92863 v2 Relatório Principal do Grupo Banco Mundial Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2015 Visão Geral Mente, Sociedade e Comportamento GRUPO BANCO MUNDIAL Relatório Principal do Grupo Banco Mundial Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de Visão Geral MENTE, SOCIEDADE E COMPORTAMENTO GRUPO BANCO MUNDIAL Este folheto contém a Visão Geral, bem como uma lista do conteúdo do Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial 2015: Mente, Sociedade e Comportamento, doi: 10.1596/978-1-4648-0342-0. Depois que o livro for publicado, uma versão em PDF final e completa estará disponível no site https://openknowledge.worldbank.org/ e exemplares impressos poderão ser adquiridos em https://publications.worldbank.org/. Favor usar a versão final do livro para fins de citação, reprodução e adaptação. © 2015 Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento/Banco Mundial 1818 H Street NW, Washington D.C. 20433 Telefone: 202-473-1000; Internet: www.worldbank.org Alguns direitos reservados 1 2 3 4 17 16 15 14 Este trabalho foi produzido pelo pessoal do Banco Mundial com contribuições externas. As apurações, interpretações e conclusões expressas neste trabalho não refletem necessariamente a opinião do Banco Mundial, de sua Diretoria Executiva nem dos governos dos países que representam. O Banco Mundial não garante a exatidão dos dados apresentados neste trabalho. As fronteiras, cores, denominações e outras informações apresentadas em qualquer mapa deste trabalho não indicam nenhum julgamento do Banco Mundial sobre a situação legal de qualquer território, nem o endosso ou a aceitação de tais fronteiras. Nada aqui constitui ou pode ser considerado como constituindo uma limitação ou dispensa de privilégios e imunidades do Banco Mundial, os quais são especificamente reservados. Direitos e permissões Este trabalho está disponível na licença da Creative Commons Attribution 3.0 (CC BY 3.0) http://creativecommons.org/licenses/by/3.0. Nos termos da licença Creative Commons Attribution, o usuário pode copiar, distribuir, transmitir e adaptar este trabalho, inclusive para fins comerciais, nas seguintes condições: Atribuição — Favor citar o trabalho como segue: Banco Mundial. 2015. “Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial 2015: Mente, Sociedade e Comportamento”. Overview booklet. Banco Mundial, Washington, D.C. Licença: Creative Commons Attribution CC BY 3.0 IGO Tradução — Se o usuário traduzir este trabalho, favor acrescentar o seguinte termo de isenção de responsabilidade juntamente com a atribuição: Esta tradução não foi feita pelo Banco Mundial e não deve ser considerada tradução oficial do Banco Mundial. O Banco Mundial não se responsabiliza pelo conteúdo nem por qualquer erro dessa tradução. Adaptações — Se o usuário criar uma adaptação deste trabalho, favor acrescentar o seguinte termo de isenção de responsabilidade juntamente com a atribuição: Esta é uma adaptação de um trabalho original do Banco Mundial. Pontos de vista e opiniões expressos na adaptação são de inteira responsabilidade do autor ou autores da adaptação e não são endossados pelo Banco Mundial. Conteúdo de terceiros — O Banco Mundial não é necessariamente proprietário de todos os componentes do conteúdo incluído no trabalho. 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Projeto da capa e das páginas internas: George Kokkinidis, Design Language, Brooklyn, New York Sumário v Prefácio vii Agradecimentos 1 Visão Geral: Tomada de decisões e política de desenvolvimento 5 Três princípios da tomada de decisão humana 13 Perspectivas psicológicas e sociais a respeito de política 19 O trabalho dos profissionais do desenvolvimento 22 Referências Prefácio Enquanto escrevo, o mundo está lutando para controlar o surto do Ebola na África Ocidental, uma tragédia humana que já custou milhares de vidas e impôs sofrimento a famílias e a comunidades inteiras. O surto é uma tragédia, não só para as pessoas diretamente afetadas pela doença, mas também para seus vizinhos e concidadãos. E efeitos indiretos, comportamentais da crise do Ebola – a redução da