresentadas em qualquer mapa deste trabalho não sugerem nenhum julgamento do Banco Mundial sobre a situação legal de qualquer território, nem o endosso ou a aceitação de tais fronteiras. Nada aqui constitui ou pode ser considerado como constituindo uma limitação ou dispensa de privilégios e imunidades do Banco Mundial, os quais são especificamente reservados. Direitos e permissões Este trabalho está disponível sob a licença da Creative Commons Attribution 3.0 (CC BY 3.0 IGO) http://creativecommons.org/licenses/by/3.0/igo. 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Todas as consultas sobre direitos e licenças devem ser endereçadas a Publishing and Knowledge Division, Grupo Banco Mundial 1818 H Street, NW Washington, DC 20433, USA 202-522-2625; e-mail: pubrights@worldbank.org. Interior design: R  eboot (www.reboot.org), New York, New York, e George Kokkinidis, DesignLanguage, Brooklyn, New York Foto da Capa: Esta Foto do Ano de 2013 da World Press mostra migrantes agromerados à noite na Cidade de Djibouti tentando captar sinais de telefone celular a baixo custo do país vizinho, a Somália. © John Stanmeyer/National Geographic Creative. Utilizada com permissão de John Stanmeyer/ National Geographic Creative. Nova permissão é necessária para reutilização. Índice v Prefácio vii Agradecimentos 1 Visão Geral: Reforçando os fundamentos analógicos da revolução digital 5 Transformações digitais – hiatos digitais 8 Como a internet promove o desenvolvimento 11 Os dividendos: Crescimento, empregos e prestação de serviços 18 Os riscos: Concentração, desigualdade e controle 25 Tornando a internet universal, com preço acessível, aberta e segura 29 Complementos analógicos para uma economia digital 36 Cooperação global para solucionar problemas globais 38 Colhendo dividendos digitais para todos 38 Observações 39 Referências iii Prefácio Nós nos encontramos em meio à maior revolução de informação e comunicação da história da humanidade. Mais de 40% da população do mundo têm acesso à Internet, e novos usu- ários entram on-line todos os dias. Entre os 20% dos domicílios mais pobres, quase sete de cada 10 têm telefone celular. É mais provável que os domicílios mais pobres tenham acesso a telefones celulares do que a sanitários ou água potável. Precisamos aproveitar esta mudança tecnológica rápida para tornar o mundo mais prós- pero e mais inclusivo. O Relatório constata que os desafios tradicionais ao desenvolvimento estão impedindo a revolução digital de realizar seu potencial de transformação. Para muitos, o aumento atual do acesso a tecnologias digitais oferece mais escolhas e maior conveniência. Por meio da inclusão, eficiência e inovação, o acesso oferece oportuni- dades anteriormente fora do alcance dos pobres e desfavorecidos. No Quênia, por exemplo, o custo do envio de remessas caiu quase 90% após a introdução do M-Pesa, um sistema digital de pagamento. Novas tecnologias permitem às mulheres participar mais facilmente do mercado de trabalho – tais como empresárias no e-commerce, trabalho on-line ou terceirização do processo de negócios. Um bilhão de deficientes – 80% dos quais vivem em países em desenvolvimento – podem levar uma vida mais produtiva com a ajuda de comunicação por texto, voz e vídeo. E os sistemas de identificação podem proporcionar melhor acesso aos serviços públicos e privados para os 2,4 bilhões de pessoas que carecem de registros formais de identificação, tais como atestado de nascimento. Embora se trate de grandes progressos, muitos ainda estão de fora porque carecem de acesso às tecnologias digitais. As pessoas na extrema pobreza têm mais a ganhar de melhores comunicações e acesso à informação. Quase seis bilhões de pessoas não têm Internet de alta velocidade, incapacitando-as de participar plenamente da economia digital. Para proporcio- nar acesso digital universal, precisamos investir na infraestrutura e introduzir reformas que possibilitem maior concorrência nos mercados de telecomunicações, promovam parcerias público-privadas e permitam uma regulamentação eficaz. O Relatório conclui que os benefícios totais da transformação da informação e comu- nicação somente se tornarão realidade se os países continuarem a melhorar seu clima de negócios, investirem na educação e saúde de sua população e proverem a boa governança. Nos países em que esses fundamentos são fracos, as tecnologias digitais não impulsio- nam a produtividade nem reduzem a desigualdade. Os países que complementam investi- mentos em tecnologia com reformas econômicas mais amplas colhem os dividendos digitais sob a forma de crescimento mais rápido, mais empregos e melhores serviços. O Grupo Banco Mundial está pronto para ajudar os países a concretizarem essas priori- dades. Já estamos trabalhando com clientes para promover ambientes de negócio competiti- vos, aumentar a responsabilização e atualizar e educação e os sistemas de desenvolvimento de aptidões, a fim de preparar as pessoas para os empregos do futuro. v vi PREFÁCIO Embora pessoas no mundo inteiro façam mais de quatro bilhões de buscas no Google por dia, quatro bilhões de pessoas carecem de acesso à Internet. As constatações deste Relatório devem ser usadas por todos aqueles que estão empenhados em erradicar a extrema pobreza e impulsionar a prosperidade compartilhada. O maior aumento da informação e comunica- ção da história somente será de fato revolucionário quando beneficiar todas as pessoas em todas as partes do mundo. Jim Yong Kim Presidente Grupo Banco Mundial Agradecimentos Este Relatório foi preparado por uma equipe liderada por Deepak Mishra e Uwe Deichmann e constituída por Kenneth Chomitz, Zahid Hasnain, Emily Kayser, Tim Kelly, Märt Kivine, Bradley Larson, Sebastian Monroy-Taborda, Hania Sahnoun, Indhira Santos, David Satola, Marc Schiffbauer, Boo Kang Seol, Shawn Tan e Desiree van Welsum. O trabalho foi reali- zado sob a direção geral de Kaushik Basu, Indermit Gill e Pierre Guislain. Jim Yong Kim, Presidente do Grupo Banco Mundial, foi uma fonte inestimável de encorajamento à equipe. A equipe recebeu orientação de um Painel Assessor copresidido por Kaushik Basu e Toomas Hendrik Ilves e constituído por Salim Sultan Al-Ruzaiqi, Carl Bildt, Yessica Cartajena, Dorothy Gordon, Richard Heeks, Monica Kerretts-Makau, Feng Lu, N.R. Narayana Murthy, Paul Romer e Hal Varian. A equipe deseja agradecer o generoso apoio das seguintes entidades: Departamento de Relações Exteriores, Comércio e Desenvolvimento do Canadá e Centro de Pesquisa de Desenvolvimento Internacional; Ministério das Relações Exteriores e Gabinete do Presidente da Estônia; Agência de Desenvolvimento da França; Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha e Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit; Ministério da Fazenda de Israel; Ministério de Relações Exteriores da Noruega e Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento; Ministério das Relações Exteriores da Suécia; e Programa Conhecimento para a Mudança (KCP) de múlti- plos doadores; e Orçamento para o Financiamento de Pesquisas do Banco Mundial. Os eventos de consulta foram realizados na Alemanha, Armênia, Bélgica, China, Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos, Estônia, Filipinas, Finlândia, França, Índia, Indonésia, Irlanda, Jamaica, Marrocos, Omã, Países Baixos, Paquistão, Quênia, Reino Unido, República Dominicana, República Árabe do Egito, Somália, Suécia, Suíça, Turquia e Vietnã com parti- cipantes de muitos outros países. Informações detalhadas sobre estes eventos podem ser consultadas no site http://www.worldbank.org/wdr2016/about. Consultas interdepartamen- tais foram realizadas com a Comissão Europeia, União Internacional de Telecomunicações, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, Comissão de Banda Larga das Nações Unidas, Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). As constatações iniciais do Relatório foram também discutidas em várias conferências e workshops, incluindo a Mesa-Redonda Brookings-Blum; Columbia University; iHub de Nairobi; Conferência Internacional de Economistas Agrícolas em Milão; Oxford Internet Institute; Conferência da Internet Enfocada nas Pessoas na Stanford University; Conferência de Ciência, Technologia e Inovação para o Desenvolvimento em Seul; Programa Sueco de Tecnologia da Informação e Comunicação nas Regiões em Desenvolvimento; Conferência UbuntuNet Alliance Connect em Moçambique; University of West Indies, em Mona, Jamaica; Departamento de Estado dos Estados Unidos; Fórum Econômico Mundial; e Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação. A equipe agradece os participantes de todos esses eventos pelos comentários e sugestões muito úteis. vii viii AGRADECIMENTOS Bruce Ross-Larson foi o editor-chefe do Relatório. A Equipe de Produção e Logística do Relatório foi constituída por Brónagh Murphy, Mihaela Stangu e Jason Victor com a colaboração de Laverne Cook, Gracia Sorenson, Roza Vasileva e Bintao Wang. Reboot foi o principal desenhista gráfico. Phillip Hay, Vamsee Krishna Kanchi, Mikael Ello Reventar e Roula Yazigi proporcionaram orientação sobre estratégia da comunicação. A Divisão de Publicação e Conhecimentos do Banco Mundial coordenou a revisão final, fotocomposição, design, impressão e divulgação do Relatório. Nancy Morrison e Dana Lane fizeram a revisão final do Relatório. Diane Stamm e Laura Wallace editaram os documentos sobre antecedentes e enquadramento de notas, respectivamente. Agradecimentos especiais a Denise Bergeron, Jose de Buerba, Mary Fisk, Yulia Ivanova, Patricia Katayama, Stephen McGroarty, Andres Meneses, Chiamaka Osuagwu, Stephen Pazdan e Paschal Ssemaganda, bem como Bouchra Belfqih e sua equipe da Unidade de Tradução e Interpretação, e à Unidade de Desenho de Mapas. A equipe deseja agradecer Vivian Hon, Jimmy Olazo e Claudia Sepúlveda por sua função de coordenação. Elena Chi-Lin Lee, Surekha Mohan e Joseph Welch coorde- naram a mobilização de recursos. Jean-Pierre Djomalieu, Gytis Kanchas, Nacer Megherbi, Manas Ranjan Parida e Pratheep Ponraj prestaram apoio de TIC. A equipe deseja agradecer várias pessoas por suas discussões criteriosas, incluindo Jenny Aker, George Akerlof, Robert Atkinson, David Autor, Arup Banerji, Eric Bartelsman, Vint Cerf, Carol Corrado, Claudia Maria Costin, Augusto de la Torre, Asli Demirgüç-Kunt, Shantayanan Devarajan, Laurent Elder, Marianne Fay, Francisco Ferreira, Torbjorn Fredriksson, Carl Frey, Haishan Fu, Mark Graham, Caren Grown, Ravi Kanbur, Jesse Kaplan, Loukas Karabarbounis, Phil Keefer, Michael Kende, Homi Kharas, Taavi Kotka, Aart Kraay, Arianna Legovini, Norman Loayza, Epp Maaten, Michael Mandel, James Manyika, Magdy Martinez‑Soliman, Njuguna Ndung’u, Nandan Nilekani, Ory Okolloh, Tapan Parikh, Rich Pearson, Lant Pritchett, Martin Rama, Vijayendra Rao, Ana Revenga, John Rose, Sudhir Shetty, Joseph Stiglitz, Randeep Sudan, Larry Summers, Jan Svejnar, Chad Syverson, Prasanna Tambe, Michael Thatcher, Hans Timmer, Kentaro Toyama, Nigel Twose, Bart van Ark, Tara Vishwanath, Stephanie von Friedeburg, Melanie Walker e Darrell West. Os colaboradores das seções destaque e enfoque setorial são: Robert Ackland, Wajeeha Ahmad, Hallie Applebaum, Joseph Atick, Amparo Ballivian, Adis Balota, Biagio Bossone, Karan Capoor, Mariana Dahan, Alan Gelb, Aparajita Goyal, Dominic S. Haazen, Naomi Halewood, Mia Harbitz, Todd Johnson, Anna Lerner, Dennis Linders, Arturo Muente-Kunigami, Urvashi Narain, Thomas Roca, Zlatan Sabic, Marcela Sabino, Randeed Sudan, Chris Sall, Kyosuke Tanaka, Tatiana Tropina, Michael Trucano e Darshan Yadunath. O Relatório utiliza documentos sobre antecedentes e notas preparadas por Karina Acevedo, Laura Alfaro, Maja Andjelkovic, Izak Atiyas, Ozan Bakis, Shweta Banerjee, Sheheryar Banuri, Johannes Bauer, Jessica Bayern, Zubair Bhatti, Miro Frances Capili, Xavier Cirera, Nicholas Crafts, Cem Dener, Joao Maria de Oliveira, Bill Dutton, Mark Dutz, Maya Eden, Ana Fernandes, Lucas Ferreira‑Mation, Rachel Firestone, Jonathan Fox, Paul Gaggl, Jose Marino Garcia, Elena Gasol Ramos, Tina George, Daphne Getz, Itzhak Goldberg, Martin Hilbert, Sahar Sajiad Hussain, Leonardo Iacovone, Saori Imaizumi, Ali Inam, Melissa Johns, Todd Johnson, Patrick Kabanda, Chris Kemei, Doruk Yarin Kiroglu, Barbara Kits, Ana Kochanova, Gunjan Krishna, Arvo Kuddo, Filipe Lage de Sousa, Michael Lamla, Victoria Lemieux, Emmanuel Letouzé, Zahra Mansoor, Francisco Marmolejo, Aaditya Mattoo, Samia Melhem, Michael Minges, Martin Moreno, Huy Nygen, Stephen O’Connell, Brian O’Donnell, Alberto Osnago, Tiago Peixoto, Mariana Pereira-Lopez, Gabriel Pestre, Sonia Plaza, Rita Ramalho, Dilip Ratha, Seyed Reza Yousefi, Said Mohamed Saadi, Leo Sabetti, Simone Sala, Deepti Samant Raja, David Sangokoya, Bessie Schwarz, Sophiko Skhirtladze, Elisabeth Tellman, Kristjan Vassil, Patrick Vinck, Joanna Watkins, Robert Willig, Min Wu, Maggie Xu, Emilio Zagheni e Irene Zhang. Todos os documentos sobre ante- cedentes para o Relatório estão disponibilizados no site http://www.worldbank.org/wdr2016 ou por meio do Escritório do WDR no Banco Mundial. AGRADECIMENTOS ix A equipe recebeu assessoria especializada durante várias rodadas de revisões de Christian Aedo, Ahmad Ahsan, Mohamed Ihsan Ajwad, Omar Arias, Cesar Baldeon, Morgan Bazilian, Kathleen Beegle, Luis Beneviste, Christian Bodewig, Stefanie Brodmann, Shubham Chaudhuri, Karl Chua, Massimo Cirasino, Amit Dar, Ximena del Carpio, Deon Filmer, Adrian Fozzard, Samuel Freije, Roberta Gatti, Caren Grown, Mary Hallward–Driemeier, Robert Hawkins, Joel Hellman, Mohamed Ibrahim, Leora Klapper, Luis Felipe Lopez Calva, Charlotte V. McClain-Nhlapo, Atul Mehta, Samia Melham, Claudio Montenegro, Reema Nayar, David Newhouse, Anna Olefir, Pierella Paci, Cecilia Paradi-Guilford, Josefina Posadas, Siddhartha Raja, Dena Ringold, David Robalino, Jan Rutkowski, Carolina Sanchez-Paramo, Joana Silva, Jin Song, Renos Vakis, Alexandria Valerio, João Pedro Wagner de Azevedo, Akeem Walji, Michael Weber e William Wiseman, bem como das regiões do Grupo Banco Mundial, práticas globais, áreas de soluções trans- versais, Departamento Jurídico, Grupo de Avaliação Independente e outras unidades. Muitas pessoas tanto de dentro como de fora do Grupo Banco Mundial ofereceram comentários úteis, fizeram outras contribuições e participaram de reuniões consulti- vas. A equipe gostaria de agradecer as seguintes pessoas: Jamal Al-Kibbi, Mavis Ampah, Dayu Nirma Amurwanti, James Anderson, Elena Arias, Andrew Bartley, Cyrille Bellier, Rachid Benmessaoud, Natasha Beschorner, Zubair Bhatti, Phillippa Biggs, Brian Blankespoor, Joshua Blumenstock, David Caughlin, Jean-Pierre Chauffour, Michael Chodos, Diego Comin, Pedro Conceição, Paulo Correa, Eric Crabtree, Prasanna Lal Das, Ron Davies, Valerie D’Costa, James Deane, Donato de Rosa, Niamh Devitt, Ndiame Diop, Dini Sari Djalal, Khalid El Massnaoui, Oliver Falck, Erik Feiring, Xin Feng, Nicolas Friederici, Doyle Galegos, Rikin Gandhi, John Garrity, Diarietou Gaye, Daphne Getz, Ejaz Syed Ghani, Soren Gigler, Chorching Goh, Itzhak Goldberg, Simon Gray, Boutheina Guermazi, Suresh Gummalam, Stefanie Haller, Nagy Hanna, Jeremy Andrew Hillman, Stefan Hochhuth, Anke Hoeffler, Bert Hofman, Mai Thi Hong Bo, Tim Hwang, William Jack, Sheila Jagannathan, Satu Kahkonen, Kai Kaiser, Jesse Kaplan, Rajat Kathuria, Anupam Khanna, Sturi Khemani, Zaki Khoury, Oliver Knight, Srivatsa Krishna, Kathie Krumm, Victoria Kwakwa, Somik Lall, Jason Lamb, Jessica Lang, Andrea Liverani, Steven Livingston, Augusto Lopez‑Claros, Muboka Lubisia, Sean Lyons, Sandeep Mahajan, Shiva Makki, Will Martin, Selina McCoy, Stefano Mocci, Mahmoud Mohieldin, Partha Mukhopadhyay, Pauline Mwangi, Gb Surya Ningnagara, Tenzin Norbhu, Tobias Ochieng, Varad Pande, Douglas Pearce, Oleg Petrov, Jan Pierskalla, Maria Pinto, Martin Raiser, Achraf Rissafi, Nagla Rizk, Michel Rogy, Gabriel Roque, Karen Rose, Carlo Maria Rossotto, Frances Ruane, Onno Ruhl, Umar Saif, Daniel Salcedo, Apurva Sanghi, Arleen Seed, Shekhar Shah, Fred Shaia, Shehzad Sharjeel, Gurucharan Singh, Rajendra Singh, Alexander Slater, Karlis Smits, Vicenzo Spezia, Christoph Stork, Younas Suddique, Abdoulaye Sy, Maria Consuelo Sy, Noriko Toyoda, Rogier van den Brink, Adam Wastaff, Ken Warman, Cynthia Wong, Bill Woodcock, Pat Wu, Elif Yonca Yukseker e Breanna Zwart. A equipe também se reuniu com representantes da sociedade civil e do setor pri- vado, incluindo: Airbnb; Alibaba (China); Babajob (Índia); Baidu (China); Diplo (Suíça); Economic and Social Research Institute (ESRI; Irlanda); Elance-oDesk (atualmente Upwork); eLimu (Quênia); Enterprise Ireland; the Estonian e-Governance Academy; Facebook; Google; Groupe Speciale Mobile Association (GSMA); Human Rights Watch; iHub de Nairobi; Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (ICANN); Internet Society; Khan Academy; Let’s Do It! (Estônia); Lyft; Maji Voice (Quênia); McKinsey Global Institute; Microsoft; National Association of Software and Services Companies (Índia); Nortal (Estônia); Olacabs (Índia); Postmaters; Rovio Entertainment (Finlândia); Souktel (Cisjordânia e Gaza); the Start-Up Jamaica Accelerator; TransferWise (Estônia, Reino Unido); Twitter e Uber. A equipe pede desculpas a indivíduos ou organizações cujos nomes tenham sido inad- vertidamente omitidos. Inclusão Eficiência Inovação VISÃO GERAL VISÃO GERAL Reforçando os fundamentos analógicos da revolução digital As tecnologias digitais espalharam-se rapidamente em grande parte do mundo. Os dividendos digitais – os benefícios mais amplos do desenvolvimento decorrentes do uso de tecnologias – ficaram para trás. Em muitos casos, as tecnologias digitais impulsionaram o crescimento, expandiram oportunidades e melhoraram a prestação de serviços. No entanto, seu impacto agregado ficou aquém do esperado e está distribuído de forma desigual. Para as tecnologias digitais beneficiarem a todos em todas as partes será necessário fechar o hiato digital restante, especialmente em matéria de acesso à internet. No entanto, maior adoção digital não será suficiente. Para conseguir o máximo da revolução digital, os países precisarão também empenhar-se nos “complementos analógicos” – reforçando as regulamentações que asseguram a concorrência entre as empresas, adaptando as aptidões dos trabalhadores às demandas da nova economia e assegurando que as instituições sejam responsabilizadas. As tecnologias digitais – internet, telefones celulares eletrônico de empresa-a-empresa, mediante a redu- e todas as outras ferramentas para coligir, armazenar, ção significativa dos custos de coordenação, impul- analisar e compartilhar informações digitalmente – siona a eficiência da economia chinesa e possivel- disseminaram-se rapidamente. Um maior número mente do mundo. A plataforma de pagamento digital de domicílios nos países em desenvolvimento dispõe M-Pesa, ao utilizar economias de escala com base mais de telefone celular do que de acesso à eletricidade na automação, gera inovação significativa no setor ou à água potável, e quase 70% do quinto mais pobre financeiro com enormes benefícios para os quenia- da população dos países em desenvolvimento têm nos e outros. Inclusão, eficiência e inovação – estes telefone celular. O número de usuários da internet são os principais mecanismos das tecnologias digi- mais do que triplicou em uma década – de um bilhão tais para promover o desenvolvimento. em 2005 para cerca de 3,2 bilhões no final de 2015.1 Embora haja muitos relatos de êxito, o efeito da Isto significa que as empresas, as pessoas e os gover- tecnologia sobre a produtividade global, expansão da nos estão mais conectados do que nunca (Figura VG.1). oportunidade para as pessoas de baixa renda e da classe A revolução digital trouxe benefícios privados imedia- média, bem como a generalização de governança res- tos, a saber, comunicação e informação mais fáceis, ponsável têm, até agora, ficado aquém da expectativa maior comodidade, produtos digitais gratuitos e novas (Figura VG.2).2 As empresas estão mais conectadas do formas de lazer. Criou também um sentimento pro- que nunca, mas o ritmo de crescimento da produti- fundo de conectividade social e comunidade global. vidade global tem diminuído. As tecnologias digitais Mas os investimentos maciços nas Tecnologias da estão mudando o mundo do trabalho, mas os merca- Informação e da Comunicação (TICs) geraram cresci- dos de mão de obra tornaram-se mais polarizados e a mento mais rápido, mais empregos e melhores servi- desigualdade está aumentando – especialmente nos ços? Os países estão realmente colhendo dividendos países mais ricos, porém cada vez mais nos países em digitais consideráveis? desenvolvimento. E embora aumente o número de A tecnologia pode ser transformacional. Ao supe- democracias, a parcela de eleições livres e justas está rar problemas complexos de informação, um sistema diminuindo. Essas tendências persistem, não devido de identificação digital como o Aadhaar da Índia, às tecnologias digitais, mas a despeito delas. ajuda os governos dispostos a promover a inclusão As tecnologias digitais vêm crescendo, mas não os de grupos desfavorecidos. O site Alibaba de comércio dividendos. Por que? Por duas razões. Primeiro, cerca VISÃO GERAL 3 Figura VG.1 As tecnologias digitais disseminaram-se rapidamente em grande parte do mundo a. Adoção digital b. Adoção digital c. Adoção digital pelas empresas pelas pessoas pelos governos 1,0 1,0 1,0 Média 0,8 0,8 0,8 global Média Média 0,6 0,6 global 0,6 global 0,4 0,4 0,4 0,2 0,2 0,2 0 0 0 100 1.000 10.000 100.000 100 1.000 10.000 100.000 100 1.000 10.000 100.000 PIB per capita (constante em US$ de 2005) PIB per capita (constante em US$ de 2005) PIB per capita (constante em US$ de 2005) Fonte: Equipe do WDR 2016. Consultar dados em: http://bit.do/WDR2016-FigO_1. Observação: A figura mostra a propagação das tecnologias digitais entre os países, medida pelo Índice de Adoção Digital, compilado para este Relatório e descritas em detalhes no Capítulo 5 do Relatório principal. PIB = Produto Interno Bruto. de 60% da população mundial ainda não estão on-line Os investimentos do setor público em tecnologias digi- e não podem participar da economia digital de modo tais, na ausência de instituições responsáveis, ampliam significativo. Segundo, alguns dos benefícios propor- a voz das elites, o que pode resultar em monopoliza- cionados pelas tecnologias digitais são anulados por ção de políticas e maior controle por parte do Estado. riscos emergentes (Figura VG.3). Muitas economias E como a economia da internet favorece monopólios avançadas enfrentam mercados de trabalho cada vez naturais, a ausência de um ambiente empresarial com- mais polarizados e crescente desigualdade – em parte petitivo pode resultar em mercados mais concentra- porque a tecnologia aumenta os empregos de maior dos, beneficiando as empresas constituídas. Como não qualificação, ao mesmo tempo em que substitui os é de surpreender, os mais instruídos, bem conectados e empregos rotineiros, obrigando muitos trabalhado- mais capazes têm recebido a maior parte dos benefícios res a competir por empregos de baixa remuneração. – limitando os ganhos da revolução digital. Figura VG.2 O pessimismo relacionado com a perspectiva global não acontece por causa das tecnologias digitais, mas a despeito delas a. Produtividade global b. Desigualdade global c. Governança global Média quinquenal de movimentação do Alteração do percentual da renda real de Percentagem de eleições livres e justas crescimento médio de produtividade da 1998 a 2008 em níveis diferentes de distribuição mão de obra por hora de trabalho da renda mundial a preços de 2003 em percentagem, em 87 países 6 90 100 70 75 4 50 50 30 2 25 10 0 –10 0 5 15 25 35 45 55 65 75 85 95 85 19 9 19 2 19 5 19 8 19 1 19 4 20 7 20 0 20 3 20 6 20 9 20 2 15 73 79 91 97 03 09 15 7 8 8 8 9 9 9 0 0 0 0 1 19 19 19 19 19 19 20 20 20 Percentil da distribuição de renda mundial Fontes: Painel a: Conselho Diretor (vários anos); Equipe do WDR 2016. Painel b: Lakner e Milanovic 2013. Painel c: Bishop e Hoeffler 2014. Consultar dados em: http://bit.do/WDR2016-FigO_2. 