atividade econômica, a diminuição de salários e a elevação dos preços dos alimentos – tornarão a vida ainda mais difícil para milhões de pessoas que já vivem em extrema pobreza naquela região do mundo. Alguns desses efeitos comportamentais são inevitáveis. O Ebola é um vírus terrível, e  quarentenas e outras medidas de saúde pública são indispensáveis. Ao mesmo tempo, é evidente que as respostas comportamentais que vemos, não apenas na África Ocidental, mas em todo o mundo, são em parte consequência do estigma, do entendimento incorreto sobre o contágio da doença, do pânico exagerado e de outros preconceitos, além de fantasias cogni- tivas. Infelizmente já vimos isso ocorrer antes com as epidemias de HIV/AIDS, da Síndrome Respiratória Aguda Grave e da gripe H1N1, e provavelmente veremos novamente quando começarmos a nos preparar para a próxima epidemia. As sociedades tendem a esquecer o que aconteceu e os formuladores de políticas tendem a enfocar riscos mais importantes do ponto de vista social, que nem sempre são aqueles que acompanham os surtos de doenças. À luz desses riscos, o Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial – Mente, Sociedade e Comportamento deste ano não poderia ser mais oportuno. Sua principal mensagem é que, quando se trata de entender e mudar o comportamento humano, sempre podemos fazer melhor. Muitos economistas e profissionais do desenvolvimento acreditam que os elementos “irracionais” da tomada de decisão humana sejam impenetráveis ou que eles se anulem quando um grande número de pessoas interage, como nos mercados. Contudo, sabemos agora que isso não é verdade. Pesquisas recentes aprimoraram nosso entendimento sobre as influências psicológicas, sociais e culturais da tomada de decisão e do comportamento humano e demonstraram que essas influências têm impacto significativo nos resultados de desenvolvimento. As pesquisas também demonstram que é possível aproveitar essas influências para alcançar metas de desenvolvimento. O relatório descreve um conjunto impressionante de resultados. Mostra que as percepções sobre o modo como as pessoas tomam decisões pode propiciar novas intervenções que ajudem as famílias a economizarem mais, as empresas a aumentarem a produtividade, as comunidades a reduzirem a prevalência de doenças, os pais a melhorarem o desenvolvimento cognitivo de seus filhos e os consumidores a economizarem energia. O potencial dessa abordagem de tomada de decisão e comportamento é imenso, e seu campo de aplicação é extremamente vasto. Destacarei alguns temas. Em primeiro lugar, a abordagem tem implicações na prestação de serviços. As pesquisas demonstram que pequenas diferenças de contexto, comodidade e relevância têm grandes efeitos sobre escolhas cruciais, tais como mandar ou não uma criança para a escola, prevenir a doença ou economizar recursos para abrir um negócio. Isso significa que os profissionais do desenvolvimento precisam concentrar-se não apenas em quais são as intervenções necessárias, mas também em como elas são implementadas. Isso, por sua vez, requer que agências de implementação dediquem mais tempo e recursos experimentando, aprendendo e adaptando-se durante o ciclo de intervenções. Segundo, à medida que os riscos e o impacto da mudança climática se tornarem mais claros, devemos utilizar todas as ferramentas de que dispomos para enfrentar o desafio. O  relatório descreve de que modo, além de impostos e subsídios, as percepções v vi Prefácio comportamentais e sociais podem ajudar. Entre elas está a reformulação de mensagens para enfatizar os benefícios claros e concretos de reduzir as emissões, o uso de normas sociais para reduzir o consumo de energia, redes sociais para motivar compromissos nacionais, analogias para ajudar as pessoas a entenderem as previsões do tempo e a reformulação de mensagens para enfatizar os benefícios visíveis e palpáveis da redução de emissões de carbono. Terceiro, os profissionais do desenvolvimento e formuladores de políticas estão, como todos os seres humanos, sujeitos a vieses psicológicos. Os governos e instituições interna- cionais, inclusive o Grupo Banco Mundial, podem implementar medidas para reduzir esses vieses, tais como fazer um diagnóstico mais rigoroso da mentalidade das pessoas que estamos tentando ajudar e introduzir processos que reduzam o efeito de vieses sobre deliberações internas. O surto do Ebola torna evidente que os riscos de mal-entendidos e problemas de comunicação podem ter sérias repercussões. Pôr de quarentena pessoas infectadas pode ser sensato, porém tentar isolar nações ou grupos étnicos inteiros é uma violação aos direitos humanos e pode inclusive prejudicar os esforços para controlar o surto de uma doença. O Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial deste ano oferece uma percepção de como abordar estas questões e outros desafios atuais e apresenta uma nova e importante agenda para que a comunidade do desenvolvimento avance. Jim Yong Kim Presidente Grupo Banco Mundial Agradecimentos Este relatório foi preparado por uma equipe liderada por Karla Hoff e Varun Gauri e da qual fizeram parte Sheheryar Banuri, Stephen Commins, Allison Demeritt, Anna Fruttero, Alaka Holla e Ryan Muldoon, com contribuições adicionais de Elisabeth Beasley, Saugato Datta, Anne Fernald, Emanuela Galasso, Kenneth Leonard, Dhushyanth Raju, Stefan Trautmann, Michael Woolcock e Bilal Zia. A equipe foi completada com os analistas de pesquisa Scott Abrahams, Hannah Behrendt, Amy Packard Corenswet, Adam Khorakiwala, Nandita Krishnaswamy, Sana Rafiq, Pauline Rouyer, James Walsh e Nan Zhou. O trabalho foi realizado sob a direção geral de Kaushik Basu e Indermit Gill. A equipe recebeu orientação de um painel de consultoria formado por Daron Acemoglu, Paul DiMaggio, Herbert Gintis e Cass Sunstein. Stefan Dercon contribuiu com comentários perspicazes ao longo do trabalho. Sendhil Mullainathan forneceu orientação inestimável nas etapas conceituais deste relatório. Foram recebidas importantes contribuições de todas as regiões do Grupo Banco Mundial, redes de apoio, grupo de pesquisa, práticas globais, Grupo de Avaliação Independente e outras unidades. Os economistas chefes do Banco Mundial e o Conselho de Economistas Chefes proporcionaram diversos comentários úteis. A equipe gostaria de agradecer o generoso apoio do Departamento de Desenvolvimento Internacional do Reino Unido; Ministério de Relações Exteriores, Comércio e Desenvolvi- mento do Canadá; Programa Conhecimento para a Mudança; Fundo Fiduciário Nórdico e do orçamento de apoio à pesquisa do Banco Mundial que foram fundamentais para a preparação do relatório. A equipe agradece também ao Ministério Federal de Cooperação Econômica e  Desenvolvimento da Alemanha e ao Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusamme- narbeit, que co-organizaram e promoveram o Workshop sobre Política Internacional do WDR em dezembro de 2013 em Berlim. Foram realizadas consultas ao Fundo Monetário Interna- cional, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, UNICEF e várias outras organizações das Nações Unidas, Ministério das Relações Exteriores da Holanda, Comissão Europeia e órgãos para a cooperação no desenvolvimento do Japão (Agência de Cooperação Internacional do Japão), França (Agência Francesa de Desenvolvimento), Reino Unido (Depar- tamento de Desenvolvimento Internacional) e Estados Unidos (Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos). Várias outras organizações patrocinaram eventos para fornecer feedback sobre o relatório, entre as quais: Columbia University, Cornell University, Danish Nudging Network, Experiments in Governance and Politics, Harvard University, International Rescue Committee, International Save the Children Alliance, London School of Economics and Political Science, Overseas Development Institute e o U.K. Behavioural Insights Team. Nancy Morrison foi a editora-chefe do relatório. George Kokkinidis foi o principal artista gráfico. Timothy Taylor forneceu valiosa orientação editorial. Dana Lane revisou o relatório. A Divisão de Publicação e Edição do Banco Mundial coordenou o projeto, fotocomposição, impressão e divulgação do relatório. Agradecimentos especiais vão para Denise Bergeron, Mary