4 RELATÓRIO SOBRE O DESENVOLVIMENTO MUNDIAL DE 2016 Figura VG.3 Por que os dividendos digitais não se espalham rapidamente – e o que pode ser feito Tornando a Internet Hiato Conectividade Acessível Viável Aberta e segura Estratégia de Tecnologias Disseminação de benefícios desenvolvimento digitais digital INCLUSÃO EFICIÊNCIA INOVAÇÃO Dividendos Redução de riscos Complementos CONTROLE DESIGUALDADE CONCENTRAÇÃO Fonte: Equipe do WDR 2016. Maximizar os dividendos digitais requer melhor analógico sólido, constituído por regulamentações que compreensão do modo como a tecnologia interage com criem um clima vibrante de negócios e permitam às outros fatores importantes para o desenvolvimento – o empresas potenciar tecnologias digitais para compe- que o Relatório chama de “complementos analógicos”. tir e inovar; aptidões que permitam aos trabalhadores, As tecnologias digitais podem tornar tarefas rotineiras empresários e funcionários públicos aproveitar opor- com muitas transações drasticamente mais baratas, tunidades no mundo digital; e instituições responsáveis mais rápidas e mais convenientes. Mas a maioria das que utilizem a internet para capacitar os cidadãos. tarefas também tem um aspecto que não pode ser auto- O impacto de desenvolvimento de longo prazo não matizado e que requer discernimento humano, intuição é de modo algum definitivo por ser continuamente e critério. Quando a tecnologia é aplicada a tarefas auto- formado pela evolução da tecnologia (conectividade) matizadas sem equiparar melhorias nos complemen- e pela escolha, por parte dos países, de dispositivos tos, talvez não produza ganhos de base ampla. A revolu- econômicos, sociais e de governança (complementos).4 ção digital pode produzir novos modelos empresariais Os países que conseguirem ajustar‑se prontamente a que beneficiem os consumidores, mas não quando as essa economia digital em evolução colherão os maiores empresas constituídas controlam a entrada no mer- dividendos digitais, ao passo que os outros provavel- cado. A tecnologia pode tornar mais produtivos os mente ficarão para trás (Figura VG.3 e Box VG.1). trabalhadores, mas não quando carecem do know‑how Os três complementos – clima de negócios favorá- para utilizá-la. As tecnologias digitais podem ajudar a vel, capital humano sólido e boa governança – parece- monitorar a frequência dos professores e melhorar os rão familiares – e devem ser, porque são o fundamento resultados da aprendizagem, mas não quando o sis- do desenvolvimento econômico. Mas as tecnologias tema educacional carece de responsabilização.3 digitais acrescentam duas dimensões importantes. O que os países precisam fazer? Tornar a internet Primeiro, aumentam o custo da oportunidade de não universalmente acessível e economicamente viável empreender as reformas necessárias. Ampliam o deveria ser uma prioridade global. A internet, em sentido impacto das políticas boas (e más), de forma que deixar amplo, cresceu rapidamente, mas não é de modo algum de reformar significa ficar mais atrás daqueles que universal. Para cada pessoa conectada a uma banda larga reformam. No caso das tecnologias digitais, as possi- de alta velocidade, cinco não estão. Em âmbito mundial, bilidades aumentaram para os países em desenvolvi- cerca de quatro bilhões de pessoas não têm acesso à mento, os quais têm mais a ganhar do que os países de internet, quase dois bilhões não utilizam telefone celu- alta renda, mas também têm mais a perder. Segundo, lar, e quase meio bilhão vive fora de áreas com sinal embora as tecnologias digitais não sejam um atalho móvel. A tarefa inacabada de conectar todos à internet para o desenvolvimento, podem ser capacitadoras e – uma das metas dos recém-aprovados Objetivos de até mesmo aceleradoras ao melhorarem a qualidade Desenvolvimento Sustentável (ODS) – pode ser reali- dos complementos. Os registros on-line de empresas zada por meio de uma mescla criteriosa de concorrência facilitam a entrada no mercado para empresas novas e de mercado, parcerias público-privadas e regulamenta- inovadoras. O treinamento bem estruturado e baseado ção eficaz da internet e do setor de telecomunicações. na internet ajuda os trabalhadores a aprimorarem suas O acesso à internet é crucial, mas não suficiente. aptidões. Novas plataformas de mídia podem aumentar A economia digital também requer um fundamento a participação dos cidadãos. E os capacitadores digitais VISÃO GERAL 5 Box VG.1 Perguntas frequentes: Visão panorâmica do relatório Do que trata o Relatório? contribuir para um esvaziamento dos mercados de trabalho Examina o impacto da internet, telefones celulares e tec- e para o aumento da desigualdade. E o histórico precário de nologias correlatas sobre o desenvolvimento econômico. muitas iniciativas de governo eletrônico aponta para um alto A Parte  I mostra que os ganhos potenciais provenientes índice de fracasso de projetos de TIC e os riscos de que os das tecnologias digitais são elevados, mas frequentemente Estados e as corporações usem as tecnologias para controlar permanecem irrealizados. A Parte 2 propõe políticas para os cidadãos e não para aumentar sua autonomia. ampliar a conectividade, acelerar as reformas complementa- res em setores além da tecnologia da informação e comuni- O que os países precisam fazer para reduzir esses riscos? cação (TIC) e aborda problemas de coordenação global. A conectividade é vital, mas não suficiente para concretizar todos os benefícios do desenvolvimento. Os investimentos Quais são os dividendos digitais? digitais precisam do apoio dos “complementos analógicos”: Crescimento, empregos e serviços são os retornos mais regulamentações, para as empresas poderem aproveitar os importantes dos investimentos digitais. Os três primeiros recursos da internet a fim de competir e inovar; aptidões capítulos mostram como as tecnologias digitais ajudam as melhoradas, para as pessoas poderem tirar pleno proveito empresas a tornarem-se mais produtivas; as pessoas encon- das oportunidades digitais; e instituições responsáveis, tram empregos e maiores oportunidades; e os governos para os governos atenderem às necessidades e demandas prestam melhores serviços a todos. dos cidadãos. As tecnologias digitais podem, por sua vez, aumentar e reforçar esses complementos – e assim acelerar Como as tecnologias digitais promovem o ritmo do desenvolvimento. o desenvolvimento e geram dividendos digitais? Ao reduzirem os custos da informação, as tecnologias digitais O que precisa ser feito para conectar os não conectados? reduzem enormemente o custo das transações econômi- A concorrência do mercado, as parcerias público-privadas e a cas e sociais para as empresas, indivíduos e setor público. regulamentação eficaz da internet e das operadoras móveis Promovem a inovação quando os custos das transações caem incentivam o investimento privado que pode tornar o acesso a praticamente zero. Aumentam a eficiência à medida que as universal e economicamente viável. O investimento público atividades e os serviços existentes tornam-se mais baratos, será algumas vezes necessário e justificado por grandes mais rápidos ou mais convenientes. E aumentam a inclusão à retornos sociais. Uma tarefa mais difícil será garantir que a medida que as pessoas obtêm acesso a serviços que anterior- internet permaneça aberta e segura à medida que os usuá- mente estavam fora de seu alcance. rios enfrentem o crime cibernético, violações da privacidade e censura on-line. Por que o Relatório afirma que os dividendos digitais não estão se disseminando com a rapidez suficiente? Qual é a conclusão principal? Por duas razões. Primeiro, cerca de 60% da população mundial As estratégias de desenvolvimento digital precisam ser mais ainda não estão on-line e não podem participar plenamente da amplas do que as estratégias de TIC. A conectividade para economia digital. Há também hiatos digitais persistentes nas todos continua a ser uma meta importante e um enorme dimensões de gênero, geografia, idade e renda em cada país. desafio. Mas os países também precisam criar condições Segundo, alguns dos benefícios proporcionados pela internet favoráveis para a tecnologia ser eficiente. Quando houver estão sendo neutralizados por novos riscos. Interesses comer- ausência de complementos analógicos, o impacto sobre o ciais adquiridos, incerteza normativa e contestação limitada desenvolvimento será desapontador. Mas quando os países entre as plataformas digitais podem levar a uma concentração criam um fundamento analógico sólido, colhem dividendos nociva em muitos setores. A rápida expansão da automação, digitais amplos – em crescimento mais rápido, mais empre- mesmo nos empregos burocráticos de nível médio, pode gos e melhores serviços. – financiamento digital, identificação digital, mídia Indonésia colher os benefícios dos navios a vapor social e dados abertos – disseminam os benefícios em foram necessários 160 anos após sua invenção e toda a economia e sociedade, reforçando ainda mais a 60 anos para o Quênia ter eletricidade; mas somente interação entre a tecnologia e seus complementos. 15  anos para o Vietnã introduzir computadores. Os telefones celulares e a internet levaram apenas alguns Transformações digitais – anos. Nos países em desenvolvimento, os domicílios têm mais acesso à telefonia celular do que à eletrici- hiatos digitais dade ou ao saneamento tratado (Figura VG.4, painel a). A internet e as tecnologias correlatas chegaram aos O acesso maior à internet levou a uma explosão na países em desenvolvimento muito mais rapidamente produção e consumo da informação no mundo inteiro do que as inovações tecnológicas anteriores. Para a (Figure VG.4, painel b). No entanto, embora a internet 6 RELATÓRIO SOBRE O DESENVOLVIMENTO MUNDIAL DE 2016 Figura VG.4 A transformação digital em ação ocorre na África Subsaariana (73%) em comparação com 98% nos países de renda alta. Mas a adoção da a. As tecnologias digitais estão se disseminando rapidamente internet fica consideravelmente atrás: apenas 31% da nos países em desenvolvimento população dos países em desenvolvimento tinham 100 acesso em 2014 em comparação com 80% nos países de renda alta. A China tem o maior número de usu- 80 ários da internet, seguida pelos Estados Unidos; a Percentagem da população Índia, Japão e Brasil completam os cinco primeiros 60 lugares. O mundo visto da perspectiva do número de usuários da internet parece mais igual do que quando se vê na escala da renda (Mapa VG.1) – refletindo a 40 globalização rápida da internet. 20 Empresas conectadas A adoção da internet aumentou entre as empresas em todos os grupos de renda dos países. Em 2010-2014, 0 praticamente nove em cada 10 empresas nos países 1990 1995 2000 2005 2010 2015 de alta renda da OCDE (Organização para Cooperação Melhoria do abastecimento de água Telefone celular e Desenvolvimento Econômico) tinham conexão de Eletricidade Internet banda larga à internet em comparação com sete nos Ensino médio Banda larga móvel países de renda média e quatro nos países de renda Melhoria do saneamento baixa. No entanto, as taxas de adoção de tecnologias b. Um dia comum na vida da internet mais sofisticadas – tais como servidores seguros, rede de empresas, gestão de inventário e comércio eletrô- nico – são muito mais baixas na maioria dos países em desenvolvimento. 186 milhões de fotos no 152 milhões INSTAGRAM de telefonemas no 36 milhões Governos conectados SKYPE de compras no Os governos tornam-se cada vez mais digitais, e uma AMAZON parcela maior de empregos públicos nos países em 2,3 bilhões desenvolvimento usa mais intensamente a TIC do de GB de 803 milhões 8,8 bilhões TRÁFEGO de que o setor privado. Em 2014, todos os 193 Estados de vídeos NA WEB 4,2 bilhões TWEETS membros das Nações Unidas (ONU) tinham sites assistidos no de buscas no YOUTUBE GOOGLE nacionais: 101 capacitavam seus cidadãos a criar contas pessoais on-line, 73 a declarar imposto de 207 bilhões de E-MAILS renda e 60 a registrar uma empresa. Na maioria dos enviados principais sistemas administrativos mais comuns dos governos, 190  Estados membros tinham gestão Fontes: Indicadores de Desenvolvimento Mundial; (Banco Mundial, vários anos); Equipe do WDR 2016; financeira automatizada, 179  usavam esses sistemas http://www.internetlivestats.com/one-second/ (conforme compilado em 4 de abril de 2015). Consultar para processamento alfandegário e 159 para gestão de dados em http://bit.do/WDR2016-FigO_4. impostos. E 148 tinham certa forma de identificação Observação: No painel a, para alguns anos, os dados sobre eletricidade foram interpolados com base nos digital e 20 tinham plataformas de identificação digi- dados disponíveis. GB = gigabytes. tal para múltiplas finalidades. Até agora, os países em desenvolvimento têm investido mais na automação tenha atingido rapidamente quase todos os países, a de funções burocráticas do que em serviços destina- intensidade de seu uso tem sido mais baixa nos países dos aos cidadãos e às empresas. mais pobres – em grande parte por não se ter dissemi- nado tão amplamente nesses países. E apesar de mui- Persiste o hiato no acesso e uso digitais tos exemplos excelentes do uso de novas tecnologias A vida da maioria dos habitantes do mundo continua em nos países em desenvolvimento, as economias avança- grande parte intocada pela revolução digital. Somente das as têm usado de forma ainda mais eficiente.5 cerca de 15% têm condição econômica para dispor de internet de banda larga. Telefones celulares, utilizados Pessoas conectadas por quase quatro quintos da população mundial, ofere- Em média, oito em cada 10 habitantes do mundo em cem a principal forma de acesso à internet nos países desenvolvimento têm telefone celular, e esse número em desenvolvimento. Mas mesmo assim, cerca de dois está crescendo continuamente. Mesmo no quintil bilhões de pessoas não têm telefonia celular, e quase mais pobre da população, cerca de 70% têm telefone 60% da população mundial não têm acesso à internet. celular. A penetração mais baixa da telefonia móvel A população off-line do mundo está principalmente VISÃO GERAL 7 Mapa VG.1 A Internet está distribuída de maneira mais uniforme do que a renda a. Baseada na renda nacional, 2014 b. Baseada na população de usuários da Internet, 2014 IBRD 42010 Fonte: Banco Mundial. Consultar dados em: http://bit.do/WDR2016-MapO_1. Observação: O tamanho dos países está refletido em escala proporcial à renda national e população na internet. Quanto mais escura a sombra, mais elevada a renda nacional (painel a; PIB segundo taxas de câmbio do mercado) e mais numerosa a população usuária da internet (painel b). na Índia e na China, porém mais de 120 milhões ainda urbanas estão diminuindo para os telefones celulares, estão off-line na América do Norte (Figura VG.5). mas aumentando para a internet. Na África, o hiato O hiato digital no interior dos países pode ser tão digital entre os grupos demográficos permanece alto como entre os países. Em âmbito mundial, cerca considerável (Figura VG.6, painel a). As mulheres têm de 21% dos domicílios incluídos nos 40% da faixa menos probabilidade de usar ou possuir tecnologias inferior da distribuição da renda não têm acesso a um digitais. As lacunas são maiores entre os jovens (20%) telefone celular, e 71% não têm acesso à internet. As e as pessoas com mais de 45 anos de idade (8%). lacunas de adoção entre os 40% da faixa inferior e os A maior conectividade tem tido efeito limitado na 60% da faixa superior e entre as populações rurais e redução da desigualdade na informação. Por exemplo, 8 RELATÓRIO SOBRE O DESENVOLVIMENTO MUNDIAL DE 2016 Figura VG.5 A internet continua indisponível, inacessível e fora do alcance econômico para a maioria da população mundial a. Acesso da população à TIC b. Uma visão mais direta da população mundial off-line Total da população global ~7,4 bilhões Congo, Rep. Dem. do México 68 milhões Filipinas 63 milhões Etiópia 70 milhões Federação Russa 95 milhões 55 milhões Brasil República Islâmica do Irã Dentro da 98 milhões 54 milhões cobertura móvel Nigéria Mianmar 111 milhões 7 bilhões 53 milhões Bangladesh Vietnã 148 milhões 52 milhões Paquistão Estados Unidos 165 milhões 51 milhões Telefones celulares Indonésia Tanzânia 49 milhões 5,2 bilhões 213 milhões Tailândia China 48 milhões 755 milhões República Árabe do Egito 42 milhões Turquia 41 milhões Total de Índia Total de Países usuários da internet fora dos 1,063 bilhão usuários da internet 20 primeiros 3,2 bilhões 3,2 bilhões Internet de Internet de alta velocidade alta velocidade 1,1 bilhão 1,1 bilhão Fontes: Banco Mundial 2015; Meeker 2015; ITU 2015; GSMA, https://gsmaintelligence.com/; UN Population Division 2014, http://esa.un.org/unpd/wup/DataQuery/. Consultar dados em: http://bit.do/WDR2016-FigO_5. Observação: A banda larga de alta velocidade inclui o número total de assinaturas de banda larga de linha fixa (tais como DSL, modelos a cabo, fibra ótica) e o número total de assinaturas móveis com 4G/LTE, menos um fator de correção para permitir assinaturas com os dois tipos de acesso. 4G = quarta geração; DSL = linha de assinatura digital; TIC = tecnologia da informação e comunicação; LTE = evolução de longo prazo. há mais contribuições para a Wikipedia provenien- entre os 20% da faixa superior da renda nos países tes da de Hong Kong SAR, China, do que de todas as mais conectados da UE têm 45 vezes maior probabili- regiões da África combinadas, embora a África tenha dade de utilizar os serviços eletrônicos do que os 20% 50 vezes mais usuários da internet.6 O volume de da faixa inferior da renda no país menos conectado da informações publicado na web e sua origem cor- UE (Figura VG.6, painel b). No interior dos países, o respondem com frequência ao que se vê também uso maior do governo eletrônico por indivíduos está no mundo off-line. Por exemplo, 85% do conteúdo vinculado à educação, emprego, residência urbana, gerado pelos usuários indexados pelo Google provêm sexo masculino e acesso à banda larga. dos Estados Unidos, Canadá e Europa, semelhante à parcela das publicações científicas globais oriundas desses países. De fato, a informação produzida e con- sumida na economia digital tem pouco impacto no Como a internet promove número de usuários de tecnologias digitais. Tendo em o desenvolvimento vista que um quinto da população mundial é analfa- beto, por si só a disseminação das tecnologias digitais As tecnologias digitais ampliaram drasticamente a tem pouca probabilidade de significar o fim do hiato base da informação, reduziram os custos da informa- do conhecimento global. ção e criaram bens relacionados com a informação. Os países que superaram o hiato de acesso digital Isso facilitou a busca, correspondência e compartilha- enfrentam com frequência um novo hiato nas capa- mento da informação e contribuiu para uma maior cidades digitais. Na União Europeia (UE), há maior organização e colaboração entre os agentes econô- probabilidade de as empresas utilizarem a internet micos – influenciando o modo como as empresas do que os cidadãos para interagir com o governo. Os operam, como as pessoas procuram oportunidades cidadãos usam o governo eletrônico principalmente e como os cidadãos interagem com os respectivos para obter informação e não para fazer transações governos. As mudanças não se limitam a transações com o governo. E o uso que fazem do governo ele- econômicas – influenciam também a participação trônico é altamente desigual – os cidadãos situados das mulheres na força de trabalho, na facilitação da VISÃO GERAL 9 Figura VG.6 O hiato digital no acesso é elevado na África, ao passo que o hiato em capacidade é alto na União Europeia a. África b. União Europeia O hiato digital no país pode ser significativo Os domicílios pobres utilizam o governo eletrônico menos do que os ricos a. Africa b. European Union 25 100 % de indivíduos (16-74 anos de idade) Indivíduos com acesso à internet (%) 20 80 15 60 10 40 45:1 5 20 0 0 Faixa Mais Adultos Jovens Zona Zona Mulheres Homens inferior elevada 0 20.000 40.000 60.000 80.000 (45+) (15–24) rural urbana 40% 60% PIB per capita (US$) Distribuição Idade Localização Gênero da renda Quartil de alta renda Segundo quartil (Por domicílio) Terceiro quartil Quartil inferior Fontes: Equipe do WDR 2016, com base nos dados da Research ICT Africa (vários anos), ITU e Eurostat (CE, vários anos). Consultar dados em: http://bit.do/WDR2016-FigO_6. Observação: Para maiores detalhes, ver a Figura 2.4 do Relatório completo. comunicação para deficientes e a forma como as pes- Figura VG.7 A internet promove o desenvolvimento soas usufruem o seu lazer. Ao superarem as barreiras por meio de três mecanismos principais da informação, aumentarem os fatores e transforma- rem produtos, as tecnologias digitais podem tornar o TECNOLOGIAS desenvolvimento mais inclusivo, eficiente e inovador DIGITAIS (Figura VG.7 e Box O.2). O Destaque 1 do Relatório completo examina os vínculos entre estes três meca- nismos nas publicações econômicas mais amplas. A internet promove a inclusão Antes do surgimento da internet, certas transações Busca e Automação e Economias de escala eram tão caras que não havia mercado para elas. Dois informação coordenação e plataformas tipos de transações enquadram-se nesta categoria. O primeiro é quando duas partes de uma transação potencialmente benéfica simplesmente não se conhe- ciam e enfrentavam custos exorbitantemente altos de INCLUSÃO EFICIÊNCIA INOVAÇÃO pesquisa e informação. O segundo é quando uma parte dispunha de muito mais informação do que a outra. Nas publicações sobre economia, essas situações são Fonte: Equipe do WDR 2016. conhecidas como assimetrias da informação entre compradores e vendedores e, na ausência de confiança uma pequena empresa que não possa se vincular a e transparência, muitas transações não se realizam. um comprador potencial em outro país e não sabe Ao reduzirem o custo da aquisição de informação se pode confiar em um novo parceiro de negócios. e ao tornarem mais transparente a informação dispo- Ou um profissional autônomo disposto a realizar nível, as tecnologias digitais podem permitir novas pequenas tarefas por determinado preço. Ou uma transações.7 Consideremos um agricultor pobre que dona de casa que busca alugar um quarto vazio a não tenha acesso ao crédito porque o mutuante não visitantes locais. Ou grupos demográficos remotos ou tem meios de avaliar sua capacidade creditícia. Ou marginalizados que estão fora do alcance dos serviços 10 RELATÓRIO SOBRE O DESENVOLVIMENTO MUNDIAL DE 2016 Box VG.2 Comércio eletrônico com características chinesas: Inclusão, eficiência e inovação nas aldeias Taobao O crescimento dinâmico e a rápida disseminação do comér- operam plataformas de empresa a empresa. Facilitam o cio eletrônico na China são muito bem ilustrados pelo fenô- comércio intraindustrial e interindustrial no setor de produ- meno Shaji. A economia de Dongfeng, na cidade de Shaji ção chinês já eficiente e no setor de exportações. Facilitam (Província Jiangsu), passou da suinocultura na década de também para as empresas estrangeiras vender na China. 1980 para a reciclagem de resíduos de plástico na década de Os consumidores beneficiam-se da maior seleção e conveni- 1990. Em 2006, um migrante da aldeia retornou para abrir ência de sites de varejo on-line. O comércio on-line não ape- uma loja on-line para vender móveis simples. Seu sucesso nas ajudou a aumentar a renda rural, mas também tornou incentivou outros moradores a fazerem o mesmo e, no fim mais eficiente o modo de fazer compras. O poder aquisitivo de 2010, a aldeia tinha seis fábricas de processamento de nas áreas rurais é apenas um terço do poder aquisitivo nas tábuas, duas fábricas de peças de metal, 15 empresas de cidades, mas o consumo agregado dos 650  milhões de logística e remessa e sete lojas de computação que atendiam residentes rurais da China é vasto, contribuindo para a meta a 400 domicílios dedicados a vendas on-line em toda a China nacional de passar de uma economia impulsionada pela e até mesmo nos países vizinhos. Shaji foi uma das primeiras exportação e investimento para uma economia mais base- “aldeias Taobao” – assim chamadas devido a uma plata- ada no consumo. E o surto do comércio on-line deu origem forma de compras on-line dirigida pelo Grupo Alibaba – na a muitas empresas de logística que fazem entregas rápidas qual pelo menos 10% dos domicílios dedicam-se ao comércio – às vezes de bicicleta nas cidades e aldeias. on-line.a As aldeias Taobao e o surgimento do comércio ele- trônico na China, de modo geral, ilustram como a internet Inovação. A Taobao e outras plataformas de comércio promove a inclusão, eficiência e inovação. eletrônico são exemplos de inovação gerada pelas economias de escala que surgem quando os custos das transações caem Inclusão. Embora as economias das áreas urbanas costeiras da drasticamente. Como essas plataformas são altamente China tenham crescido rapidamente nas últimas três décadas, automatizadas, as taxas podem ser mantidas baixas e as as partes rurais e ocidentais do país ficaram para trás. Mas os operações são frequentemente financiadas somente pela grandes investimentos da China na conectividade rural estão publicidade. Alguns problemas não podem ser facilmente começando a dar resultados. Mais de 90% das aldeias terão resolvidos apenas pela automação, tais como a criação de acesso de banda larga fixa até o fim de 2015. O comércio confiança no mercado e prevenção da fraude. Classificações on-line tem permitido às pequenas cidades e aldeias participar on-line, serviços de contas bloqueadas e mecanismos de da economia nacional e até mesmo global. No fim de 2014, solução de conflitos tratam desses problemas. Um dos ativos havia mais de 70 mil comerciantes em 200 aldeias Taobao e mais valiosos acumulados pelo Alibaba e outros operadores muitos mais nas outras áreas rurais. Em sua maioria, as lojas de comércio eletrônico são os dados. Cada transação são pequenas, tendo em média 2,5 empregados. Cerca de um contribui para um melhor conhecimento da economia e do terço dos proprietários são mulheres, e um quinto estavam comportamento dos consumidores. Essa informação apoia anteriormente desempregados. Cerca de 1% é deficiente físico. novas linhas de negócios, tais como estender o crédito a Um dos principais “empresários de internet” do Alibaba, confi- pequenas empresas com base em avaliações automatizadas nado a uma cadeira de rodas após um acidente, construiu um da capacidade creditícia. Isso também pode promover próspero negócio de pecuária on-line. a inclusão financeira. No início de 2015, por exemplo, a Ant Financial do Alibaba fez parceria com a Corporação Eficiência. Além do site Taobao de comércio eletrônico Financeira Internacional para expandir o crédito a mulheres para consumidores, o Alibaba e outras firmas chinesas empresárias na China. Fontes: Equipe do WDR 2016, com base nas informações obtidas de relatórios do Centro Estatal de Informações da China, China Association for Employment Promotion e da empresa Alibaba. a. http://www.alizila.com/report-taobao-villages-rural-china-grow-tenfold-2014. prestados pelos governos. Em todos estes casos, um mercado: expansão do comércio, criação de empregos problema fundamental de informação dificulta fazer e aumento do acesso a serviços públicos – e, portanto, um negócio de equiparação. Registros de telefones promoção da inclusão.8 celulares, comércio eletrônico de empresa a empresa, economia de compartilhamento, mecanismos de A internet promove a eficiência reputação on-line e sistemas de identificação digi- Talvez o maior impacto tenha sido nas transações exis- tal, todos podem ajudar a superar essas barreiras da tentes antes da chegada da Internet, cuja realização é informação. Ao tornarem o mercado mais eficiente, o agora mais rápida, mais barata ou mais conveniente. maior benefício parece ser seus efeitos de criação de Esse mecanismo opera de duas formas. Primeiro, a VISÃO GERAL 11 redução drástica do preço das tecnologias digitais Figura VG.8 Muitas transações digitais utilizam todos levou as empresas e os governos a substituírem fato- os três mecanismos e um mercado bilateral res existentes – mão de obra e capital não relacionado com a TIC – por capital das TICs e automação de INOVAÇ ÃO algumas de suas atividades. As companhias aéreas uti- lizam sistemas de reservas on-line para lotar os aviões. Os supermercados substituem as caixas por balcões de Plataformas pagamento automatizado. Os fabricantes usam inven- tário em tempo real e sistemas de gestão da cadeia de suprimentos. E os governos investem em sistemas de gestão da informação e oferecem serviços on-line em INC LUSÃO EFIC IÊNC IA uma ampla série de tarefas – desde a emissão de car- teiras de motorista à declaração de impostos. Vendedores Compradores Segundo, as tecnologias digitais aumentam os fatores não substituídos e os tornam mais produti- Economia de Motoristas, anfitriões Passageiros, vos. Ajudam os gerentes a supervisionar melhor seus compartilhamento hóspedes e e autônomos trabalhadores, os políticos a monitorar os prestadores por demanda pequenas empresas de serviços e os trabalhadores a ser mais produtivos, Empregadores, Pessoas que buscam aumentando assim os retornos de seu capital humano. Plataformas companhias aéreas emprego, viajantes, Ao agilizar tarefas e aumentar a produtividade de empresários e artistas equiparadas e hotéis, investidores fatores existentes, a internet pode aumentar enor- e consumidores memente a eficiência econômica das empresas, dos Comerciantes e Comércio eletrônico Clientes e remetentes (dinheiro) e pagamentos recebedores (dinheiro) trabalhadores e dos governos. digitais A internet promove inovação Fonte: Equipe do WDR 2016. O caso extremo da eficiência é quando as transações são executadas automaticamente, sem participação modelo de “mercado bilateral”. As plataformas aproxi- humana, e os custos das transações caem essencial- mam compradores a vendedores ou um usuário de um mente a zero. Este é o mundo da “nova economia”, como serviço a um fornecedor. Em um serviço de transporte plataformas de busca ou de comércio eletrônico, siste- solidário a plataforma conecta automaticamente moto- mas de pagamento digital, livros eletrônicos, transmis- ristas e passageiros (inovação); o motorista tira pro- são de músicas e mídia social. O custo fixo da constru- veito de uma atividade flexível de obtenção de renda ção de uma plataforma pode ser grande, mas o custo não acessível de outra forma (inclusão); e o passageiro marginal de fazer outra transação ou acrescentar outro beneficia-se de maior conveniência e, com frequência, usuário é mínimo. Isso faz surgir crescentes retornos de preços mais baixos (eficiência). Financiamento à escala, o que incentiva novos modelos de negócios e coletivo on-line, adequação entre oferta e procura de oferece uma vantagem importante a empresas on-line empregos, compartilhamento de sala e sites de música que concorrem com suas contrapartes off-line. O custo operam de forma semelhante (Figura VG.8). marginal zero atrai novos vendedores e compradores à plataforma da empresa criando efeitos virtuosos de rede na qual o benefício a um comprador aumenta à Os dividendos: Crescimento, medida que mais vendedores participem e vice-versa. empregos e prestação Um site de leilão atrai mais licitantes quanto mais os vendedores o utilizarem e um motor de busca aprende de serviços e se torna mais útil à medida que são feitas mais Os benefícios das tecnologias digitais filtram-se atra- buscas. A escala e os custos marginais zero também vés da economia (Figura VG.9). No caso das empresas, explicam por que muitos dos sites das redes sociais a internet promove inclusão de firmas na economia passaram a ser os veículos preferidos da mobilização mundial mediante a expansão do comércio, aumenta social e dos protestos políticos. Ao possibilitar a comu- a produtividade do capital e intensifica a concorrência nicação quase sem atrito e com colaboração, a internet no mercado, o que, por sua vez, induz a inovação. Leva pode apoiar novos modelos de prestação de serviços, oportunidades aos domicílios mediante a criação de incentivar a ação coletiva e acelerar a inovação. empregos, potencializa o capital humano e produz O WDR 2016 apresenta muitos exemplos de como superávit para o consumidor. Capacita os cidadãos a a internet promove inclusão, eficiência e inovação. Na acessar serviços públicos, fortalece a capacidade do economia da internet os três mecanismos frequente- governo e atua como plataforma para os cidadãos mente agem em conjunto. Assim o mapeamento de enfrentarem problemas que requerem ação coletiva. indivíduo a indivíduo constante da Figura VG.7 simpli- Os benefícios não são automáticos nem garantidos, fica uma realidade mais complexa. Muitas empresas mas em muitos casos as tecnologias digitais podem ou serviços da internet utilizam uma plataforma ou proporcionar ganhos significativos. 12 RELATÓRIO SOBRE O DESENVOLVIMENTO MUNDIAL DE 2016 Figura VG.9 Como os três mecanismos aplicam-se infraestrutura de um país – e um fator de produção às empresas, às pessoas e aos governos em quase todas as atividades da economia moderna. Portanto, no nível agregado é difícil isolar o impacto TECNOLOGIAS das tecnologias digitais. Uma análise no nível das DIGITAIS empresas proporciona um quadro mais confiável.9 A internet permite a muitas pequenas empresas parti- cipar do comércio global, levando assim a uma maior inclusão; torna o capital existente mais produtivo, aumentando a eficiência e, ao estimular a concorrên- INCLUSÃO EFICIÊNCIA INOVAÇÃO cia, incentiva a inovação. Expansão do comércio Utilização NEGÓCIOS Comércio Concorrência A internet possibilita que mais produtos sejam expor- de capital tados a um maior número de mercados, frequen- Oportunidades Produtividade Bem-estar dos temente por parte de empresas mais novas e mais PESSOAS de emprego da mão de obra consumidores jovens. Observa-se que um aumento de 10% no uso da internet no país exportador aumenta em 0,4% o Capacidade GOVERNOS Participação Voz número de produtos comercializados entre dois paí- do setor público ses. Um aumento semelhante no uso da internet por Fonte: Equipe do WDR 2016. parte de dois países aumenta em 0,6% o valor médio do comércio bilateral por produto.10 As empresas que A internet pode levar a mais comércio, vendem no eBay no Chile, Jordânia, Peru e África do melhor uso do capital e maior Sul são mais jovens do que as empresas que operam concorrência nos mercados off-line.11 No Marrocos, artesãos da O setor de TIC é uma parte razoavelmente modesta zona rural, alguns analfabetos, vendem globalmente da economia global. Sua parcela do PIB gira em torno por meio da plataforma de artesanato Anou. Na outra de 6% nos países membros da OCDE e considera- extremidade do espectro estão as empresas que ven- velmente menos nos países em desenvolvimento dem em sites de comércio eletrônico global – tais (Figura VG.10, painel a). Nos Estados Unidos, sede de como Alibaba – em um mercado on-line que pode oito das 14 maiores empresas de tecnologia por renda, chegar a mais de US$ 6 trilhões nos próximos cinco a contribuição do setor de TIC para o PIB é cerca de anos. As plataformas on-line superam problemas de 7%. A percentagem correspondente à Irlanda é 12% confiança e informação por meio de feedback e siste- – país que não se vangloria de um Silicon Valley pró- mas de classificação e com a oferta de mecanismos prio, mas atrai muitas empresas estrangeiras graças a de depósito em garantia e solução de controvérsias. seu ambiente empresarial competitivo e taxas tribu- Um comércio mais fácil de produtos intermediários tárias favoráveis. No Quênia, sede de um dos maiores incentiva uma maior “desvinculação” de processos de setores de TIC da África, a parcela do valor agregado produção, não somente nos mercados de bens mas de serviços de TIC no PIB foi 3,8% em 2013. também de serviços.12 Empresas da Índia, Jamaica e A contribuição do capital de TIC para o crescimento Filipinas captaram uma parcela desses mercados glo- do PIB tem sido muito constante nas duas últimas bais de serviços que variam de serviços internos tra- décadas. Nos países de alta renda caiu de 0,7 pontos dicionais a ensino individualizado on-line à distância. percentuais em 1995-1999 para 0,4 pontos percentu- ais em 2010-2014 (Figura VG.10, painel b). Nos países Melhoria da utilização do capital em desenvolvimento, a contribuição do capital de Talvez a maior contribuição para o crescimento pro- TIC para o crescimento do PIB foi bastante modesta venha do fato de a internet reduzir os custos e assim – cerca de 15% de crescimento – refletindo uma ado- aumentar a eficiência e a produtividade da mão de obra ção digital mais baixa. Graças à rápida divulgação das em praticamente todos os setores econômicos. Uma tecnologias digitais nos países em desenvolvimento, melhor informação ajuda as empresas a usar melhor a essa cifra poderá aumentar no futuro. Além disso, as capacidade existente, otimiza o inventário e a gestão da contribuições indiretas do capital da TIC para o cres- cadeia de suprimentos, reduz o tempo de paralisação cimento econômico, por meio de melhorias da produ- do equipamento principal e diminui o risco. No setor tividade total dos fatores (TFP), também poderão ser das linhas aéreas, algoritmos sofisticados de reserva grandes, embora ainda não se perceba uma evidência e preços aumentaram os fatores de carga em cerca de rigorosa de vinculação entre ambos. um terço para os voos domésticos dos Estados Unidos A rápida adoção das tecnologias digitais na econo- de 1993 a 2007. A UPS, empresa de entregas de enco- mia significou que seus benefícios estão amplamente mendas, é famosa pelo uso de algoritmos de criação de disseminados e que é difícil estimar seus impactos rotas inteligentes para evitar desvios, economizando indiretos no crescimento. Tal como a energia ou o tempo e cerca de 4,5 milhões de litros de combustí- transporte, a internet tornou-se parte essencial da vel por ano. Muitos varejistas atualmente integram VISÃO GERAL 13 Figura VG.10 O tamanho do setor de TIC e sua contribuição para o crescimento do PIB ainda são relativamente modestos a. Parcela do PIB, países da OCDE, 2011 b. Contribuição para o crescimento do PIB, 1995–2014 14 7 12 6 10 5 Percentagem Percentagem 8 4 6 3 4 2 2 1 0 0 Ja ia in Su o U a do un o bu s Es rgo Su n i a pú a E ân a bl sl dia D Tc ca a an a Al Fra á a G da cia pa ia Bé ha ân a Po dia r a u l ia C da Lu s U gria ol a l o lia Áu ega or a m o Po lôni pã C arc Isl gic ta H nid o íç Re blic Finl éci am c ad em nç H anh N tug 9 4 9 4 9 4 20 09 4 e Es vên str xe nid a in he E s Itá n an da lan ré or tô –9 –0 –0 –1 –9 –0 –1 ica ov l – Ir 95 00 05 10 95 00 05 10 19 20 20 20 19 20 20 Re ica Es bl Países desenvolvidos Países em pú pú Re Re Média da OCDE (6%) desenvolvimento Capital de TIC Todos os outros fatores Fontes: OCDE 2014; Banco de Dados da Economia Total do Conselho Diretor, janeiro de 2014; Equipe do WDR 2016. Consultar dados em: http://bit.do/WDR2016-FigO_10. Observação: PIB = produto interno bruto; TIC = Tecnologias da Informação e Comunicação: OCDE = Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. seus fornecedores em uma cadeia de fornecimento Figura VG.11 As empresas vietnamitas em tempo real para manter um inventário de baixo que utilizam o comércio eletrônico custo. Empresas vietnamitas que utilizam o comércio têm maior crescimento da TFP 2007-2012 eletrônico obtiveram, em média, um crescimento da 4 Produtividade Global dos Fatores (TFP) de 3,6 pontos percentuais maior do que as firmas que não o utilizam 3 (Figura  VG.11). Fabricantes chineses de automóveis Percentagem que utilizam a internet de forma mais sofisticada movimentam seus estoques cinco vezes mais rapida- 2 mente do que seus concorrentes menos experientes. E Botsuana e o Uruguai mantêm uma identificação 1 exclusiva e sistemas de rastreamento da pecuária que atendem aos requisitos para exportadores de carne 0 bovina para a União Europeia (UE), tornando, ao Efeito do crescimento Efeito do da produtividade crescimento mesmo tempo, o processo mais eficiente. da mão de obra da TFP Comércio eletrônico Promoção da concorrência Uso da internet Quando serviços totalmente automatizados, basea- Fonte: Nguyen e Schiffbauer 2015 para o WDR 2016. Consultar dados em: dos na internet, reduzem a zero os custos marginais http://bit.do/WDR2016-FigO_11. das transações, as consequências para a estrutura do Observação: Para maiores detalhes ver a Figura 1.9 do Relatório completo. mercado são um tanto ambíguas. Custos marginais TFP = produtividade global dos fatores. baixos implicam grandes economias de escala, as em parte porque as empresas estão melhorando em quais favorecem monopólios naturais. No mundo termos de discriminação de preços – oferecendo dife- off-line, fatores como produção de eletricidade com rentes preços a diferentes consumidores com base no frequência requerem certa forma de regulamentação histórico de buscas, localização geográfica ou outra para proteger os interesses dos consumidores. Mas informação compilada sobre compradores. as características dos serviços baseados na internet A internet também pode facilitar a entrada no também podem incentivar a concorrência. Sites de mercado. As empresas da internet podem ser criadas e comparação de preços, por exemplo, devem reduzir ampliadas rapidamente com relativamente pouca dota- os preços para os consumidores, embora a evidência ção de pessoal ou com pouco investimento de capital. indique que persiste a dispersão de preços na internet, A computação nas nuvens – serviços de arrendamento 14 RELATÓRIO SOBRE O DESENVOLVIMENTO MUNDIAL DE 2016 de computação e armazenagem de dados – reduz os É difícil quantificar esses benefícios, mas a avaliação custos das empresas emergentes e permite às empresas qualitativa da evidência demonstra que os benefícios se aumentar a capacidade de acordo com a necessidade, o acumulam mais para aqueles que estão em melhor situ- que também reduz o risco para os investidores. Embora ação financeira (Tabela VG.1). As pessoas  com capaci- muitas empresas da internet pareçam operar em mer- dade para aproveitar a tecnologia terão vantagem. Mas cados separados, a maior parte, senão todas, concorre até mesmo as pessoas de baixa renda beneficiam-se de com empresas off-line. Aplicativos de envio de mensa- certa forma por meio da criação indireta de empregos e gens instantâneas concorrem com empresas de teleco- melhor acesso ao trabalho e aos mercados. Quando os municações; motores de busca e sites da mídia social governos e o setor privado aumentarem sua capacidade concorrem com a mídia tradicional na busca de receita de ajustar os serviços digitais aos pobres, esses ganhos com publicidade; empresas de comércio eletrônico provavelmente serão maiores. concorrem com empresas convencionais; e dinheiro móvel concorre com bancos tradicionais. Inovações Criação de empregos resultantes dessa concorrência on-line geralmente O número de empregos diretos criados pelas tecnolo- beneficiam os consumidores, especialmente quando gias digitais é bastante modesto, mas o número que elas os mercados off-line sofrem deterioração. Empresas de propiciam pode ser grande. Nos países em desenvolvi- serviços de transporte, tais como Uber, Lyft, Olacabs e mento, o setor de TIC responde em média por cerca 1% Didi-Kuaidi Dache têm perturbado os mercados de táxi da força de trabalho apenas: menos de 0,5% na Bolívia que tendem a ser excessivamente controlados com res- e em Gana e um pouco menos de 2% na Colômbia e trição de entrada e altos preços. De modo semelhante a Sri Lanka. Nos países da OCDE cerca de 3% a 5% dos TransferWise e a Xoom têm reduzido os rendimentos empregos estão neste setor. O Instagram, um apli- regulamentados no setor financeiro e diminuído em cativo de compartilhamento de fotos, tinha somente até 90% os preços de transferências monetárias inter- 13 empregados em 2012 quando foi comprado pelo nacionais. Em Uganda, a eKeebo permite a chefes de Facebook por US$ 1 bilhão. Naquela época, o Facebook cozinha independentes ou amadores fornecer e com- tinha 5.000 funcionários – em comparação com 145 partilhar refeições feitas em casa, evitando as licenças mil da Kodak na década de 1990, seu auge em filmes de operação de restaurante. fotográficos. Mas o valor de mercado do Facebook é várias vezes o valor que a Kodak tinha àquela época.13 A internet apoia a criação de empregos Os empregos em TIC, contudo, tendem a pagar bem e torna os trabalhadores mais produtivos e cada emprego de alta tecnologia gera 4,9  empregos As pessoas têm um enorme desejo de se comunicar e adicionais em outros setores nos Estados Unidos.14 No se conectar. O ganho de bem-estar pessoal obtido com o Quênia, o sistema de pagamento digital M-Pesa cria acesso à tecnologia digital é obviamente muito grande. renda adicional para mais de 80 mil agentes. O Centro Ele também aumenta as oportunidades econômicas das Estatal de Informações da China calcula que a recente pessoas? As pessoas certamente utilizam telefones celu- explosão do setor de comércio eletrônico do país tenha lares e a internet mais para fins sociais do que profis- criado 10 milhões de empregos em lojas on-line e ser- sionais. Mas, publicações emergentes também indicam viços afins, aproximadamente 1,3% dos empregos do que as pessoas obtêm benefícios econômicos tangíveis. país. Novas oportunidades para o empreendedorismo Tabela VG.1 Benefícios das tecnologias digitais para trabalhadores e consumidores: Um quadro de resultados Impacto até o momento Impacto potencial Canal Pobres Não pobres Pobres Não pobres Geração de empregos No setor de TIC e ocupações Insignificante L Insignificante L Em setores que usam TIC L M L M Aumento da produtividade dos trabalhadores Crescentes