Fisk, Patricia Katayama, Stephen McGroarty, Stephen Pazdan e Paschal Ssemaganda, bem como a Bouchra Belfqih, da Unidade de Tradução e Interpretação, e sua equipe. A equipe estende seus agradecimentos a Vivian Hon, Jimmy Olazo e Claudia Sepúlveda por suas funções de coordenação e a Vamsee Krishna Kanchi, Swati Mishra e Merrell Tuck-Primdahl por sua orientação em estratégia de comunicações. Renata Gukovas, Ana Maria Muñoz Boudet, Elizaveta Perova, Rafael Proenca e Abla Safir revisaram algumas das traduções da Visão Geral para idiomas estrangeiros. vii viii Agradecimentos A equipe de produção e logística do relatório foi formada por Brónagh Murphy, Mihaela Stangu e Jason Victor, com contribuições de Laverne Cook e Gracia Sorensen. Sonia Joseph, Liliana Longo e Joseph Welch ficaram encarregados da gestão de recursos e Elena Chi-Lin Lee ajudou a coordenar a mobilização de recursos. Jean-Pierre Djomalieu, Gytis Kanchas e Nacer Megherbi forneceram suporte de TI. O relatório baseia-se em documentos sobre antecedentes e anotações preparadas por Abigail Barr, Nicolas Baumard, Timothy Besley, Thomas Bossuroy, Robert Chambers, Molly Crockett, Jonathan de Quidt, Philippe d’Iribarne, Lina Eriksson, Maitreesh Ghatak, Javier Guillot, Crystal Hall, Johannes Haushofer, Alain Henry, Pamela Jakiela, Nadav Klein, Margaret Levi, Margaret Miller, Juan Jose Miranda Montero, Ezequiel Molina, Owen Ozier, Gael Raballand, Anand Rajaram, Barry Schwartz, Pieter Serneels, Jennifer Stellar, Michael Toman, Magdalena Tsaneva e Daniel Yoo. A equipe recebeu consultoria especializada de Yann Algan, Jeannie Annan, Nava Ashraf, Mahzarin Banaji, Abhijit Banerjee, Max Bazerman, Gary Becker, Daniel Benjamin, Cristina Bicchieri, Vicki Bogan, Iris Bohnet, Donald Braman, Colin Camerer, Jeffrey Carpenter, Shantayanan Devarajan, Timothy Evans, Marianne Fay, James Greiner, Luigi Guiso, Jonathan Haidt, David Halperin, Joseph Henrich, Ting Jiang, David Just, Dan Kahan, Ravi Kanbur, Jeffrey Kling, John List, Edouard Machery, Mario Macis, Anandi Mani, Suresh Naidu, Michael Norton, Nathan Nunn, Jacques Rajotte, Todd Rogers, Amartya Sen, Owain Service, Joseph Stiglitz, Jan Svejnar, Ann Swidler e Danielle Valiquette. Muitas outras pessoas de dentro e de fora do Banco Mundial ofereceram comentários de grande ajuda, deram outras contribuições e participaram de reuniões de consultoria. Apesar dos esforços para ser abrangente, a equipe pede desculpas por quaisquer omissões e expressa sua gratidão a todos que contribuíram para este relatório. Nossos agradecimentos a Dina Abu-Ghaida, Ana Milena Aguilar Rivera, Farzana Ahmed, Ahmad Ahsan, Edouard Al-Dahdah, Inger Andersen, Kevin Arceneaux, Omar Arias, Nina Arnhold, Delia Baldassarri, Luca Bandiera, Arup Banerji, Elena Bardasi, Enis Baris, Antonella Bassani, Andrew Beath, Simon Bell, Robert Beschel, João Biehl, Chris Blattman, Erik Bloom, Zeljko Bogetic, Genevieve Boyreau, Hana Brixi, Stefanie Brodmann, Annette Brown, Busara Center for Behavioral Economics, Alison Buttenheim, Susan Caceres, Oscar Calvo-Gonzalez, Robert Chase, Nazmul Chaudhury, Dandan Chen, Laura Chioda, Ken Chomitz, Luc Christiaensen, Rafael Cortez, Aidan Coville, Debra R. Cubitt, Stefano Curto, Amit Dar, Jishnu Das, Maitreyi Das, Augusto de la Torre, Chris Delgado, Asli Demirgüç-Kunt, Clara de Sousa, Jacqueline Devine, Eric Dickson, Quy-Toan Do, Christopher Eldridge, Yasser El-Gammal, Alison Evans, David Evans, Jorge Familiar, Sharon Felzer, Francisco Ferreira, Deon Filmer, Ariel Fiszbein, Luca Flabbi, Elizabeth Fox, Caroline Freund, Marie Gaarder, Virgilio Galdo, Roberta Gatti, Patricia Geli, Swati Ghosh, Xavier Giné, Hemam Girma, Jack Glen, Markus Goldstein, Alvaro Gonzalez, Karla Gonzalez, Maria Gonzalez de Asis, Pablo Gottret, David Gould, Margaret Grosh, Pelle Guldborg Hansen, Nina Guyon, Oliver Haas, Samira Halabi, Stephane Hallegatte, Mary Hallward-Driemeier, John Heath, Rasmus Heltberg, Jesko Hentschel, Marco Hernandez, Arturo Herrera, Barbara Hewitt, Jane Hobson, Bert Hofman, Stephen Hutton, Leonardo Iacovone, Elena Ianchovichina, Alain Ize, Emmanuel Jimenez, Peter John, Melissa