retornos para o capital humano L M L H Conexão das pessoas ao trabalho M H H H e aos mercados Benefício para os consumidores Aumento do excedente para M H H H os consumidores Fonte: Equipe do WDR 2016. Observação: Pobres refere-se aos 20% inferiores da distribuição de riqueza. O impacto diferenciado resume a discussão do capítulo 2 do Relatório completo e é uma avaliação qualitativa da evidência. TIC = Tecnologias da informação e comunicação; L = baixo; M = médio; H = alto. VISÃO GERAL 15 Box VG.3 Eliminando a barreira da deficiência por meio de tecnologias digitais Mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo é deficiente e mensagens curtas (SMS), mensagens instantâneas, retrans- 80% delas vivem em países em desenvolvimento. As pessoas missão telefônica e legendas de vídeo reduzem as barreiras com deficiência enfrentam obstáculos para comunicar-se, à comunicação para pessoas com deficiências auditivas e interagir, acessar informações e participar de atividades de fala. A navegação sem uso das mãos e as interfaces cívicas. As tecnologias digitais estão ajudando a transpor controladas por gestos ajudam as pessoas com graves alguns desses obstáculos. A tecnologia propicia múltiplos problemas de mobilidade a utilizarem dispositivos digitais. meios de comunicação – voz, texto e gestos – para acessar Mas a simples existência da tecnologia não é condição informações e relacionar-se com outras pessoas. O reconhe- suficiente para preencher a lacuna da inclusão socioeconô- cimento de voz, a ampliação e a funcionalidade de conversão mica de pessoas deficientes. É necessário um ecossistema de texto em fala beneficiam pessoas com deficiência visual, de apoio para conduzir a implementação de tecnologias cognitiva, de aprendizagem e de mobilidade. O serviço de digitais acessíveis. Fonte: Raja 2015, para o WDR 2016. e o trabalho autônomo também estão crescendo rapi- trabalhar com mais facilidade com equipes em outros damente na economia digital. países. Esses benefícios são maiores para as pessoas A capacidade da internet de reduzir os custos das com mais aptidões. Na realidade, nunca houve um transações aumenta as oportunidades para as pessoas momento melhor para ser um trabalhador altamente que enfrentam obstáculos para encontrar empregos qualificado, pois os retornos da educação continuam ou fatores produtivos. Isso promove a inclusão de elevados – quase 15% para cada ano a mais de educa- mulheres, de deficientes físicos e de pessoas de áreas ção universitária nos países em desenvolvimento. remotas (Box VG.3). O impacto da terceirização leva Os maiores benefícios das tecnologias digitais para os trabalhos baseados na internet até os pobres e os pobres provavelmente vêm dos menores custos de vulneráveis. O governo do estado indiano de Kerala informação e busca. A tecnologia pode informar os tra- criou o projeto Kudumbashree para terceirizar os balhadores acerca de preços, insumos ou novas tecnolo- serviços de tecnologia da informação para coope- gias com mais rapidez e menor custo, reduzindo o atrito rativas de mulheres de famílias de baixa renda; 90% e a incerteza.15 Isso pode eliminar viagens dispendiosas, das mulheres nunca tinham trabalhado fora de casa deixando mais tempo para trabalhar e reduzindo os ris- antes. Samasource e Rural Shores ligam clientes dos cos de crime ou acidentes de trânsito (Box VG.4).16 Estados Unidos e Reino Unido a trabalhadores em O uso da tecnologia para informações sobre preços, Gana, Haiti, Índia, Quênia e Uganda. Dentre os traba- qualidade do solo, clima, novas tecnologias e coordena- lhadores globais da plataforma de trabalho autônomo ção com comerciantes possui extensa documentação Enlace, parte da Upwork, 44% são mulheres e muitas na agricultura (ver foco setorial 1 no Relatório com- desejam compatibilizar trabalho e vida familiar. Entre pleto). Em Honduras, os agricultores que obtiveram os entrevistados de uma pesquisa para este Relatório informações sobre os preços do mercado via serviço sobre trabalhadores on-line, a possibilidade de ter de mensagem curta (SMS) relataram um aumento de horário flexível e trabalhar em casa é considerada a 12,5% nos preços recebidos.17 No Paquistão, os telefones maior vantagem do trabalho on-line. celulares permitem que os agricultores mudem para cultivos mais perecíveis porém com rendimentos mais Aumento da produtividade da mão de obra elevados, reduzindo em 21-35% as perdas pós-colheita Para a economia como um todo, o impacto mais pro- dos cultivos mais perecíveis.18 Os impactos da redução fundo da internet sobre as pessoas é que ela torna das assimetrias de informação tendem a ser maiores os trabalhadores mais produtivos. Ao transferir as quando se aprende sobre as informações em mercados tarefas de rotina e repetitivas para a tecnologia, os distantes ou entre agricultores carentes que enfrentam trabalhadores podem concentrar-se em atividades maiores restrições à informação.19 de maior valor. O uso criterioso de Cursos On-line Abertos e Maciços (MOOCs) ou ferramentas de Aumento do excesso de consumo ensino on-line como a Khan Academy permite que Onde a internet levou à plena automação de serviços, os professores dediquem mais tempo à promoção da muitos empregos foram perdidos – restam poucos discussão e ao trabalho com os alunos que ficam atra- agentes de viagem, livreiros ou empregados de lojas sados. Os pesquisadores podem dedicar mais tempo de música. Mas essas mesmas dinâmicas têm sido a pensar e inovar em vez de buscar informações ou uma vantagem para os consumidores. Há novos bens repetir o trabalho de outros. Os gerentes podem e serviços digitais – tais como e-books, música digital 16 RELATÓRIO SOBRE O DESENVOLVIMENTO MUNDIAL DE 2016 Box VG.4 Dividendos digitais e o bilhão inferior As pessoas de baixa renda beneficiam-se das tecnologias internet. Na República Centro-Africana, um mês de acesso digitais, mas esse benefício é modesto com relação ao verda- a internet custa mais de uma vez e meia a renda anual per deiro potencial. Quase 7 entre 10 pessoas do quintil inferior capita. Mesmo os telefones celulares são caros: o proprietário da população dos países em desenvolvimento possuem um médio de telefone celular na África gasta mais de 13% da sua telefone celular, o que melhora seu acesso a mercados e ser- renda mensal em ligações e mensagens de texto. E muitas viços. Na área rural de Níger, as informações sobre preços na pessoas pobres carecem dos conhecimentos básicos de lei- agricultura obtidas via telefone celular reduzem os custos de tura e aritmética necessários para utilizar a internet. Em Mali procura em 50%.a Na região rural do Peru, o acesso aos tele- e Uganda, cerca de três quartos dos alunos da terceira série fones celulares aumentou em 11% o consumo real dos domi- não conseguem ler. No Afeganistão e Níger, sete em cada cílios entre 2004 e 2009, reduzindo a pobreza em 8 pontos 10 adultos são analfabetos. percentuais e a extrema pobreza em 5,4 pontos percentuais.b Nas economias avançadas os mais pobres enfrentam As pessoas pobres podem beneficiar-se das tecnologias perspectivas de salários estagnados e menos oportunidades, digitais mesmo quando elas não possuem telefone celular pois são cada vez mais forçados a competir com as pessoas ou computador. Por exemplo, uma ID digital, ao fornecer a prejudicadas pela automação. As tecnologias digitais tam- milhões de pessoas pobres uma identidade oficial, aumenta bém podem exacerbar as disparidades socioeconômicas. seu acesso a um grande número de serviços públicos e Por exemplo, a votação pela internet das propostas de privados. Em Narma Dih – uma aldeia em Bihar, Índia, sem orçamento municipal no estado do Rio Grande do Sul, no eletricidade e sem acesso a estradas resistentes ao clima – os Brasil, e as iniciativas de participação dos cidadãos, tais agricultores pobres beneficiam-se de serviços de extensão como o relatório  U de Uganda, demonstram que os novos agrícola disponibilizados digitalmente pela Digital Green, usuários têm mais probabilidade de ser homens, jovens, com uma ONG que treina agricultores utilizando vídeos com ins- nível universitário e prósperos – aqueles que já tinham boa truções produzidos localmente.c  situação financeira antes do advento da internet.d Mesmo assim os pobres estão captando somente uma O rápido progresso tecnológico permitirá que, cada vez pequena parcela dos dividendos digitais. Embora a maioria mais, os pobres possam pagar e utilizar diversos serviços das pessoas de baixa renda disponha de telefone celular, elas digitais. Mas sua capacidade de colher dividendos desses não podem acessar nem pagar a internet. Na América Latina, investimentos será amplamente definida pelo fornecimento menos de 1 em cada 10 domicílios pobres está ligado à de complementos analógicos. Fonte: Equipe do WDR 2016. a. Aker e Mbiti 2010. b. Beuermann, McKelvey e Vakis 2012. c. Chomitz 2015. d. Spada e outros 2015; Berdou e Lopes 2015. e motores de busca. E a internet tem transformado os 2010, constatou que as famílias estão dispostas a pagar, existentes – tais como serviços de táxi e hospitalidade, em média, US$ 50 por mês por serviços que agora rece- saúde, educação e vendas a varejo. Isso aumentou a bem gratuitamente na internet. Dados sobre o uso do diversidade de bens e serviços disponíveis, incluindo tempo nos Estados Unidos sugerem que, em média, os destinados ao lazer. Portanto, a internet aumenta as pessoas ganham da internet mais de US$ 3.000 por o bem-estar do consumidor, mas de forma difícil de ano. Na Estônia as assinaturas digitais economizam ser medida. 20 minutos por transação. E um estudo dos custos do As percepções das pessoas são que as tecnologias tempo de busca de informações demonstra que, em digitais certamente lhes tem proporcionado melhores média, uma busca on-line tende a ser 15 minutos mais condições de vida. Em 12 países africanos pesquisa- rápida, os resultados são mais exatos e relevantes e a dos, 65% dos habitantes creem que sua família está experiência é mais agradável do que a busca off-line em melhores condições porque tem telefone celular, em uma biblioteca. Em média, as pessoas podem rece- ao passo que somente 20% discordam (14,5% não têm ber um superávit de consumo de até US$ 500 por ano certeza).20 E 73% afirmam que o telefone celular ajuda proveniente desses serviços, aumentando os vastos a economizar tempo de viagem e custos; somente benefícios quando agregados todos os outros usuários. 10% discordam. Dois terços acreditam que ter um telefone celular faz com que se sintam mais seguros A internet pode tornar os governos e protegidos. mais capazes e mais ágeis Alguns estudos tentaram quantificar o valor econô- Os governos prestam serviços tipicamente não comer- mico desses ganhos. Uma pesquisa dos consumidores cializáveis, frequentemente carecem de escala e não da França, Alemanha, Federação Russa, Espanha, estão sujeitos à concorrência do mercado. Aumentar a Reino Unido e Estados Unidos, feita por McKinsey em eficiência no setor público é, portanto, um desafio, e VISÃO GERAL 17 pode-se prever que a internet traga grandes benefícios O arquivamento eletrônico reduz os custos de cumpri- à prestação de serviços públicos. De fato, há muitos mento das obrigações tributárias e centros unificados exemplos em que a internet aumentou as capaci- de serviços computadorizados e portais on-line melho- dades do setor público. Ferramentas melhores para ram a eficiência dos serviços. As aquisições eletrônicas comunicar-se com os cidadãos e fornecer informações ajudaram a Índia e a Indonésia a injetar mais concor- também permitem maior participação – por meio da rência no processo aumentando a probabilidade de inclusão em programas governamentais de assistên- o licitante vencedor ser de fora da região do projeto. cia ou feedback a autoridades públicas e seu monitora- Isso também melhorou a qualidade da infraestrutura. mento. E a internet ajuda os cidadãos a se conectarem Mas a maior parte dos projetos de tecnologia digital on-line e a se organizarem para a ação coletiva, a fim do setor público não alcança os objetivos do projeto, de exercer pressão quando o desempenho do governo resultando em prejuízo fiscal considerável.22 não atender às expectativas das pessoas. As tecnologias digitais também podem melhorar a gestão mediante o monitoramento do desempenho Expansão da participação dos trabalhadores. Uma literatura pequena, porém A falta de identidade cria um empecilho para as pessoas crescente, sobre a avaliação do impacto relata efeitos de baixa renda exercerem seus direitos democráticos em geral positivos do monitoramento baseado na básicos e seus direitos humanos. Quando os sistemas tecnologia sobre o absenteísmo dos trabalhadores, de registro civil são frágeis ou inexistentes, muitos quando combinado com outras reformas institucio- pobres simplesmente não são contados. A identifica- nais.23 Em Uganda, onde o absenteísmo de professo- ção digital pode ajudar a superar as barreiras para a res é estimado em 27%, os diretores utilizam telefones participação. Muitos países introduziram esquemas celulares para registrar a frequência e transmitir de identidade digital (ID) de propósito múltiplo ou dados para o banco de dados de uma central que gera sistemas específicos para eleições ou para gerenciar relatórios semanais. Associado ao pagamento aos transferências pós-conflito – com inúmeros benefí- professores de incentivos relacionados à frequência, cios, inclusive tornar o setor público mais eficiente. o programa reduziu o absenteísmo em 11 pontos per- Cerca de 900 milhões de indianos receberam IDs centuais. A internet também oferece dados em tempo digitais nos últimos cinco anos, as quais estão sendo real para um melhor planejamento e gestão das ins- usadas para abrir contas bancárias, monitorar o com- talações de serviços. Em Gana, Quênia, Tanzânia e parecimento de funcionários públicos e identificar Zâmbia os profissionais de saúde utilizam telefones beneficiários de subsídios governamentais. O sistema celulares para informar sobre remédios falsificados e-ID da Nigéria revelou 62 mil “trabalhadores fantas- e falta de estoque. Reunidas em um banco de dados mas” do setor público, economizando US$ 1 bilhão por central e mapeadas geograficamente, essas informa- ano. Porém, o benefício mais importante pode ser a ções ajudam os administradores a tratar da escassez melhor integração de grupos marginalizados ou des- de medicamentos e de equipamentos. favorecidos na sociedade. O fornecimento de oportunidade para os cidadãos As tecnologias digitais também permitem às pes- contribuírem com feedback específico e de maneira soas de baixa renda votarem, fornecendo-lhes iden- rápida vem ajudando a melhorar o desempenho em tificação sólida e reduzindo a fraude e a intimidação diversas situações. Aplicativos para telefone celular por meio de melhor monitoramento. Os telefones como SeeClickFix e FixMYStreet nos Estados Unidos celulares possibilitam os cidadãos a denunciar casos e Reino Unido permitem que os usuários relatem de violência e intimidação eleitoral, melhorando a buracos, grafite e despejo ilegal de lixo. Os governos participação nas eleições. Em Moçambique, o sistema podem enviar relatórios sobre providências, encer- de mensagens curtas (SMS) permitiu aos cidadãos rando o processo de feedback. As centrais de atendi- relatar irregularidades eleitorais e aumentou a afluên- mento via internet que permitem que os cidadãos cia às urnas em cinco pontos percentuais.21 Ushahidi relatem problemas e acompanhem o andamento e Uchuguzi são aplicativos do tipo crowdsourced (com das suas solicitações já são padrão em cidades como muitos colaboradores) que reportam e mapeiam a Barcelona, Buenos Aires, Muscat, Rio de Janeiro, violência nas eleições no Quênia. Ao multiplicar as Seul e Ulaanbaatar, para citar apenas algumas. A fontes de informação, a internet pode reduzir o risco empresa de abastecimento de água de Nairobi utiliza da captação da mídia e dificultar a censura. o MajiVoice e uma das empresas de fornecimento de eletricidade na República Dominicana, a EDE Este, Melhoria da capacidade do setor público utiliza um sistema semelhante para receber reclama- A internet aumenta a eficiência e a produtividade por ções, acompanhar sua resolução por meio de um fluxo meio da automação e da gestão voltada para dados. de trabalho automatizado e atualizar regularmente os Quase todos os países já tentaram automatizar a cidadãos sobre o andamento. Quando o programa administração de impostos e administração adua- é bem implementado, os cidadãos aproveitam com neira, assim como a preparação, execução e contabili- entusiasmo a oportunidade de fornecer feedback e o dade de orçamentos. Há resultados melhores e piores. tempo de resolução diminui (ver Figura VG.12). 18 RELATÓRIO SOBRE O DESENVOLVIMENTO MUNDIAL DE 2016 Figura VG.12 Mais reclamações solucionadas com dos cidadãos. Uma crescente literatura empírica tam- maior rapidez na empresa de abastecimento de água bém demonstrou que os telefones celulares e o uso do de Nairóbi após a introdução de feedback digital Twitter e do Facebook contribuíram para os protestos de clientes da Primavera Árabe na República Árabe do Egito,24 as manifestações contrárias à guerra nos Estados Unidos25 120 60.000 e a mobilização de cidadãos na África.26 Número de reclamações cumulativas 100 50.000 Os riscos: Concentração, desigualdade e controle Dias para resolver 80 40.000 Portanto, a internet pode ser uma força eficaz para o 60 30.000 desenvolvimento. Mas como documenta o Relatório, os benefícios com frequência não se concretizam e, algu- 40 20.000 MajiVoice mas vezes, a internet agravam ainda mais os proble- Introduzido em mas persistentes. Por que? A principal percepção é que 20 10.000 para ocupações complexas, atividades empresariais ou serviços públicos, a internet em geral pode tornar ape- 0 0 nas uma parte das tarefas mais baratas, mais eficientes Junho Dezembro Junho Dezembro 2013 2013 2014 2014 ou mais convenientes por meio da automação. Outra parcela ainda requer competências que os seres huma- Tempo para resolver nos possuem em abundância, mas os computadores Reclamações resolvidas Reclamações apresentadas não têm. Muitas tarefas tradicionais de um contador ou caixa de banco estão hoje automatizadas, como cál- Fonte: Equipe do WDR 2016. Consultar dados em: http://bit.do/WDR2016-FigO_12. culos ou processamento de saques. Outras requerem Observação: Para maiores detalhes, ver a Figura 3.11 do Relatório completo. raciocínio complexo ou aptidões socioemocionais, tais como o planejamento de estratégias tributárias ou Promoção da expressão aconselhamento de clientes. Da mesma forma, mui- Os governos, particularmente aqueles dos países tos serviços públicos que envolvem o fornecimento digitalmente avançados como Estônia, República da de informações ou permissões de rotina podem ser Coreia e Cingapura estão começando a beneficiar-se automatizados. Mas outros, tais como ensino ou poli- da análise de dados e das plataformas digitais para ciamento, necessitam de um grau elevado de critério, uma formulação de políticas mais rápida, mais funda- conhecimento tácito e discernimento humano. mentada e integrada. A internet também abre novos Muitos problemas e falhas da internet vêm à tona caminhos para a democracia participativa. A Islândia quando a tecnologia digital é introduzida mas os fez uma experiência com crowdsourcing (contribuições “complementos analógicos” importantes continuam de um grupo variado de pessoas) para sua constituição e o Brasil e a Estônia exploraram a elaboração parti- inadequados. Quais são esses complementos? Os cipativa de leis. Ao reduzir acentuadamente o custo principais são regulamentações que assegurem um da comunicação e da coordenação, as mídias sociais elevado grau de concorrência, aptidões que se benefi- podem superar as barreiras tradicionais à ação coletiva ciem da tecnologia e instituições que sejam responsá- veis (Figura VG.13). Figura VG.13 Sem complementos analógicos sólidos Quando a internet fornece economias de escala •  as oportunidades podem transformar-se em riscos para as empresas mas o ambiente de negócios inibe a concorrência, o resultado pode ser excessiva TECNOLOGIAS concentração de poder de mercado e aumento de DIGITAIS monopólios, restringindo a inovação no futuro. Quando a internet automatiza muitas tarefas, mas •  os trabalhadores não possuem aquelas aptidões que a tecnologia potencializa, o resultado será maior desigualdade em vez de maior eficiência. Quando a internet ajuda a superar as barreiras de •  Informação sem Automação sem Escala sem informação que impedem a prestação de serviços, responsabilização aptidões concorrência mas os governos permanecem incapazes de prestar contas, o resultado será um maior controle, em lugar de maior autonomia e inclusão. CONTROLE DESIGUALDADE CONCENTRAÇÃO A interação entre investimentos na internet e reformas em áreas complementares está no cerne Fonte: Equipe do WDR 2016. dos debates políticos sobre os impactos da tecnologia. VISÃO GERAL 19 Um estudo de 2008 realizado por Claudia Goldin e Figura VG.14 Fatores que explicam a baixa adoção Lawrence Katz,27 baseado em trabalho anterior de de tecnologias digitais pelas empresas Jan Tinbergen, enquadrou essas dinâmicas do mercado de trabalho como uma “competição entre educação e Direitos tecnologia.” À medida que a tecnologia avança, algu- adquiridos mas aptidões tornam-se obsoletas. Os trabalhadores precisam adquirir novas aptidões que os ajudem a se Incerteza tornar mais produtivos com o apoio daquela tecno- regulatória Economia logia. O ajuste leva tempo e será difícil para muitos, analógica Economia mas é assim que as economias avançam. As seções a digital seguir discutem os riscos e os complementos no setor (4-5% do PIB,1-2% dos empregos) privado, nos mercados de trabalho e no setor público. Monopólio digital O crescimento da concentração: o nexo entre regulamentações e tecnologia Fonte: Equipe do WDR 2016. Um dos mecanismos mais importantes para que a internet promova o crescimento econômico é a solicitações aos reguladores para que façam cumprir concorrência. Os fluxos de informação aumentam e aceleram de modo que os clientes têm mais opções as normas para o setor, tais como o conhecimento da e podem comparar preços com mais facilidade. As cidade (no caso dos motoristas de táxi de Londres) ou empresas que utilizarem a tecnologia com mais exigências de seguro. Esse pode ser um recurso válido eficácia serão bem-sucedidas e forçarão as outras a quando as normas protegem a segurança pública e fazerem o mesmo. Existe evidência considerável de asseguram níveis mínimos de serviços. Mas esses que isso está acontecendo em toda a economia, mas novos modelos em geral obtêm êxito porque ingressam podem surgir três problemas potenciais. em mercados com grandes distorções, com pratica- Em primeiro lugar, embora a internet tenha-se mente monopólios ou oligopólios. O risco de permitir a disseminado rapidamente no setor privado de alguns entrada de novos participantes mal regulamentados em países, a adoção entre as empresas que não são de TIC um mercado deve, portanto, ser ponderado com relação tem sido lenta em outros países. Empresas maiores, aos benefícios para os consumidores proporcionados que crescem rapidamente, com uso intensivo de apti- pelos preços mais baixos e a maior comodidade. dões, voltadas para exportações, bem como empresas O terceiro risco potencial vem da posição domi- urbanas, tendem a usar mais as tecnologias digitais. nante de muitas plataformas on-line e intermediários As causas dessas diferenças não são bem compre- de internet. A história econômica demonstra que as endidas. As diferenças nas taxas de adoção podem empresas sentem-se tentadas a explorar uma posição simplesmente refletir diferenças de renda, caracte- de dominação. As grandes empresas de internet não rísticas do setor e capacidades de gestão, mas pode- são exceção. A economia da internet favorece mono- riam também dever-se a obstáculos para a adoção pólios naturais28 e algumas plataformas atualmente (Figura VG.14) Uma possibilidade é o custo elevado dominam seus mercados. Elas obtêm lucros tão eleva- dos direitos de importação para produtos e serviços dos que podem captar rapidamente novos mercados digitais em alguns países. Outra, são as distorções e comprando as empresas concorrentes ou desenvol- proteções de mercado que permitem que as empresas vendo um serviço que rivalize com o delas; as empresas mantenham seus lucros sem serem ameaçadas por emergentes locais, inclusive as situadas nos países em novos concorrentes mais inovadores. Por exemplo, as desenvolvimento, ficam com os pequenos nichos de empresas do México que enfrentaram a concorrência mercado. Algumas das maiores empresas de internet da China aumentaram o número de computadores por agora enfrentam avaliações minuciosas dos regula- empregado e tornaram-se duas vezes mais propensas dores. Google, que capta quase um terço da receita de a utilizar a internet em suas compras do que aquelas propaganda digital no mundo,29 foi investigado pelo que não enfrentaram concorrência significativa. posicionamento preferencial de seus próprios produ- Segundo, quando as empresas on-line entram no tos, exploração de conteúdo de terceiros e práticas de território das suas contrapartes off-line, o transtorno exclusão na colocação de propagandas.30 A Amazon, a pode ser grande e os reguladores geralmente não sabem maior plataforma de vendas para editores de livros, uti- se devem reagir e como. Recentemente, as empresas da liza seu poder de mercado para fortalecer suas políticas “economia por demanda” Uber e Airbnb desafiaram os de preços. A Safaricom, que opera o sistema de paga- setores de táxis e hotéis já consagrados. Seu modelo mento M-Pesa, resistiu à entrada de prestadores de de negócios de plataforma é escalável e global e deu serviço concorrentes. O grande volume de informações origem a vários imitadores locais. Em cidades de Paris pessoais identificáveis que muitas dessas empresas a Delhi e a Beijing, a reação tem sido uma luta por parte coletam cria outros problemas (Box VG.5). das empresas constituídas off-line para manter de fora É cedo demais para saber se esses problemas redu- esses novos concorrentes, geralmente por meio de zirão os benefícios econômicos gerais da internet ou 20 RELATÓRIO SOBRE O DESENVOLVIMENTO MUNDIAL DE 2016 Box VG.5 O que as curtidas do Facebook revelam – a compensação entre a privacidade e a conveniência Quando economistas como George Stigler e Richard Posner Os coletores de dados muitas vezes vendem os dados escreveram sobre privacidade e economia no início da década para terceiros. Um corretor de dados reuniu uma média de 1980, eles levantaram várias questões que são debatidas de 1500 informações sobre mais de meio bilhão de consu- hoje mas, naquela época, o “armazenamento e a recupera- midores de todo o mundo a partir de informações que as ção de informações e sua disseminação precisa [eram] com pessoas forneciam voluntariamente em diversos sites. Mas frequência extremamente dispendiosos.”a Hoje, um imenso até mesmo dados acessíveis, como “Curtidas do Facebook” volume de informações identificáveis está tornando a presta- podem predizer características delicadas, como “orientação ção de serviços mais eficiente e mais relevante. Os prestado- sexual, etnia, opiniões sobre religião e política, traços de res de serviços podem direcionar seus produtos ou definir seu personalidade, inteligência, felicidade, uso de substâncias preço com base em características e preferências conhecidas. psicotrópicas, separação dos pais, idade e sexo”.b E sensores Os mecanismos de busca fornecem resultados mais relevan- de smartphones podem inferir o humor do usuário, seus tes para as pesquisas. As empresas de seguro de saúde e de níveis de estresse, tipo de personalidade, distúrbio bipolar, automóveis podem definir melhor os preços dos seus prêmios demografia (isto é, sexo, estado civil, situação empregatícia, com informações verificáveis sobre exercícios físicos ou com- idade), se é fumante, bem-estar geral, avanço da doença de portamento ao dirigir. E os governos podem usar sistemas Parkinson, padrões de sono, felicidade, níveis de exercícios de dados para reduzir a carga burocrática para os cidadãos. físicos e tipos de atividade física ou deslocamento”.c No sistema de governança eletrônica da Estônia, os cidadãos Os riscos? Crimes cibernéticos, como roubo de identidade nunca precisam dar a mesma informação duas vezes. quando dados armazenados sem segurança caem em mãos O problema é que poucas pessoas sabem como esses erradas. Discriminação quando os clientes são obrigados grandes volumes de dados são coletados e utilizados – e a pagar um prêmio ou taxa de juros mais elevada, ou são quem os controla. Os usuários nem sempre estão informados rejeitados em um trabalho com base em informações erradas e os prestadores de serviço em geral não dizem quais infor- que eles não podem corrigir com facilidade. A persistência mações estão sendo coletadas. A bisbilhotice secreta dos de informações desatualizadas que impede a proteção con- governos pode ter motivos legítimos de aplicação da lei, mas tra informações desconcertantes mas irrelevantes ou uma algumas vezes viola leis e direitos como demonstraram as segunda chance, o que ocasionou a decisão denominada revelações de Edward Snowden acerca da espionagem feita direito de ser esquecido da União Europeia. E talvez o mais por órgãos de segurança dos Estados Unidos, do Reino Unido importante, a redução da confiança e, portanto, o uso ideal e de outros países. Uma consequência disso foi um novo da internet. Essas preocupações variam entre as diferentes “nacionalismo de dados”, no qual os países estão exigindo sociedades. Cinquenta e oito por cento dos nigerianos e que os dados sobre seus residentes sejam armazenados em 57% dos indianos acreditam que as informações privadas na seu território ou que beneficiem a tecnologia doméstica, que internet são muito seguras, mas somente 18% dos franceses pode ser inferior ou mais cara, mas que é mais confiável. e 16% dos alemães entrevistados concordam.d Fontes: Equipe WDR 2016, com base em Peppet 2014; Castro 2013; The Economist 2014; Kosinski, Stillwell e Graepel 2013. a. Posner 1981. b. Kosinski, Stillwell e Graepel 2013. c. Ver Peppet (2014) para obter referências individuais. d. CIGI e Ipsos 2014. serão mitigados pelos baixos custos iniciais do setor garantir que todas as empresas inovadoras possam e pela rápida mudança tecnológica. Os consumidores ingressar nos mercados e competir em igualdade de vêm em geral se beneficiando dos modelos de negó- condições. Por outro lado, o desempenho econômico cio baseados na internet das empresas já existentes entre as empresas de diferentes tamanhos e em dife- e das novas. Os mercados são extremamente dinâ- rentes países pode divergir ainda mais e contribuir micos, portanto, muitas vantagens obtidas por meio para o desempenho igualmente diferente das econo- de escala ou de ser pioneiro podem ser temporárias. mias nacionais. E uma dimensão maior permite que as grandes empre- sas ofereçam serviços e produtos por preços baixos ou Aumento da desigualdade: A competição gratuitos, e seus altos lucros alimentam investimen- entre habilidades e tecnologia tos em pesquisa e desenvolvimento (P e D). Ao mesmo Se a internet e as tecnologias afins promovem o cres- tempo, não há dúvida de que a concorrência e a estru- cimento, de que formas os ganhos são compartilhados tura do mercado na internet são, em muitos aspectos, no mercado de trabalho? Embora as tecnologias digitais semelhantes ao mundo off-line. As políticas precisam aumentem a produtividade e melhorem o bem-estar VISÃO GERAL 21 Figura VG.15 A participação da mão Figure VG.16 Queda da participação da mão de obra de obra na renda nacional vem caindo na renda nacional está associada ao aumento em muitos países, inclusive em alguns da desigualdade países em desenvolvimento Alteração do coeficiente de Gini versus o crescimento da participação da mão de obra na renda nacional, 1995–2010 Tendências na participação da mão de obra na produção a cada 10 anos desde 1975 30 pontos percentuais a cada 10 anos 25 CHN Polônia 20 Alteração no coeficiente de Gini FIN México em consumo ou renda (%) Hungria 15 DNK LVA Estônia Barein 10 BGR Eslovênia EST Lituânia 5 CRI GBR África do Sul Noruega 0 ITA Luxemburgo NOR ESP HND BLR –5 Micronésia, Federação dos Estados da GRC Namíbia –10 ARG PAN PRY Letônia Nova Zelândia TUN IRL –15 China Finlândia –20 Tunísia –30 –25 –20 –15 –10 –5 0 5 10 15 20 25 Argentina República Eslovaca Alteração da participação da mão de obra na produção nacional (%) Alemanha Áustria Fonte: Eden e Gaggl 2015, para o WDR 2016. Consultar dados em: http://bit.do/WDR2016-FigO_16. Suécia França Itália geral, as rupturas no mercado de trabalho podem Austrália ser penosas e podem ocasionar maior desigualdade. Taiwan, China Canadá As tendências globais oferecem algumas indicações. Japão Uma delas é que a parcela da renda nacional que foi Dinamarca aquinhoada pelo trabalho, especialmente o trabalho Suíça Estados Unidos de rotina, caiu acentuadamente em muitos países em Holanda desenvolvimento – embora o Brasil e a Ucrânia sejam Bélgica exceções (Figura VG.15).31 A desigualdade tem aumen- República Tcheca Espanha tado mais em países nos quais essa mudança nas Cingapura rendas, na direção do capital, afastando-se da mão de Reino Unido obra, é maior (Figura VG.16). Diversos estudos recentes Portugal Bolívia vinculam a mudança tecnológica a essa crescente desi- Turquia gualdade (consultar o Capítulo 2 do Relatório completo). Armênia Colômbia Uma tendência relacionada é a polarização – ou Quênia “esvaziamento” – do mercado de trabalho, não apenas Tailândia nas economias avançadas mas, cada vez mais, também Costa Rica Islândia em muitos países em desenvolvimento. A participação Belarus do emprego em ocupações com mão de obra quali- Moldávia ficada está em alta, assim como aquela relativa aos República da Coreia Ucrânia empregos de baixa qualificação. A parcela do emprego Brasil de qualificação média, por outro lado, está em queda na –15 –10 –5 0 5 10 maioria dos países em desenvolvimento para os quais Mudança na participação da mão existem dados detalhados disponíveis (Figura VG.17). de obra na renda nacional E esses tipos de empregos estão geralmente próximos ao topo da distribuição de renda nos países de baixa Fonte: Karabarbounis e Neiman 2013. Consultar dados em: http://bit.do/WDR2016-FigO_15. renda, como na África. Uma exceção digna de nota a essas tendências globais é a China, onde o aumento da mecanização na agricultura ocasionou um (talvez temporário) aumento da mão de obra rotineira de nível médio. As exceções compreendem também alguns paí- ses ricos em recursos naturais e países exportadores de produtos básicos, que incluem diversos países da Ásia Central e América Latina. 22 RELATÓRIO SOBRE O DESENVOLVIMENTO MUNDIAL DE 2016 Figura VG.17 O mercado de trabalho está ficando polarizado nos países desenvolvidos e em desenvolvimento Mudança na média anual da participação do emprego por volta de 1995 – por volta de 2012 2,0 1,5 1,0 Pontos percentuais 0,5 0 –0,5 –1,0 –1,5 –2,0 –2,5 va ica ito M ana U nia nz io ão N stão os ão ia qu a C ia U ia Tu ala Ilh min ras Sé a Sa via ilâ r Ja dia Ár Sri aica do ka aq ica on a G a u r s tsu a na Áf Filip ia D nd a do s ia te á Et a M ul Ta do ica o a Pa an Ba Per nd M íbi li Bo águ ica Ho lási Ta ríc ua m an Pa da nd p ân u Eg rv N bad ric in gó ist n C But S sla bl hi â El Bolí az R o u ió m rq Ín lva G na as ic ab La am ga ui au m go pú cr a C ta r Iu -Re a e x ,e ia ica bl ôn pú ed bl Re pú ac Re M Ocupações com mão de obra com alta qualificação (intensas em habilidades cognitivas e interpessoais não rotineiras) Ocupações com mão de obra com média qualificação (intensas em habilidades cognitivas e manuais rotineiras) Ocupações com mão de obra com baixa qualificação (intensas em habilidades manuais não rootineiras) Fontes: Equipe do WDR 2016, com base nos Indicadores-chave do mercado de trabalho da OIT (OIT, diversos anos); Banco de Dados Internacional da Distribuição de Renda (I2D2; Banco Mundial, vários anos); Agência Nacional de Estatísticas da China. Consultar dados em: http://bit.do/WDR2016-FigO_17. Observação: A figura apresenta as alterações na participação do emprego entre cerca de 1995 e cerca de 2012 para países com dados relativos a pelo menos sete anos. A classificação segue Autor 2014. As ocupações com alta qualificação incluem legisladores, funcionários de alto nível e gerentes, profissionais e técnicos, além de profissionais associados. As ocupações de média qualificação compreendem funcionários administrativos, artesãos e trabalhadores em ocupações afins, operadores de instalações e de máquinas, além de montadores. As ocupações de baixa qualificação referem-se a trabalhadores em serviços e vendas, além de ocupações elementares. Para maiores detalhes, ver Figura 2.15 do Relatório completo. O que explica tudo isso? Cada vez mais, as máqui- trabalho disponível nesses setores. Essas dinâmicas nas podem executar tarefas de rotina com mais rapi- são coerentes com o aumento do retorno aos estudos e dez e menor custo do que os seres humanos e muito a desigualdade de renda que vemos em muitos países. do que não é considerado rotina hoje – como tradu- As implicações para os países em desenvolvimento ção, subscrição de seguros ou mesmo diagnósticos dependem do ritmo da perturbação tecnológica. A médicos – os computadores também poderão fazer parcela de ocupações que pode sofrer automação signi- amanhã. Diferentemente das transformações tecno- ficativa é na realidade maior nos países em desenvolvi- lógicas anteriores, como a mecanização da agricultura mento do que nos países mais avançados, onde muitos ou a automação da manufatura, a internet afeta mais desses empregos já desapareceram (Figura VG.18). Mas os empregos de colarinho branco, com altos salários, provavelmente levará mais tempo nos países de renda do que os empregos de menor qualificação. mais baixa. A maioria deles ainda possui tecnologia Alguns trabalhadores de nível médio terão habi- relativamente baixa, com cerca de apenas um terço lidades adicionais que lhes permitirão mudar para dos empregos urbanos em uma amostra de países em ocupações não rotineiras mais bem remuneradas, desenvolvimento que utilizam TIC no trabalho. E as nas quais a tecnologia tende a aumentar o capital taxas salariais ainda são baixas, com uma parcela maior humano e tornar os trabalhadores qualificados mais de trabalho manual não rotineiro, e portanto, os inves- produtivos. Esses trabalhadores serão beneficiados timentos em tecnologia serão menos lucrativos para as pela perturbação tecnológica. Nos países em desen- empresas. Isso não significa, porém, que os países de volvimento, a volta aos estudos é mais frequente renda mais baixa não precisem prestar atenção a essas entre aqueles com diploma universitário e eles são tendências. O mais importante, mesmo sem mudan- mais numerosos, e crescem rapidamente, em ocupa- ças significativas no emprego, é que a natureza dos ções com uso intensivo de TIC.32 Aqueles que não têm trabalhos está mudando para aptidões que continuem essas aptidões precisarão buscar trabalho em ocupa- difíceis de serem reproduzidas pela tecnologia, ou ções de menor qualificação e não rotineiras, tais como seja, aptidões cognitivas e socioemocionais avançadas. serviços de porteiro, hospitalidade ou cuidados pes- A resposta da política, além de repensar os sistemas de soais. A demanda por esses serviços pode aumentar, proteção social, é educação e capacitação melhores e mas talvez não o suficiente para evitar a pressão pela mais ágeis – áreas em que as reformas levam muitos queda de salários à medida que aumentar a força de anos para surtir efeito. VISÃO GERAL 23 Figura VG.18 Mais da metade de todos os empregos no mundo em desenvolvimento é suscetível à automação Percentagem estimada de empregos suscetíveis à automação 100 Parcela do emprego que pode ser 80 computadorizada (%) 60 40 20 0 ia ár rg ão iq o ni eó o e ia U aza N nia ica ria am a Bo ja N ia al on ia Et lia a Pa na te or Pa ala gl á Áf S esh as do a au l Iu Ma io sla sia Eq Rica m r ilâ ia Al dia An ia C la uâ a M a O a Le DE Se hip a yc re U lles ge ia a G alva i C uai os da M Su S ua Ro ado Ta istã dâ G istã C gu pi an nam Ilh a rvi Lit hin ni t C ni in a rg bo lív ep M Índ ríc Ta ên n go Ar oác al lg ua d gó ica ui st N igé go lá C El rag g â bâ tô nt m ió n he C va ad G ric é rá Bu Q qui cr ru u u u ta in r do zbe om j B D U ica ica or bl ica isj bl pú C pú bl Re pú Re Re x- ,e ia ôn ed ac M Ajustada (viabilidade tecnológica + retardamento na adoção) Não ajustada (viabilidade tecnológica) Fontes: Equipe do WDR 2016. Consultar dados em: http://bit.do/WDR2016-FigO_18. Observação: Para maiores detalhes, ver a Figura 2.24 do Relatório completo. OCDE= Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. É importante ter em mente a perspectiva histórica Estados  Unidos. Cem anos mais tarde, havia apenas que a mudança de cargo e as perdas de emprego gera- 700 mil em uma população mais do que três vezes das pela mudança tecnológica são parte integrante maior. Mesmo assim, ninguém pode prever todo o do progresso econômico. É exatamente o aumento da impacto da mudança tecnológica nas próximas déca- produtividade – quando a tecnologia substitui alguma das, que pode ser mais rápido e mais amplo do que os mão de obra humana, mas aumenta as habilidades anteriores. O que fica claro, porém, é que os formu- dos trabalhadores remanescentes e novos – que gera o ladores de política enfrentam uma competição entre crescimento e libera os recursos humanos e financeiros tecnologia e educação, na qual os vencedores serão para o posicionamento em setores com retornos mais aqueles que incentivam a atualização de aptidões, de elevados. Ela também reduz a necessidade de os seres tal modo que todos possam se beneficiar das oportu- humanos realizarem trabalhos fisicamente pesados, nidades digitais. repetitivos ou perigosos. Essas tendências serão bem recebidas nos países que estão envelhecendo rapida- Geração de controle: A lacuna entre mente ou onde a população está diminuindo, ou ainda instituições e tecnologia em profissões nas quais há escassez de perícia. A tele- Esperava-se que a internet liderasse uma nova era medicina e o diagnóstico automatizado, por exemplo, de responsabilização e empoderamento político, na permitem que os médicos especialistas atendam muito qual os cidadãos participassem da formulação de mais pessoas, mesmo remotamente, em áreas onde há políticas e formação de comunidades virtuais auto- falta de médicos. -organizadas para responsabilizar o governo. Essas E os temores de “desemprego tecnológico” remon- esperanças não se concretizaram. Embora a internet tam à revolução industrial. Mesmo pensadores como tenha tornado muitas funções do governo mais efi- o economista John Maynard Keynes e o escritor Isaac cientes e cômodas, ela em geral teve impacto limitado Asimov cederam a essa falácia. Na década de 1930, sobre a maioria dos problemas de longo prazo – como Keynes previu semanas de trabalho de 15 horas até o melhorar a responsabilização do prestador de servi- final do século XX e Asimov, em um ensaio de 1964, ços (problemas do agente principal) e como ampliar o supôs que um dos problemas mais prementes para envolvimento do público e dar mais voz aos pobres e a humanidade antes de 2014 seria o tédio “em uma desfavorecidos (problemas de ação coletiva). sociedade com lazer forçado”. Entretanto, ao longo Dependendo do contexto, os cidadãos podem ou dos séculos as economias adaptaram-se a grandes não utilizar com êxito a internet para aumentar a mudanças nos mercados de trabalho – tendo sido a responsabilização dos prestadores de serviço. O mais maior delas, sem dúvida, o êxodo da agricultura. Em importante é a força das relações de responsabiliza- 1910, havia 12 milhões de trabalhadores agrícolas nos ção existentes entre os formuladores de políticas e 24 RELATÓRIO SOBRE O DESENVOLVIMENTO MUNDIAL DE 2016 Tabela VG.2 Classificação dos casos de participação dos cidadãos por meios digitais OCSs Impacto Mobilização parceiras Feedback Compreensão Resposta do Caso Localização off-line adicional do governo coletivo dos cidadãos governo Por Mi Barrio Uruguai L H I Change My City Índia M H Lungisa África do Sul L H Pressure Pan Brasil H M Rappler Filipinas H M Change.org Mundo H M U-report Uganda H L Huduma Quênia L L Daraja Maji Matone Tanzânia L L FixMyStreet Geórgia L L Check My School Filipinas L L Barrios Digital Bolívia L L e-Chautari Nepal L L I Paid a Bribe Índia M L Mejora Tu Escuela México L L Karnataka BVS Índia L L Sauti Za Wananchi Tanzânia L L Fonte: Equipe do WDR 2016, com base em Peixoto e Fox 2015, para o WDR 2016. Observação: Os exemplos estão organizados por grau de resposta do governo. OSC = organização da sociedade civil; L = baixo; M = médio; H = alto. os prestadores de serviço, conforme foi discutido países a internet tenha beneficiado de modo despro- no Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2004: porcional as elites políticas e aumentado a capacidade Fazendo os Serviços Trabalharem para as Pessoa de Baixa dos governos de influenciar o discurso social e político. Renda. Um exame de dezessete iniciativas de partici- As tecnologias digitais algumas vezes aumentaram pação digital para este Relatório constatou que, dos a votação em geral, mas isso não resultou necessa- nove casos em que a participação dos cidadãos envol- riamente em uma votação mais informada ou mais veu uma parceria entre organizações da sociedade representativa. No estado brasileiro do Rio Grande do civil (OSCs) e o governo, três foram bem-sucedidos Sul, a votação on-line aumentou a participação dos elei- (Tabela VG.2). Dos oito casos que não envolveram tores em 8 pontos percentuais, mas os eleitores on-line parceria, a maioria fracassou. Isso sugere que, embora tinham renda significativamente mais elevada e eram a colaboração com o governo não seja garantia de mais instruídos (Figura VG.19). Mesmo nos países sucesso, é bem possível que ela seja necessária. Outro desenvolvidos, a participação dos cidadãos continua ingrediente de sucesso é a mobilização off-line eficaz, a ser um desafio. Somente um pequeno subgrupo não particularmente porque a compreensão dos cidadãos representativo da população participa, e é muitas vezes sobre os canais digitais era baixa na maioria dos casos. difícil sustentar a participação dos cidadãos. Não há Por exemplo, o Maji Matone, que facilita o feedback acordo entre os cientistas sociais sobre se a internet baseado em SMS acerca dos problemas de abaste- empodera de modo desproporcional cidadãos ou elites cimento de água nas áreas rurais da Tanzânia, rece- políticas, se ela aumenta a polarização ou se aprofunda beu somente 53 mensagens de SMS durante os seis ou enfraquece o capital social, em alguns casos até primeiros meses de operação, muito abaixo da meta mesmo facilitando a violência organizada. inicial de 3.000, e depois foi abandonado. O uso da tecnologia nos governos tende a ser A participação política e o envolvimento das pessoas bem‑sucedido quando trata de problemas de infor- de baixa renda continuam raros, embora em muitos mação e de monitoramento bastante simples. Para VISÃO GERAL 25 desafios mais difíceis, como gerenciar melhor os Figura VG.19 A votação pela internet pode aumentar prestadores de serviço ou dar mais direito de expres- a participação mas pode pender para os grupos são aos cidadãos, a tecnologia só ajuda quando os mais privilegiados governos já são ágeis. Portanto, a internet muitas vezes reforçará em vez de substituir as relações de Perfil dos eleitores on-line e off-line no Rio Grande do Sul, Brasil, 2011–12 responsabilidade entre governos e cidadãos, inclusive 60 dando aos governos mais capacidade de vigilância e controle (Box VG.6). O preenchimento da lacuna entre 50 as mudanças tecnológicas e as instituições que não mudam exigirá iniciativas que reforcem a transpa- 40 rência e a responsabilização dos governos. Percentagem 30 Tornando a internet universal, com preço 20 acessível, aberta e segura 10 A primeira geração de políticas de TIC que envolve a concorrência no mercado, a participação privada e 0 regulamentação pouco restritiva propiciaram o acesso io 0 0 o 0 0 r l ta rio 00 75 in 00 50 éd quase universal e os preços razoáveis da telefonia celu- en in pe 6. < M 6. 1. m am > 0– 0– Su Fe lar, mas até agora obteve menos êxito na disseminação nd 50 75 Fu 1. de serviços de internet. Grande parte da explicação está nos fracassos continuados de políticas como a captura Gênero Nível educational Nível de renda (R$/ mês) regulamentar, privatizações complicadas, gestão inefi- Eleitores off-line Eleitores on-line ciente do espectro, tributação excessiva do setor e con- trole do monopólio das portas de acesso internacionais. Fonte: Equipe do WDR com base em Spada e outros, 2015. Consultar dados em: Ao mesmo tempo, a ausência de consenso global para http://bit.do/WDR2016-FigO_19. lidar com as questões de próxima geração – tais como Observação: BRL = Real do Brasil. privacidade, segurança cibernética, censura e gover- nança da internet – está resultando em abordagens As políticas governamentais podem incentivar o for- •  mais prudentes e diversificadas para regulamentar a necimento da conectividade do último quilômetro internet (Box VG.7 e Figura VG.20). permitindo instalações concorrentes, especialmente para a concorrência intermodal (entre cabo, sem fio Políticas do lado da oferta: e linha de assinante digital) e obrigando a empresa Disponibilidade, acessibilidade constituída a disponibilizar linhas de acesso locais e preço razoável para as empresas concorrentes a preços de atacado Uma estrutura útil para analisar as políticas de TIC (desagregação do acesso local). do lado da oferta é considerar a cadeia de valor que A parte mais crítica do quilômetro invisível envolve •  se estende desde o ponto em que a internet entra a gestão do espectro, que requer o aumento do em um país (o primeiro quilômetro), atravessa o país espectro disponível, a garantia de acesso da concor- (o quilômetro do meio) para chegar ao usuário final rência, incentivo ao compartilhamento de instala- (o último quilômetro) e determinados elementos ções essenciais, tais como antenas de rádio e libera- ocultos intermediários (o quilômetro invisível). lização do mercado para a revenda de espectro. •  O primeiro quilômetro pode ser aprimorado com a Além das políticas de TIC, quase tudo que o setor liberalização do mercado para antenas parabólicas e privado, os cidadãos ou governos fazem na internet a eliminação da situação de monopólio sobre a porta exige alguns componentes essenciais (Box VG.8). de acesso e as estações de cabeamento internacionais. •  O fortalecimento do quilômetro do meio envolve a Políticas do lado da procura: liberalização do mercado para a construção e opera- Uso aberto e seguro da internet ção de redes backbone, o incentivo ao acesso aberto Os desafios que os grupos interessados pela internet à rede da empresa constituída, a exigência de todos enfrentam hoje estão relacionados ao modo como as os programas de infraestrutura (tais como rodovias, redes são usadas (procura) e ao modo como elas são ferrovias, pipelines e distribuição de energia) para construídas (oferta). A interconexão global introduz incluir o fornecimento de um enlace de fibra óptica, novas vulnerabilidades em áreas nas quais os mecanis- criação de pontos de troca de internet e criação de mos de coordenação são frágeis, ainda estão em evolu- caches locais para conteúdo utilizado com frequência. ção ou são baseados em modelos não governamentais. 26 RELATÓRIO SOBRE O DESENVOLVIMENTO MUNDIAL DE 2016 Box VG.6  Encontrar uma agulha no palheiro – restrições ao fluxo de informações Os governos também interferem diretamente nas redes digi- autocráticos, onde o uso da internet no governo é em geral tais para controlar o acesso às informações. Um pioneiro da tão alto quanto nos países democráticos (Figura BVG.6.1), os internet, John Gilmore, disse que “a Rede considera a censura líderes enfrentam um dilema. Se permitem o discurso aberto um dano e cria uma rota alternativa a ela”.a Em 2000, Bill na internet, correm o risco de receber contestações à sua Clinton disse que “tentar controlar a internet é como encontrar autoridade. Se não permitem, arriscam-se a isolar-se da eco- uma agulha no palheiro”.b Mesmo assim, fornecedores de nomia global da informação. Trata-se de um ato de equilíbrio software privados e instituições governamentais encontraram e os países estão se tornando mais sofisticados em calibrar formas de censurar o acesso ao conteúdo da internet, quer seu controle – por exemplo, censurando conteúdo que possa seja com o fechamento de todo o domínio da web, como fez incentivar a ação coletiva, mas não a crítica individual. a República Árabe do Egito em 2011 por cinco dias, ou impe- A filtragem e a censura na internet impõem custos ao dindo o acesso a determinados sites nacionais e estrangeiros, bem-estar e à economia. Em primeiro lugar, o custo da cen- ou ainda enfocando postagens em blogs de determinadas sura ou filtragem de conteúdo da internet afasta os recursos pessoas ou postagens em outras mídias sociais. Em 2013, públicos de outros usos. O monitoramento do tráfego nacional Google recebeu 6.951 solicitações de governos para retirar da internet e o bloqueio seletivo de sites estrangeiros exige conteúdo dos resultados de buscas, sendo em maior número elevados recursos financeiros, conhecimento técnico e pessoal da Turquia, Estados Unidos e Brasil. Outros países, como a dedicado – tudo isso poderia ser empregado em tarefas mais China e a República Islâmica do Irã, bloqueiam totalmente o produtivas. Segundo, a filtragem e os métodos para contor- Google e alguns outros sites da internet, embora essas restri- ná-la podem reduzir a velocidade do acesso à internet, o que ções possam ser alteradas no futuro. prejudica os usuários empresariais. Terceiro, a filtragem pode Governos de todos os tipos restringem o acesso a conteú- restringir o acesso a informações úteis do ponto de vista dos como pornografia infantil, manifestações de ódio, insul- econômico ou científico, como o mecanismo de busca Google tos ou críticas a autoridades, contestações à moral cultural ou Scholar para artigos científicos – indispensáveis em univer- religiosa ou relatos de rebeliões ou acidentes. Quando gover- sidades e laboratórios. Quarto, do ponto de vista da União nos responsáveis determinam o que deve ser censurado, o Europeia, por exemplo, o bloqueio de websites estrangeiros resultado reflete as preferências da sociedade. Em países pode ser considerado uma barreira comercial não tarifária. As Figura BVG.6.1 Governos autocráticos promovem o “governo eletrônico” enquanto censuram a internet a. Fornecimento de governo eletrônico b. Nível de filtragem da internet por forma de governo por forma de governo 1,0 Substancial Índice de serviços on-line 0,8 Seletiva 0,6 0,4 Suspeita 0,.2 0 Nenhuma –10 –5 0 5 10 Autocracia Democracia Autocracia Democracia Tipo de conteúdo filtrado Político Social Conflito e segurança Fontes: Equipe do WDR, com base na Polity IV 2015; UN 2014; Open Net Initiative 2013. Consultar dados em http://bit.co/WRD2016-FigB0_6_1. Observação: O projeto Polity IV define os tipos de governo com base em características como competitividade e abertura no recrutamento de executivos, restrições acerca do diretor executivo, além de regulamentação e competitividade da participação no processo político. A pontuação combinada varia de -10 para uma autocracia pura, até +10, para uma democracia pura. Consulte o manual do usuário do Polity IV para obter detalhes. (Box continua na página seguinte) VISÃO GERAL 27 Box VG.6  Encontrar uma agulha no palheiro – restrições ao fluxo de informações (continuação) empresas locais preencherão a lacuna. Isso pode ser conside- enfrentarão um volume menor de concorrência que estimula rado um benefício econômico ou uma transferência econômica a inovação. Quinto, a disseminação da censura significa que em vez de um custo. Mas impede o acesso de usuários nacio- as pessoas evitam discutir ou trocar ideias abertamente, um nais a produtos potencialmente melhores e os líderes internos pré-requisito para uma sociedade inovadora e produtiva. Fontes: Equipe do WDR 2016, com base em Saleh 2012; King, Pan e Roberts 2013; Bao 2013; HRW 2015. a. Elmer-Dewitt 1993. b. Clinton 2000. Box VG.7 A internet é um bem público? A internet não possui todas as características de um bem quando todos os outros estão mais bem informados e público genuíno. O acesso à internet muitas vezes requer quando os serviços públicos são fornecidos eletronicamente o pagamento de uma taxa e, portanto, as pessoas podem a um custo menor. ser efetivamente impedidas de utilizá-la. Mas, uma vez na O setor privado deve assumir a liderança no fornecimento internet, o consumo de informação por um usuário não reduz de infraestrutura e serviços de internet porque o argumento sua disponibilidade para os outros e, nesse sentido, ela é das empresas é geralmente convincente. Mas o investimento não-rival (embora as restrições de capacidade possam redu- ou a intervenção governamental é algumas vezes justificável zir a velocidade do acesso). Uma forma de descrever a inter- quando o setor privado não consegue fornecer acesso a net é como um bem de clube, que é excluível, mas não-rival, preço razoável. Entre os precedentes históricos estão a Lei como a TV a cabo; ou se a banda larga for escassa, como um de Comunicações dos Estados Unidos de 1934, que previa bem privado com fortes externalidades positivas – todos se “serviços de comunicação com fio e por rádio” mesmo em beneficiam quando mais pessoas entram on-line. À medida áreas rurais remotas. Alguns países foram ainda mais longe. que mais serviços e informações essenciais migram para a A Finlândia, por exemplo, definiu o acesso à internet com web, qualquer pessoa sem acesso torna-se quase um cida- velocidades de banda larga como um direito garantido por dão de segunda classe. E todos os cidadãos beneficiam-se lei e busca uma política de acesso universal. Fonte: Equipe do WDR 2016. Box VG.8 Os quatro possibilitadores digitais O WDR 2016 examina de que modo a internet aumenta os custos dos envios de remessas. Os empréstimos entre a produtividade das empresas, as oportunidades para as pares podem aumentar consideravelmente o acesso finan- pessoas e a eficácia dos governos. Nesses contextos, quatro ceiro das empresas emergentes. Os governos podem efetuar importantes possibilitadores do desenvolvimento digital são pagamentos e transferências sociais por um custo mais baixo fundamentais. Quatro destaques no Relatório discutem os e com menos fraude e menos perdas. Contudo, se as regula- benefícios e os riscos potenciais. mentações financeiras não acompanharem o rápido avanço tecnológico, essas inovações correm o risco de prejudicar a Finanças digitais. Os bancos foram pioneiros ansiosos das estabilidade do sistema em geral. tecnologias digitais, mas muitas das principais inovações, tais como pagamentos on-line, dinheiro móvel e moedas Mídia social. As redes sociais são fundamentais para a digitais, originaram-se de instituições não bancárias, inclu- sociedade humana, e as tecnologias digitais aceleraram sua sive empresas de telecomunicações e de internet. Algumas criação. Acredita-se que mais de um quinto da população dessas inovações consolidaram-se primeiro em países mundial faça parte de uma ou mais plataformas de mídia emergentes, onde superaram as deficiências dos sistemas social. Essas plataformas receberam o crédito por facilitar financeiros tradicionais. Seus benefícios são amplamente interações economicamente proveitosas, por canalizar o disseminados. Os pagamentos seguros on-line alimentam o comportamento dos usuários de maneiras que sejam coe- comércio eletrônico. As transferências eletrônicas reduzem rentes com o desenvolvimento, fornecer uma plataforma (Box continua na página seguinte) 28 RELATÓRIO SOBRE O DESENVOLVIMENTO MUNDIAL DE 2016 Box VG.8 Os quatro possiblitadores digitais (continuação) para a informação e divulgação durante desastres naturais e por exemplo, contratos legalmente válidos e votação nas emergências e por incentivar a mobilização política e eleições nacionais. a mudança social. Alguns analistas consideram que a mídia social tenha desempenhado um papel fundamental Revolução dos dados. No aproveitamento de dados para o em eventos recentes, como a Primavera Árabe e Ocupe desenvolvimento, a atenção concentra-se em duas inova- Wall Street e, com isso, foram úteis na disseminação de ções sobrepostas: big data e dados abertos. Big data são ideias democráticas, embora muitos ainda sejam céticos volumosos ou rápidos e têm um sem número de origens – de a respeito do seu real impacto. Ainda há muito a aprender satélites a sensores e de nuvens a multidões. A análise de big sobre o papel que as mídias sociais podem desempenhar data está sendo empregada para aprimorar o planejamento no desenvolvimento. Apesar de serem uma fonte de ideias do tráfego, calcular macroagregados (também chamados de inovadoras, as mídias sociais também continuam a ser canais “previsões a curto prazo”), acompanhar a disseminação de de intriga, calúnia, desinformação, assédio, bullying e crime. epidemias e melhorar a pontuação de crédito e a correspon- Uma lição importante é que o impacto da mídia social sobre dência entre a oferta e a procura de empregos. Dados aber- o desenvolvimento parece ser muito específico do contexto. tos são aqueles de acesso livre e fácil, legíveis por máquina e A variação quanto ao acesso à tecnologia, educação e con- de uso explicitamente irrestrito. Os governos são, ou podem texto sociopolítico mais amplo, faz a diferença. Um exemplo ser, a mais importante fonte de dados abertos. Estimativas disso é que existem evidências de que em países mais auto- exuberantes do valor econômico atual e potencial de big cráticos é menor a probabilidade de as pessoas encaminha- data e dados abertos variam entre centenas de bilhões a rem informações (como, por exemplo, “retuitando-as”). trilhões de dólares por ano. Embora constantes e de grande impacto, os exemplos ampliados de big data e dados abertos Identidade digital. Ser capaz de provar quem somos pode nos países em desenvolvimento ainda são relativamente parecer banal, mas pode fazer toda a diferença para as raros. A maior parte de big data está nas mãos da iniciativa pessoas excluídas de empregos e serviços. Sistemas ele- privada – grandes empresas de telecomunicações e internet trônicos de identificação simples, que em geral utilizam que relutam em compartilhá-los por temerem colocar em características biométricas, tornaram-se uma plataforma risco a privacidade dos clientes ou a competitividade das eficaz para transações bancárias seguras, votação, acesso empresas. Os órgãos públicos também temem compartilhar a serviços sociais, pagamento de contas de serviços públi- dados, mesmo quando eles representam grandes benefícios cos e muito mais. Muitos países, da Moldávia à Nigéria e para a população. Por exemplo: dentre os países pesquisados Omã, introduziram identificações digitais. A Índia está em pelo Barômetro de Dados Abertos, um terço dos países de vias de registrar toda a sua população utilizando sua ID renda alta e 85% dos países em desenvolvimento fizeram digital Aadhaar. Na Estônia e outros países, milhares de pouco ou nenhum progresso na abertura de dados de mapas. tipos diferentes de transações públicas e privadas são con- Os motivos são a falta de aptidões técnicas, recursos inade- firmadas com um sistema de identificação exclusivo, como, quados e a falta de disposição para expor os dados à análise. Figura VG.20 Um arcabouço de políticas para a melhoria da conectividade Primeiro quilômetro Políticas de Novas tecnologias Lado da oferta Quilômetro do meio concorrência Último quilômetro Parceria Regulamentação público-privada eficaz Universalização Quilômetro invisível da conectividade Censura e filtragem de conteúdo Conscientização e investimento Segurança cibernética Cooperação global Lado da procura Privacidade on-line Abordagem com múltiplas partes interessadas Governança da internet Ecossistema de acesso aberto para a inovação, polo de tecnologia e espaço do fabricante Fonte: Equipe do WDR 2016. VISÃO GERAL 29 As ameaças à segurança cibernética e a censura estão Um ambiente de negócios no qual as empresas •  solapando a segurança e a confiança na internet e podem utilizar-se da internet para competir e ino- aumentando os custos das empresas e dos governos, var para benefício dos consumidores acarretando prejuízos econômicos, bem como mais Trabalhadores, empresários e servidores públicos •  gastos com segurança. Para fins de privacidade e pro- que tenham as aptidões corretas para beneficiar-se teção de dados, os diferentes países estão adotando das oportunidades no mundo digital abordagens bastante diferentes. Isso dificulta o desen- Um governo responsável que utiliza com eficácia •  volvimento de serviços globais. A garantia de acesso a internet para capacitar seus cidadãos e prestar seguro e protegido exigirá o aumento da colaboração serviços. internacional, com base em um modelo com vários O que essas prioridades destacam é que os elemen- interessados. tos essenciais da agenda do desenvolvimento – regu- lamentações de empresas que facilitem o ingresso Complementos analógicos no mercado, sistemas de educação e treinamento que proporcionem as aptidões que as empresas bus- para uma economia digital cam e instituições capazes e responsáveis – estão se tornando mais importantes com a disseminação da A internet dispõe de um excelente potencial para pro- internet. Não fazer as reformas necessárias significa mover o desenvolvimento econômico, mas somente ficar muito atrás daqueles que as fazem, embora o parte desse potencial foi realizado até agora. Ela afeta investimento em tecnologia e seus complementos os mercados estabelecidos para produtos, serviços e seja a chave para a transformação digital. mão de obra e prejudica o setor público – importan- O uso da internet ainda varia muito entre os tes motivos para a frequente relutância em adotar e países, assim como varia a qualidade dos comple- implementar a internet de modo mais abrangente. mentos e ambos tendem a aumentar com a receita Mas haverá benefícios para aqueles que adotarem as (Figura  VG.21). As prioridades das políticas mudam à mudanças que a internet proporciona, não para quem medida que os países avançam ao longo da transfor- resistir a elas. E a maneira de alcançar o crescimento mação digital (Figura VG.22). Os países nos quais o inclusivo habilitado pela internet sem contratempos uso da internet ainda é baixo devem lançar as bases de longo prazo é fortalecer os complementos analógi- – como a remoção de barreiras ao acesso à internet e cos dos investimentos digitais (Box VG.9). Três objeti- sua adoção, a promoção de conhecimentos básicos e de vos de políticas resultam da análise feita no Relatório. alfabetização digital e o uso da internet para funções Box VG.9 Tecnologia e complementos: Lições da pesquisa acadêmica A pesquisa recente sobre crescimento, mercados de trabalho automatizadas. Trabalhadores com as aptidões corretas e governança lançou um novo olhar sobre a interação entre a utilizarão a tecnologia para tornarem-se mais produtivos. tecnologia e outros fatores. Essas percepções fundamentam Consideremos um moderno assistente de escritório que a discussão das prioridades de políticas neste Relatório. utilize tecnologias digitais para executar tarefas de rotina rapidamente e agora dedique muito mais tempo à interação Regras. A tecnologia interage com regras (como regulamen- pessoal, programações complexas e outras tarefas que os tações e padrões) para gerar novas ideias, tais como novas computadores não podem executar com facilidade. maneiras de produzir bens e serviços. A tecnologia é nego- ciada entre mercados e fronteiras, ao passo que a maioria das Instituições. A tecnologia interage com discernimento. Muitas regras é criada localmente. Quando encontra regras que não tarefas governamentais também podem ser automatizadas, são compatíveis, a tecnologia não proporciona os benefícios mas outras envolvem um alto nível de discernimento. Isso esperados. Empresas novas podem adquirir a tecnologia da significa que mesmo que a internet possa aumentar a eficiên- internet para reduzir preços e aumentar a comodidade para cia de muitas funções do serviço público, os benefícios serão os consumidores, mas elas não conseguirão entrar no mer- limitados quando as autoridades governamentais e os traba- cado e competir se as regulamentações locais protegerem as lhadores não tiverem os incentivos para usar a tecnologia para empresas constituídas. o bem público. A frequência dos professores pode ser moni- torada com razoável facilidade com emprego de tecnologias Aptidões. A tecnologia interage com as aptidões dos digitais, mas a qualidade do ensino depende do treinamento, trabalhadores. Ela permite que tarefas de rotina sejam recursos, capacidade e motivação dos professores. Fontes: Romer 2010; Autor 2014; Pritchett, Woolcock e Samji, no prelo. 30 RELATÓRIO SOBRE O DESENVOLVIMENTO MUNDIAL DE 2016 Figura VG.21 A qualidade dos complementos e da tecnologia aumenta com as receitas 1.0 E M TRANSFO R M A ÇÃ O FIN CHE SGP CAN NOR 0.9 NZL AUS DNK SWE NLD IRL BEL USA GBR EST SVN ISL LUX 0.8 DEU CYP FRA LTU LVA JPN PRT KOR MYS MLT AUT BRB ARE CZE CHL 0.7 HUN QAT ISR MUS ESP POL SVK GEO HRV ROU ITA TTO CRI BGR SYC GRC MKD URY 0.6 BWA PAN JOR SRB ARM GUY ALB RUS Complementos LKA UKR MEX KAZ ZMB SLV TUN MNG TUR KGZ THA COL GHA RWA ZAF SAU BHR 0.5 LSO BLZ PHL MAR PER BRN BEN UZB CHN SEN VNM ARG IDN DOM LBR TJK KWT SWZ GAB NIC IRN NAM KEN GTM TZA ECU BRA BGD 0.4 LAO CMR NPL IND BDI SLE GMB HND EGY MOZ PRY PAK BOL MWI DZA MRT NGA 0.3 EM T R A NSIÇÃ O ETH YEM ZWE MLI LBY AGO VEN KHM 0.2 HTI 0.1 EMERGENTES 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0 Tecnologia Renda alta Renda média-baixa Renda média-alta Renda baixa Fonte: Equipe do WDR 2016. Consultar dados em: http://bit.do/WDR2016-FigO_21. Observação: A tecnologia é medida pelo Índice de Adoção Digital (DAI). A DAI baseia-se em três subíndices setoriais que abrangem empresas, pessoas e governos. Todos os subíndices recebem peso igual: DAI (Economia) = DAI (Empresas) + DAI (Pessoas) + DAI (Governos). Cada subíndice é a média simples de vários indicadores normalizados que medem a taxa de adoção para os grupos pertinentes. Da mesma forma, “complementos” é a média de três subindicadores: abrir uma empresa; anos de instrução ajustados para as aptidões e qualidade das instituições. governamentais elementares, tais como o forneci- Eles precisam encontrar maneiras de facilitar a concor- mento de informações. À medida que os países fazem a rência na “nova economia”, garantir a aprendizagem transição para níveis mais elevados de uso da internet, continuada e responder às alterações da natureza do eles necessitam de regulamentação eficaz sobre a con- trabalho, além de usar a internet para a maioria das corrência e seu cumprimento – inclusive a facilidade funções governamentais e para uma formulação de de entrada e saída das empresas; um maior foco nas políticas mais participativa. habilidades cognitivas e socioemocionais avançadas que são ampliadas pela tecnologia; e sistemas eficazes Regulamentos que promovem de fornecimento de governo eletrônico para a gestão de a concorrência e o ingresso fornecedores e a participação dos cidadãos. Os países A adoção digital pelas empresas varia entre os em estágios avançados de transformação digital preci- países e existem motivos para que ela seja lenta. sam enfrentar algumas das tarefas mais desafiadoras. Fundamentalmente, a adoção requer conhecimento VISÃO GERAL 31 Figura VG.22 Prioridades de políticas para países emergentes, que estão em transição ou em transformação EMERGENTES EM TRANSIÇÃO EM TRANSFORMAÇÃO REGULAMENTAÇÕES Regulamentação Concorrência Remover barreiras sobre a entre Que promovem a à adoção concorrência e seu concorrência e a plataformas cumprimento entrada no mercado APTIDÕES Aptidões Preparar para carreiras em vez Facilitar a Para aproveitar fundamentais e aprendizagem alfabetização de para as oportunidades continuada básica em TIC empregos digitais INSTITUIÇÕES Serviços e Fornecimento de Formulação monitoramento governo eletrônico e participativa de Que são capacitadas baseados na participação dos políticas e e responsáveis telefonia móvel cidadãos participação digital Observação: TIC = Tecnologia da informação e comunicação acerca da tecnologia, acesso a ela e conhecimento sobre Turquia, onde a tributação aumenta em quase 50% a melhor maneira de aplicá-la. Mas o impulsor mais o preço dos dispositivos portáteis.33 O imposto sobre importante é a pressão da concorrência, uma vez que computadores em Djibuti é de 26%. Muitos países as empresas que adotam a nova tecnologia aumentam tratam suas empresas de telecom como “máquinas sua produtividade e as que não o fazem ficam para de fazer dinheiro”. Nos casos em que as empresas tal- trás. Isso ressalta o papel fundamental do clima de vez tenham conhecimento limitado acerca de como negócios de um país. Ele inclui leis e regulamentos que a internet pode melhorar seus negócios, exercícios garantem a facilidade de entrada e saída das empresas de benchmarking e programas de informação podem e um regime comercial aberto que expõe as empresas ser eficazes. E para permitir que mais empresas ino- à concorrência e ao investimento estrangeiro. Existe vadoras ingressem nos mercados com facilidade, os uma dimensão de economia política também – interes- países precisam aprimorar o registro de empresas e ses especiais influenciam os reguladores a manter os criar maior transparência do mercado para reduzir o mercados fechados para a concorrência. Isso diminui conluio sobre preços, a participação no mercado e a a necessidade de as empresas buscarem a fronteira manipulação de aquisições públicas. Os sistemas de tecnológica. Onde os bancos são severamente regula- governo eletrônico, tais como registros de empresas mentados e protegidos contra novos entrantes no mer- on-line e sistemas de aquisições eletrônicas podem cado, eles têm menos incentivo para investir em tecno- simplificar esses processos e produzir mais abertura. logia que aumente a eficiência, que também poderia ajudá-los a atender melhor os clientes ou a conquistar Aumento da concorrência por meio de novos clientes. Mas a política de concorrência e sua regulamentação eficaz e sua aplicação aplicação são complexas e muitos países de renda baixa O controle do estado nos setores econômicos, as barrei- carecem da capacidade de planejá-las e implementá-las ras ao empreendedorismo e as restrições ao comércio com eficácia. e ao investimento reduzem os incentivos para que as empresas dos setores protegidos utilizem tecnologias Reduzir as barreiras à adoção digitais. A maioria dos países dispõe de uma autoridade da tecnologia digital de concorrência, embora muitas delas sejam bastante Em países onde a economia digital ainda está se recentes e sua aplicação varie, especialmente quando o iniciando, a prioridade é facilitar a conectividade e Estado ou empresas interligadas politicamente benefi- desenvolver a base para uma regulamentação eficaz ciam-se das restrições ao mercado. Ademais, a internet da concorrência. Embora 74 países, principalmente facilita a prestação de serviços on-line de qualquer de renda média e alta, tenham removido unilateral- parte do mundo e, portanto, o modo como o comércio mente os impostos sobre os bens de capital de TIC, de serviços é regulamentado torna-se cada vez mais os computadores e smartphones ainda são tratados importante. Etiópia, Índia e Zimbábue têm as maiores como bens de luxo em alguns países, inclusive a restrições ao comércio de serviços, mas muitos outros 32 RELATÓRIO SOBRE O DESENVOLVIMENTO MUNDIAL DE 2016 Box VG.10 Abertura da plataforma de dinheiro móvel M-Pesa à concorrência O sistema de dinheiro móvel da Safaricom é uma história de justificassem porque a Safaricom incorreu em custos eleva- sucesso muito conhecida. Ele conseguiu crescer rapidamente dos para desenvolver o sistema. Mas, em 2014, a Autoridade porque, logo de início, os reguladores do sistema bancário de Concorrência do Quênia mudou as regras e abriu o sistema do Quênia decidiram adotar uma abordagem de não interfe- para operadores móveis alternativos. O custo de transação rência. Durante sete anos, a Safaricom manteve uma posição de transferências de até 500 xelins quenianos (US$  4,91) de liderança mediante acordos de exclusividade, retendo caiu de 66 para 44 xelins quenianos (US$ 0,43). os agentes no sistema. No início, esses acordos talvez se Fonte: Plaza, Yousefi e Ratha 2015 para o WDR 2016. países restringem serviços específicos, tais como cartão de crédito com relação aos varejistas. Pesquisas tarefas jurídicas ou de contabilidade. Os países podem feitas por economistas como Jean Tirole demonstra- aumentar a concorrência de suas economias e incen- ram que as regulamentações nesses setores devem ser tivar um maior uso das tecnologias digitais reduzindo cuidadosamente ajustadas para garantir a concorrên- gradualmente as distorções do mercado ao mesmo cia e evitar prejudicar os consumidores. São problemas tempo em que criam uma fiscalização eficaz da con- muito complexos e extremamente prementes nos paí- corrência. Isso se aplica tanto às empresas tradicionais ses em transformação. Os países em desenvolvimento que utilizam a internet quanto às plataformas de inter- têm a vantagem de poder aprender com a experiência net (Box VG.10). dos países em transformação antes de planejarem suas próprias soluções. Ajuste das regulamentações da “nova economia” para garantir a concorrência Aptidões para a economia digital As empresas de internet criam novos modelos de negó- Mudança tecnológica significa que muitas tarefas de cio e alteram a estrutura do mercado, impondo novos rotina brevemente serão executadas por máquinas. Ao desafios às autoridades normativas. As empresas de contrário de episódios anteriores, a internet também economia por demanda, como Uber e Airbnb elevaram tornará desnecessárias muitas tarefas realizadas por o transporte solidário e a sublocação à escala global. profissionais de colarinho branco. Isso valoriza os dife- Mas os reguladores têm dificuldade de determinar se rentes tipos de aptidões que a automação complementa essas são empresas de táxi ou de hotelaria ou simples- em vez de substituir (Figura VG.23). Os sistemas de mente fornecedores de software. Os concorrentes off- educação têm sido lentos para responder a esse desafio. -line reclamam que elas não seguem as mesmas regu- Além disso, o ritmo da mudança é acelerado, e os tipos lamentações. Nos casos em que esses setores tendem a de aptidões necessárias mudam rapidamente. Assim, ser excessivamente regulamentados e seus mercados os trabalhadores terão que atualizar suas aptidões com distorcidos, como é geralmente o caso das empresas frequência ao longo de suas carreiras. Essas dinâmicas de táxi, essa nova concorrência pode incentivar uma já são utilizadas em muitos países em transformação e reformulação geral do setor. Nos Estados Unidos, cida- alguns em transição, mas mesmo nos países emergen- des como Nova Iorque e estados como Massachusetts tes não é cedo demais para preparar-se. começaram a desenvolver regulamentações apropria- das para essas plataformas, impondo obrigações de Começar cedo com aptidões básicas segurança e tributos, mas também reduzindo a carga O desenvolvimento de aptidões começa ao nascer e regulamentar dos seus concorrentes. dura toda a vida. A boa maternidade e paternidade e Quebra-cabeças normativos semelhantes são a estimulação precoce preparam as crianças para a representados por empresas como Amazon, Facebook escola, onde são criadas as bases cognitivas e socio- e Google. O Google, por exemplo, é conhecido como emocionais. A tecnologia pode desempenhar um uma empresa de mecanismo de busca, mas pode ser papel importante. Embora o registro sobre o simples mais bem descrito como uma empresa de propaganda. fornecimento de notebooks ou tablets aos alunos seja Essas empresas tumultuam a legislação de concorrên- confuso, a videoconferência com falantes de inglês cia convencional porque não atuam como monopólios das Filipinas melhorou a aprendizagem entre os alu- tradicionais. Seus serviços são muitas vezes gratuitos nos da primeira série no Uruguai. A Khan Academy para os consumidores. Mas, diante de sua predomi- oferece recursos para a aprendizagem independente nância nos mercados de anúncios e livros on-line, elas e, utilizando uma abordagem de jogos no ensino da têm uma vantagem considerável sobre os negociantes matemática, beneficiou os alunos da quarta série e livreiros. Isso é semelhante à posição das empresas de em Mumbai. Mas nesses e em muitos outros casos, VISÃO GERAL 33 Figura VG.23 Os tipos de aptidões necessárias em uma economia moderna Cognitivas Sociais e comportamentais Técnicas Alfabetização, a aritmética e Destreza manual e o uso aptidões cognitivas mais elevadas Aptidões socioemocionais de métodos, materiais, (Por exemplo, raciocínio e traços de personalidade ferramentas e instrumentos e pensamento criativo) Aptidões técnicas desenvolvidas Capacidade de solucionar Abertura para experiências, por meio de educação problemas rudimentares versus escrúpulo, extroversão, pós-secundária ou treinamento, conhecimento para amabilidade e ou ainda conhecimentos resolver problemas estabilidade emocional adquiridos no trabalho Capacidade verbal, habilidade Aptidões relacionadas com para a aritmética, solução Autocontrole, determinação, ocupações específicas (por de problemas, memória atitude mental, tomada de decisão exemplo, engenheiro, economista e rapidez mental e habilidades interpessoais ou especialista de TI) Fonte: Equipe do WDR 2016, adaptado de Pierre, Sanchez Puerta e Valério 2014. Observação: TI = Tecnologia da Informação. um fator foi mais importante: a qualidade do ensino. Repensar currículos e métodos de ensino Não é coincidência que a Finlândia, um dos países Os atuais sistemas educacionais precisam preparar mais conectados e com melhor desempenho em os alunos para uma carreira e não apenas para um testes educacionais, utilize muito pouca tecnologia emprego. Os mercados de trabalho modernos exigem na sala de aula. Entretanto, é preciso tempo para criatividade, trabalho em equipe, solução de problemas melhorar a qualidade dos professores. Mas a tecno- e pensamento crítico nos ambientes em constante logia também pode ajudar nisso, como demonstra a evolução – aptidões que os sistemas educacionais plataforma Educopédia do Rio de Janeiro (Box VG.11). tradicionais não ensinam e que são os mais difíceis de O uso da tecnologia para orientar de perto o ensino é mensurar. Muitos países estão repensando sua aborda- a segunda melhor opção para melhorar os resultados gem. Cingapura está passando de um modelo bastante da aprendizagem com baixo custo nos lugares onde a rígido e “voltado para a eficiência” que tentou obter os capacitação de professores provavelmente não produ- melhores resultados dos investimentos (professores e zirá resultados rápidos. Esse é o modelo utilizado pela finanças), para um modelo “voltado para a capacidade”, Bridge Academy, uma instituição com fins lucrativos que enfatiza o trabalho em projetos e menos avaliações no Quênia e em outros países, onde as instruções em em vez de testes frequentes. O modelo Escuela Nueva forma de roteiro e as tarefas administrativas automa- da Colômbia, que hoje atende a 5 milhões de estudan- tizadas ajudam a fornecer educação a preço reduzido. tes em 16 países, também enfoca a aprendizagem em Embora ainda precisem ser rigorosamente avaliadas, grupo e a solução de problemas. Essas abordagens essas abordagens prometem aprimorar a educação. mudam o relacionamento entre professor e aluno. Não Box VG.11 Mobilização da tecnologia no ensino na Educopédia do Rio de Janeiro Em 2010, a Secretaria de Educação do Rio de Janeiro Atende atualmente a quase 700 mil estudantes. Ainda não desenvolveu a plataforma on-line Educopédia com aulas foi avaliado formalmente mas, juntamente com outras refor- e outros recursos a fim de aprimorar o ensino nas escolas mas, provavelmente contribuiu para um aumento de mais públicas. O sistema enfoca tanto o fornecimento de mate- de 20% no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica riais para o professor aprimorar suas aulas, quanto o acesso nas escolas de ensino médio entre 2009 e 2012. E 80% dos dos alunos a recursos de aprendizagem. Utiliza multimídia, estudantes do Rio de Janeiro concordaram que a Educopédia como vídeos, questionários interativos e bibliotecas digitais. ajuda em seus esforços de aprendizagem. Fonte: Bruns e Luque 2014. 34 RELATÓRIO SOBRE O DESENVOLVIMENTO MUNDIAL DE 2016 mais simples fontes de informação, os professores a responsabilização. Para as políticas, isso significa devem agora instruir os alunos sobre como encon- uma estratégia dupla: adaptar o emprego de tecno- trar informações e aplicá-las em um contexto novo e logias digitais aos ambientes com responsabilização inesperado. Isso requer alterações no treinamento de limitada no curto prazo e fortalecer as instituições no professores. Existem muitos exemplos de como as tec- longo prazo (Tabela VG.3). nologias digitais podem auxiliar professores e alunos – permitindo o trabalho em grupo entre salas de aula Melhorar os serviços de informação conectadas on-line, aplicativos que estimulam a criati- e o monitoramento vidade e a solução de problemas e jogos projetados para Embora o acesso à internet ainda seja baixo em mui- a educação (“gameficação”). tas economias emergentes, os telefones celulares são muito disseminados e têm grande potencial para Desenvolver aptidões tecnológicas melhorar os serviços. No setor de saúde, lembretes avançadas e incentivo à aprendizagem simples baseados na telefonia celular têm sido efi- continuada cazes para os pacientes de HIV do Maláui tomarem À medida que cada vez mais partes da economia depen- os medicamentos e para fornecer informações sobre derem pesadamente da internet, a demanda por apti- saúde materna na República Democrática do Congo. dões de TIC também crescerá. Somente uma pequena Os telefones podem dar suporte ao monitoramento de parcela da força de trabalho estará envolvida no desen- professores ou de outros funcionários do governo onde volvimento de software ou de design de sistemas, mas o absenteísmo é um problema, mesmo que o monito- a exposição de crianças à codificação e aos conceitos ramento por si só seja insuficiente para aprimorar a básicos de TIC pode influenciar as escolhas de carreira qualidade dos serviços ou os resultados (Box  VG.12) para alguns e transmitir um entendimento básico O monitoramento torna-se também importante na para muitos. NairoBits, uma organização de jovens prestação de serviços por entidades não governamen- no Quênia, expõe jovens desfavorecidos de assenta- tais em contextos institucionais frágeis, onde orga- mentos informais ao web design e outras aptidões de nizações com e sem fins lucrativos prestam serviços TIC, ao passo que AkiraChix atende “meninas geek.” As geralmente financiados pelo governo. E as tecnologias mulheres tendem a ter pouca representação nas áreas digitais podem melhorar a responsabilização eleitoral. de TIC, e o incentivo para que meninas ingressem nes- No Afeganistão, Quênia e Moçambique, o monitora- sas profissões e em empresas de TIC de modo a criar mento das eleições com o uso de telefones celulares ambientes propícios a mulheres aumentará a disponi- ajudou a desvendar a fraude e reduziu a violência nas bilidade de força de trabalho em áreas com crescente eleições. Isso pode complementar – ou, mesmo em demanda de mão de obra. Com a probabilidade de a ambientes de baixa capacidade, substituir – aborda- tecnologia continuar a avançar mais e influenciar mais gens mais exigentes, tais como identificação biomé- ocupações, os trabalhadores precisam fazer constantes trica (ver destaque 4 no Relatório completo). reavaliações e atualizar suas aptidões. Grande parte disso acontecerá fora do sistema educacional formal, Fortalecer o fornecimento de governo mas os governos podem fornecer os incentivos para as eletrônico e a participação dos cidadãos empresas e os trabalhadores criarem os mecanismos Onde os investimentos para automatizar a prestação de para a aprendizagem continuada. serviços dos governos têm avançado, as melhorias complementares em regulamentações, cooperação Instituições que devem prestar contas interdepartamental e simplificação tornam-se mais aos cidadãos importantes. Em vez de apenas reproduzir processos Embora a internet tenha permitido que muitos desajeitados, como regulamentações de empresas governos forneçam alguns serviços básicos com mais on-line, a automação oferece uma oportunidade para eficiência, até o momento a tecnologia não fortaleceu simplificar etapas, aumentando o impacto, bem como a Tabela VG.3 Políticas prioritárias para melhorar a prestação de serviços Países emergentes: Criar as bases Países em transição: Construir Países em transformação: para instituições mais eficazes instituições capazes e responsáveis Aprofundar as instituições colaborativas • Melhorar os serviços de informação • Fortalecer os sistemas de prestação • Melhorar a colaboração para os cidadãos governamentais no governo e além dele • Fortalecer o monitoramento e o • Fortalecer a gestão dos prestadores • Aumentar a formulação pagamento dos prestadores de serviço participativa de políticas • Obter feedback regular dos usuários • Gerar registros da população sobre a qualidade dos serviços • Aumentar a prestação de serviços • Aumentar a transparência em que não sejam do Estado áreas prioritárias • Aumentar a responsabilização eleitoral VISÃO GERAL 35 Box VG.12 O monitoramento contínuo e as pequenas sanções podem melhorar o desempenho dos prestadores de serviços? Os sistemas de monitoramento tradicionais são dispendiosos serem punidas, mas as multas são menores, as violações e complexos. As novas tecnologias reduzem esses custos, tornam-se mais raras. A ideia pode ser estendida ao moni- permitindo que as recompensas ou punições sejam mais toramento dos serviços públicos. No Níger, um sistema de imediatas e frequentes. A ideia vem de inovações na justiça monitoramento bem projetado habilitado por telefones criminal. Os infratores em geral enfrentam uma baixa pro- celulares motivou os professores, porque eles sentiram que babilidade de serem apanhados, mas a punição é pesada. seus superiores distantes se preocupavam com seu trabalho Quando as pessoas enfrentam uma alta probabilidade de e se importavam com eles. Fontes: Romer 2013; Aker e Ksoll 2015. transparência. Os sistemas de aquisições eletrônicas elevado do ponto de vista social e econômico. Mas o reduzem o risco de corrupção, mas os países têm inves- risco de resultados negativos permanece. Voltando tido menos neles do que em sistemas orçamentários e à estrutura do Relatório (Figura VG.24), a coleta em de tesouraria. Com o maior uso da internet em um país, grande escala de informações identificáveis gera preo- o âmbito para a interação digital com os cidadãos tam- cupações sobre privacidade e segurança. A automação bém aumenta. Já que o acesso não é universal, há um muda o trabalho de maneiras que desafiam as prote- risco de deixar para trás aqueles que não estão conecta- ções sociais existentes e revelam a inadequação das leis dos. Mas os sistemas de feedback dos cidadãos reduzi- trabalhistas existentes. E as economias de escala criam ram problemas como pequena corrupção ou serviços preocupações antitruste. As salvaguardas digitais que ineficientes na República Dominicana, Nigéria e atenuam esses riscos tornam-se cada vez mais impor- Paquistão. Como disse o administrador de uma tantes à medida que a transformação digital avança. empresa de abastecimento de água: “Ao introduzirmos um sistema automatizado de gerenciamento de recla- Desenvolvimento de políticas mações pegamos um laço e colocamos em volta de de privacidade nossos próprios pescoços. Agora somos responsáveis!” O fluxo de dados coligidos na internet traz muitos benefícios para os consumidores e cidadãos, mas tam- Aprofundar a colaboração e a formulação bém gera o risco de abuso por meio de crime ciberné- participativa de políticas tico, discriminação ou manipulação. Em 2014, cerca de Mesmo nos países com sistemas de governo eletrônico 104  países tinham legislação sobre privacidade, mas avançados, seu uso continua surpreendentemente somente 51 deles eram países em desenvolvimento. baixo. Muitos cidadãos preferem maneiras tradicio- Os princípios básicos das leis sobre privacidade nais de interagir com o governo, como telefone ou eram bem claros. Elas devem dar aos usuários maior e-mail e, portanto, os sistemas paralelos continuam funcionando e a economia não acontece. O forneci- mento de incentivos, tais como restituições mais rápi- Figura VG.24 Salvaguardas digitais na estrutura das de impostos para declaração eletrônica ou maior do WDR conveniência por meio de serviços simplificados e estreitamente integrados entre órgãos aumenta o seu TECNOLOGIAS uso. A estrutura X-Road da Estônia integra os serviços DIGITAIS de todos os órgãos do governo, bem como grupos pri- vados ou grupos da sociedade civil, segundo protocolos que regem o intercâmbio de dados e os padrões de segurança.34 Praticamente qualquer transação – desde o pagamento do estacionamento até votar nas eleições nacionais – pode ser realizada pelo celular. Os benefí- Abundância de Informatização e Economia de “o cios tangíveis para os cidadãos levarão ao uso universal informações perda de emprego vencedor leva tudo” dos serviços de governo eletrônico, tornando essas plataformas adequadas também para a formulação participativa de políticas em base ampla. POLÍTICAS DE PROTEÇÃO POLÍTICAS PRIVACIDADE SOCIAL ANTITRUSTE Salvaguardas digitais O fortalecimento dos “complementos analógicos” garantirá um retorno dos investimentos digitais Fonte: Equipe do WDR 2016. 36 RELATÓRIO SOBRE O DESENVOLVIMENTO MUNDIAL DE 2016 controle (ou talvez copropriedade) dos seus dados e prioritárias estão regendo a internet, criando um tornar mais fácil a opção de não participar no ponto mercado digital global e fornecendo bens públicos de coleta. Mesmo quando essas leis existem é difícil globais – inclusive aqueles que promovem a redução evitar o abuso, especialmente onde a capacidade jurí- da pobreza e a sustentabilidade ambiental. dica e de aplicação da lei são frágeis. Controle da internet Adaptação dos sistemas de proteção social A internet surgiu de pesquisa do governo dos EUA na às alterações do mercado de trabalho década de 1970, mas à medida que ela se transformou A melhoria das aptidões ajudará muitos trabalhado- em uma rede global de redes, sua estrutura de gover- res a vencer os efeitos da automação habilitada pela nança mudou. Hoje a internet é administrada por uma internet. Mas as mudanças no mercado de trabalho coalizão internacional de governos, indústria, peritos também requerem repensar os sistemas tributários e técnicos e sociedade civil – no que é denominado de proteção social. A economia por demanda gera mais modelo com múltiplas partes interessadas. Os usuários empregos informais, transferindo as obrigações de dos Estados Unidos são hoje uma pequena minoria do seguro e ocupacionais para os trabalhadores autôno- número total de usuários da internet, diante do acen- mos. Regulamentações trabalhistas rigorosas, comuns tuado crescimento no número de usuários dos países nos países em desenvolvimento, e a dependência exces- em desenvolvimento, especialmente na Ásia. Muitos siva da tributação trabalhista estimulam a automação países estão exigindo representação mais significativa mais rápida tornando a contratação mais dispendiosa. nas discussões sobre como a internet deve ser regida. Seria melhor reforçar a proteção dos trabalhadores Além disso, a falta de confiança entre os países após independentemente dos contratos de trabalho, dis- o episódio Edward Snowden, a vigilância por órgãos sociando a seguridade social do emprego, oferecendo governamentais e os crescentes conflitos entre polí- assistência social independente e ajudando os traba- tica e regulamentações nacionais e as normas globais lhadores a fazer reciclagem profissional e encontrar levantaram questões sobre a governança da internet. novos empregos rapidamente. Em muitos países isso Vários países defendem um modelo multilateral de requer grandes reformas. E os países que estão apenas governança que daria aos governos nacionais maior começando a desenvolver sistemas de proteção social e poder na supervisão da internet, muito semelhante à a aprofundar as leis trabalhistas devem planejá-las para forma como as Nações Unidas, a União Internacional o ambiente de trabalho do século XXI, e não copiar o de Telecomunicações ou o Banco Mundial são gover- que os países industrializados criaram para um mundo nados atualmente. Os promotores da “participação de de trabalho muito diferente. múltiplas partes interessadas” defendem que o controle da internet por parte do Estado não deixaria espaço Criação de capacidade para a aplicação para a série de atores atualmente envolvidos na gover- de leis antitruste nança da internet e poderia abrir caminho para maior A reforma normativa que melhore o ambiente de negó- redução da privacidade e restrições no acesso às infor- cios é a principal prioridade. Mas mesmo nos países mações e no direito à livre expressão. A impossibilidade com políticas abrangentes sobre concorrência, inclu- de os grupos interessados na internet chegarem a um sive sobre facilidade para entrar e sair do mercado, consenso sobre os mecanismos futuros de governança haverá casos em que fusões, conluios ou definições de pode ser dispendiosa; alguns até mesmo sugerem que a preços discriminatórias prejudiquem os consumidores internet corre o risco de fragmentar-se em várias inter- mediante a criação de empresas excessivamente domi- nets locais ou regionais. A abordagem de base ampla e nantes ou mantendo afastados os concorrentes ino- participativa que envolva todas as partes interessadas é vadores. Como a internet ainda é bastante nova e seu considerada por muitos a mais adequada para garantir impacto nos mercados está em constante mudança, o o fluxo eficiente e irrestrito de informações essenciais desenvolvimento da capacidade para investigar e pro- para o desenvolvimento econômico. cessar violações complexas à lei de concorrência ainda levará tempo. Os casos acompanhados nos países de Criação de um mercado digital global renda alta podem oferecer uma orientação. A internet está incentivando maior intercâmbio transnacional de bens e serviços, permitindo aos consumidores e às empresas ultrapassar as fronteiras nacionais. Mas questões transnacionais – tais como as Cooperação global para barreiras aos fluxos de dados e a falta de coordenação solucionar problemas de regimes de direito de propriedade intelectual – estão prejudicando o crescimento das empresas de internet e globais subtraindo dos consumidores os ganhos do aumento A internet é verdadeiramente uma rede internacional. do comércio digital. Isso significa também que muitas Ela pode ser mais bem administrada com coordena- empresas emergentes de países menores com merca- ção entre os países e funcionar como uma plataforma dos internos relativamente modestos, especialmente potente para facilitar a cooperação global. Três áreas na Europa (Box VG.13), estão transferindo seus negócios VISÃO GERAL 37 Box VG.13 União Europeia: um mercado fragmentado para o comércio digital Apesar de ser, há várias décadas, um mercado único com Em maio de 2015, a Comissão Europeia (CE) anunciou fluxo livre de bens, serviços e pessoas, a União Europeia ainda planos para criar um Mercado Único Digital em três áreas funciona como um mercado fragmentado para o comércio principais de política. Primeiro, a CE deseja aumentar o digital. Os consumidores da UE preferem comprar de lojas acesso dos consumidores e das empresas a esses bens e on-line no seu próprio país. Enquanto 44% dos consumidores serviços digitais facilitando o comércio eletrônico, melho- fizeram compras on-line em uma empresa nacional em 2014, rando a entrega de encomendas e lidando com bloqueio somente 15% o fizeram de empresas em outro país da UE. geográfico onde o acesso a serviços ou conteúdo on-line As empresas também enfrentam muitas dificuldades para seja restrito a determinados países. Segundo, examinará o vender seus bens e serviços on-line em outros mercados da UE. ambiente regulatório quanto a telecomunicações, mídia, pla- Por exemplo, Copenhaguen na Dinamarca e Malmo na Suécia, estão separadas apenas por uma ponte de 8 km, entretanto taformas on-line e proteção de dados. Terceiro, incentivará uma encomenda enviada de Copenhague para Malmo custa mais investimento e inovação em TIC por meio de melhores € 27, ao passo que a mesma encomenda enviada de Malmo padrões e interoperabilidade, e mais uso de big data e cloud para Copenhague custa € 42. As empresas que enfrentam cus- computing. Se as reformas da UE para criar um mercado tos elevados para adaptar-se às várias leis nacionais acreditam digital comum forem bem-sucedidas, elas podem tornar-se que os custos superem os benefícios de vender on-line. um modelo para outras regiões do mundo. Fonte: Comissão Europeia (CE 2015) para os Estados Unidos tão logo alcançam uma deter- Fornecimento de bens públicos globais minada escala. A pequena escala imposta pelas barrei- O desenvolvimento sustentável e a redução da pobreza ras transnacionais podem também, em parte, explicar são um foco das parcerias globais. Muitos proble- por que as empresas de comércio eletrônico estão, com mas ambientais – mudança do clima, destruição da frequência, perdendo dinheiro na África, enquanto são camada de ozônio, poluição do ar, epidemias – são ele- lucrativas na China e na Índia. mentos de sistemas ambientais, econômicos e sociais Alguns países estão levando em consideração nor- interconectados globalmente e requerem cooperação mas que tornem legalmente obrigatório que dados de global. Qual é o papel dos órgãos de desenvolvimento, seus cidadãos ou sobre eles permaneçam dentro de organizações não governamentais (ONGs) e organiza- suas fronteiras nacionais, o que também é chamado ções internacionais em um mundo no qual sua impor- de localização de dados ou nacionalismo de dados. tância financeira é pequena? Os dados e as revoluções Embora tais barreiras possam originar-se de preocupa- tecnológicas chegam a tempo de preencher a lacuna ções legítimas acerca da privacidade e segurança das entre seus recursos e sua ambição potencializando os informações de seus cidadãos, elas podem ter custo ele- impactos da ação e incluindo mais pessoas na formu- vado. Um estudo sobre seis países em desenvolvimento lação e execução de planos. Mas, para isso funcionar, e os 28 países da UE constatou que tais regulamenta- os atores do desenvolvimento devem superar as res- ções podem reduzir o PIB em até 1,7%, os investimentos trições de políticas, internas e externas. em até 4,2% e as exportações em até 1,7%.35 Restrições Começar com o como das operações de desen- aos fluxos de dados enfrentam o risco de tornar-se uma volvimento. Com as novas tecnologias, os órgãos de nova ferramenta para o protecionismo – disfarçada desenvolvimento podem ser mais inclusivos explo- para impedir o comércio e a atividade econômica ou rando a sabedoria benéfica no planejamento das para incentivar setores internos voltados para dados. intervenções. Eles podem obter eficiência usando Ao mesmo tempo, os países devem facilitar para as feedback rápido para aprimorar suas ações por meio empresas a tarefa de proteção de seus direitos de pro- de tentativa e erro. Mas essas abordagens não surgem priedade intelectual (PI) – porém dentro de limites que com facilidade nas organizações que priorizam gas- não confiram proteções excessivas a empresas grandes tos e produtos em vez de resultados, têm estruturas e bem conectadas, sob pena de sufocar a inovação e a pesadas para responsabilização e consideram qual- criatividade. O processo de solicitação de licenças de quer falha como prejudicial, mais que informativa. Se propriedade intelectual deve ser harmonizado, simpli- os órgãos tradicionais não conseguirem se adaptar, ficado e globalizado – de modo que as empresas neces- alguns de seus negócios poderão ser açambarcados sitem somente registrar suas patentes ou marcas em por recém-chegados perturbadores. qualquer país signatário para protegê-las nos outros Em seguida, o que. Os órgãos de desenvolvimento países membros. podem apoiar serviços de informação que ajudem 38 RELATÓRIO SOBRE O DESENVOLVIMENTO MUNDIAL DE 2016 pessoas e gerentes de sistemas a tomar decisões 2. A defasagem entre criação, adoção e aprendizagem melhores de maneiras que promovam a redução da da tecnologia para ser usada da forma mais eficaz pobreza. Esses serviços têm custos fixos de instalação explica parte disso. As dificuldades em medir o papel em software e conjunto de dados, mas podem ter cus- da tecnologia são outra explicação parcial para a tos próximos de zero para a distribuição de informa- defasagem entre casos individuais de benefícios ções. Assim, o setor privado tenderá a esquivar-se do substanciais e macroefeitos modestos. O impacto da fornecimento desses serviços ou definirá seus preços tecnologia é sentido em toda a economia, no mundo em um nível que exclua as pessoas de baixa renda que do trabalho e em muitos aspectos da vida pessoal. poderiam beneficiar-se. Uma área na qual a necessi- E muitos benefícios surgem sob a forma de melhor qualidade ou conveniência – benefícios não monetá- dade de cooperação e apoio internacionais é espe- rios não refletidos nas cifras do PIB. cialmente sensível, é a coleta e distribuição de dados 3. Mesmo se o progresso rápido da inteligência artifi- sobre a previsão do tempo, clima e cursos d’água cial puder solucionar alguns desses problemas, isso transfronteiriços que são extremamente importantes poderia levar décadas (ver destaque 6 do Relatório para enfrentar a mudança climática, melhorar a ges- completo). Neste ínterim, não seria prudente os tão dos recursos naturais e apoiar a agricultura. formuladores de políticas simplesmente esperarem Órgãos externos e organizações internacionais e observarem. podem ajudar com o financiamento direcionado 4. Acemoglu e Robinson 2014. – por exemplo, preenchendo a lacuna nas estações 5. Ver Comin 2014. meteorológicas da África. Eles podem apoiar investi- 6. Ver Graham e Foster 2014. mentos complementares a plataformas de informa- 7. Embora a internet reduza o custo da informação, ção. E podem encontrar maneiras de incentivar os não diminui necessariamente o esforço dos seres setores público e privado, tanto no mundo desenvol- humanos para processar a a informação. De fato, a vido quanto em desenvolvimento, a abrir e partilhar sobrecarga da informação, em combinação com ten- os dados sobre bens públicos. denciosidades comportamentais, pode promover o comportamento de manada, ampliar os fatos ou até mesmo ser objeto de abuso por parte do marketing Colhendo dividendos ou manipulação. 8. Superar problemas de informação também aumenta digitais para todos a eficiência do mercado e pode até mesmo levar a uma maior inovação. Por motivo de simplicidade da As tecnologias digitais estão transformando os mun- exposição, o arcabouço do Relatório é simplificado dos dos negócios, trabalho e prestação de serviços. e concentra-se no resultado mais importante do Esses progressos estão tornando mais produtivas as desenvolvimento associado a cada mecanismo capa- principais partes da economia e da sociedade – mesmo citado pela internet. que muitas ainda esperem pelos benefícios mais bási- 9. Além disso, regressões entre países que medem o cos da revolução tecnológica. Este Relatório defende impacto das tecnologias digitais sobre o crescimento que para garantir que todos colherão os dividendos da podem sofrer de vários outros problemas que envol- internet, enfocar o acesso à tecnologia é essencial, mas vem questões de medição, endogeneidade de variá- está longe de ser suficiente. Por que? Porque a tecnolo- veis e tendenciosidades de pequenas amostras. gia precisa ser complementada por melhorias em áreas 10. Estes resultados baseiam-se no seguinte Tan 2015; que determinam se as empresas, pessoas e governos Osnago e Tan 2015. podem fazer uso eficaz das novas ferramentas digitais. 11. eBay 2013. A base analógica não pode ser fortalecida da noite para 12. Baldwin 2011. o dia. É necessário superar alguns dos desafios mais 13. Brynjolfsson e McAfee 2014. antigos ao desenvolvimento: como criar um ambiente 14. Moretti e Thulin 2013. para as empresas prosperarem, como construir siste- 15. Goyal 2010; Aker e Mbiti 2010. mas de educação e treinamento eficazes e como tornar 16. Consultar: Handel 2015; Best e outros 2010; Jagun, os prestadores de serviços mais sensíveis aos cidadãos. Heeks e Whalley 2008; Aker 2011; Martin 2010. 17. Pineda, Aguero e Espinoza 2011. As dificuldades são muitas, porque a revolução digital 18. Asad 2014. deixa para trás os países que não fazem as reformas 19. Aker e Mbiti 2010 e Pineda, Aguero e Espinoza 2011. necessárias. Para aqueles que fazem essas reformas, os 20. A pesquisa foi feita por Research ICT for Africa. investimentos em tecnologia trarão amplos dividendos 21. Aker, Collier, e Vicente 2013. digitais e esses dividendos serão largamente partilha- 22. Consultar Box 3.5 do capítulo 3 do Relatório completo. dos entre todas as partes interessadas. 23. Duflo, Hanna e Ryan 2012. 24. Acemoglu, Hasan e Tahoun 2014. 25. Bennet, Breunig e Givens 2008. Observações 26. Hollenbach e Pierskalla 2014. 1. Referências a estes e outros dados e citações da Visão 27. Goldin e Katz 2008. Geral podem ser encontradas no Relatório completo. 28. Varian 2003. VISÃO GERAL 39 29. Dados para 2014 das participações na receita líquida de Bao, Beibei. 2013. “How Internet Censorship Is propaganda digital em todo o mundo da EMarketer, Curbing Innovation in China.” Atlantic, April 22. uma empresa de pesquisa de mercado on-line. http://w w w.t h e a t l a n t i c . c o m /c h i n a /a r c h i v e / 30. Wood 2011. 2 0 1 3 /0 4 /how-internet-censorship-is-curbing- 31. Eden e Gaggl 2014. innovation-in-china/275188/. 32. Estimativas da equipe do WDR 2016, fundamentadas Bauer, Matthias, Hosuk Lee-Makiyama, Erik Van der em pesquisas sobre domicílios. Para obter mais deta- Marcel, and Bert Verschelde. 2014. “The Costs of Data lhes, ver o Capítulo 2 do Relatório completo. Localization: Friendly Fire on Economic Recovery.” 33. Um acordo memorável que impulsionará ainda ECIPE Occasional Paper 3/2014, European Centre for mais a adoção em todo o mundo é o Acordo sobre International Political Economy, Brussels. Tecnologia da Informação, concluído pelos mem- Bennet, W. L., C. Breunig, and T. Givens. 2008. bros da Organização Mundial do Comércio (OIT) em “Communication and Political Mobilization: Digital 25 de julho de 2015. Ele eliminará os impostos sobre Media and the Organization of Anti-Iraq War mais de 200 produtos de TIC, representando uma Demonstrations.” Political Communication 25 (3): economia de US$ 1,3 trilhão no comércio global. 269–89. 34. 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Índice do Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2016 Índice Prefácio Agradecimentos Abreviaturas Visão Geral: Reforçando os fundamentos analógicos da revolução digital Destaque 1: Como a internet promove o desenvolvimento PARTE 1: FATOS E ANÁLISE 1 Aceleração do crescimento Foco setorial 1: Agricultura Destaque 2: Finanças digitais 2 Expansão de oportunidades Foco setorial 2: Educação Destaque 3: Mídia social 3 Prestação de serviços Foco setorial 3: Saúde Destaque 4: Identidade digital PARTE 2: POLÍTICAS 4 Políticas setoriais Foco setorial 4: Cidades inteligentes Destaque 5: A revolução dos dados 5 Prioridades nacionais Foco setorial 5: Energia 6 Cooperação global Foco setorial 6: Gestão ambiental Destaque 6: Seis tecnologias digitais para observar ECOAUDITORIA Declaração de Benefícios Ambientais O Grupo Banco Mundial está empenhado na redução da sua pegada ambien- tal. Em apoio a esse compromisso, a Divisão de Publicação e Conhecimento beneficia-se das opções de publicação eletrônica e tecnologia de impressão por demanda, que se encontram nos eixos regionais de todo o mundo. Juntas, essas iniciativas permitem que as tiragens das publicações sejam reduzidas e as dis- tâncias das remessas sejam abreviadas, o que propicia menor consumo de papel, uso de produtos químicos, emissões dos gases de efeito estufa e desperdício. A Divisão de Publicação e Conhecimento segue os padrões recomendados para o uso do papel definidos pela Iniciativa de Impressão Verde. A maioria de nossos livros é impressa em papel certificado pelo Conselho de Administração de Florestas (FSC), quase todo ele contendo entre 50% e 100% de conte- údo reciclado. A fibra reciclada do papel de nossos livros pode não receber branqueamento ou receber branqueamento totalmente livre de cloro (TFC), ser processada sem uso de cloro (PCF) ou com processos sem uso de cloro elementar (EECF). Para obter mais informações acerca da filosofia ambiental do Banco Mundial, acesse http://crinfo.worldbank.org/wbcrinfo/node/4. DIVIDENDOS DIGITAIS As tecnologias digitais se estão espalhando rapidamente, mas os dividendos digitais – os benefícios mais amplos do crescimento mais rápido, mais empregos e melhores serviços – não estão. Se mais de 40% dos adultos do Leste da África pagam suas contas de serviços de utilidade pública por telefone celular, por que outros no mundo inteiro não podem fazer o mesmo? Se oito milhões de empresários na China – um terço deles mulheres – podem usar uma plataforma de e-commerce para exportar mercadorias a 120 países, por que empresários de outras partes não podem ter o mesmo alcance global? E se a Índia pode proporcionar uma identificação digital única a um bilhão de pessoas em cinco anos e assim reduzir a corrupção em bilhões de dólares, por que outros países não podem replicar seu sucesso? De fato, o que impede os países de compreender os efeitos profundos e transformacionais que as tecnologias digitais devem produzir? Duas razões principais. Primeiro, cerca de 60% da população mundial ainda não estão on-line e não podem participar da economia digital de modo significativo. Segundo e mais importante, os benefícios das tecnologias digitais podem ser anulados por riscos crescentes. As empresas startups podem perturbar as empresas estabelecidas, mas não quando interesses adquiridos e a incerteza das regulamentações obstruem a concorrência e a entrada de novas firmas. As oportunidades de emprego podem ser maiores, mas não quando o mercado de trabalho é polarizado. A Internet pode ser uma plataforma para o empoderamento universal, mas não quando se torna uma ferramenta do controle estatal e de captação da elite. O Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2016 mostra que, embora a revolução digital tenha avançado, os seus “complementos analógicos” – as regulamentações que promovem a entrada e a concorrência; as aptidões que capacitam os trabalhadores a acessar e daí alavancar a nova economia; e as instituições responsáveis perante os cidadãos – não acompanharam o ritmo. Quando esses complementos analógicos dos investimentos digitais estiverem ausentes, o impacto do desenvolvimento pode ser desapontador. Então o que os países precisam fazer? Precisam formular estratégias digitais mais amplas do que as atuais estratégias da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Devem criar para a tecnologia um ambiente de políticas e institucional que promova os maiores benefícios. Em suma, precisam construir um fundamento analógico sólido que produza dividendos digitais para todos em todas as partes. SKU 32990