Johns, Sandor Karacsony, Sachiko Kataoka, Lauren Kelly, Stuti Khemani, Igor Kheyfets, Arthur Kleinman, Jeni Klugman, Christos Kostopoulos, Sumir Lal, Somik Lall, Daniel Lederman, Alan David Lee, Arianna Legovini, Philippe Le Houérou, Victoria Levin, Jeffrey Lewis, Evan Lieberman, Kathy Lindert, Audrey Liounis, Gladys Lopez-Acevedo, Luis-Felipe Lopez-Calva, Augusto Lopez-Claros, Xubei Luo, Ashish Makkar, Ghazala Mansuri, Brendan Martin, Maria Soledad Martinez Peria, Gwyneth McClendon, Mike McGovern, Miles McKenna, David McKenzie, Julian Messina, Francesca Moneti, Jonathan Morduch, Juan Manuel Moreno Olmedilla, Ed Mountfield, Masud Mozammel, Margaret Anne Muir, Florentina Mulaj, Cyril Muller, Carina Nachnani, Evgenij Najdov, Ambar Narayan, Christopher David Nelson, Quynh Nguyen, Son Nam Nguyen, Dan Nielson, Adesinaola Michael Odugbemi, Pedro Olinto, Daniel Ortega, Betsy Paluck, Aaka Pande, Valeria Perotti, Kyle Peters, Josefina Posadas, Gael Raballand, Martín Rama, Vijayendra Rao, Francesca Recanatini, Thomas Rehermann, Melissa Rekas, Dena Ringold, Halsey Rogers, Agradecimentos ix Mattia Romani, Onno Ruhl, James Rydge, Seemeen Saadat, Gady Saiovici, Claudio Santibañez, Indhira Santos, Robert Saum, Eva Schiffer, Sergio Schmukler, Pia Schneider, Andrew Schrank, Ethel Sennhauser, Katyayni Seth, Moses Shayo, Sudhir Shetty, Sandor Sipos, Owen Smith, Carlos Sobrado, Nikola Spatafora, Andrew Stone, Mark Sundberg, Bill Sutton, Jeff Tanner, Marvin Taylor-Dormond, Stoyan Tenev, Hans Timmer, Dustin Tingley, Laura Tuck, Tony Tyrrell, Hulya Ulku, Renos Vakis, Tara Vishwanath, Joachim von Amsberg, Adam Wagstaff, Lianqin Wang, Clay Wescott, Josh Wimpey, Noah Yarrow e Renee Yuet-Yee Ho. Visão Geral 1 VISÃO GERAL Tomada de decisões e política de desenvolvimento Visão Geral Tomada de decisões e política de desenvolvimento Toda pessoa procura determinar o próprio caminho, especial ao modo como as informações eram reunidas e grande parte da política de desenvolvimento visa a e apresentadas, a fim de adaptar-se ao corpo humano e fornecer os recursos e informações que as pessoas de às suas habilidades cognitivas. Hoje em dia a cabine do economias de baixa e média rendas necessitam em avião contém menos instrumentos do que há algumas sua própria trajetória de vida. No entanto, embora essa décadas, porque o desenho do painel de instrumentos maneira de pensar seja frequentemente apropriada, da cabine baseia-se em uma compreensão mais pode ser incompleta. Para compreender por que, consi- profunda dos processos cognitivos do ser humano deremos uma comparação com pilotos de avião. Na (Wiener e Nagel 1988). metade do século XX, muitos instrumentos de voo e de O título deste relatório Mente, Sociedade e motores eram fabricados com a intenção de melhorar Comportamento capta a ideia de dispensar atenção ao o modo como os pilotos conduziam a aeronave. Mas modo como os seres humanos pensam (o processo na década de 1980 as melhorias tecnológicas multi- mental) e como a história e o contexto da forma plicavam-se e as informações adicionais tinham de pensamento (a influência da sociedade) podem o  efeito oposto do que os engenheiros pretendiam: melhorar a formulação e implementação de políticas de desenvolvimento e intervenções que focalizam as escolhas e as ações humanas (comportamento). Este relatório visa a inspirar e orientar os Em outras palavras, a política de desenvolvimento precisa de uma reformulação baseada na consideração pesquisadores e profissionais que podem cuidadosa dos fatores humanos. Este relatório tem por objetivo integrar consta- ajudar a promover um novo conjunto de tações recentes sobre fundamentos psicológicos e sociais do comportamento a fim de disponibilizá-los enfoques de desenvolvimento baseados às comunidades de desenvolvimento para um uso mais sistemático tanto de pesquisadores como de em uma consideração mais plena das profissionais. O relatório baseia-se em conclusões de muitas disciplinas, incluindo neurociência, ciência influências psicológicas e sociais. cognitiva, psicologia, economia comportamental, sociologia, ciência política e antropologia. Em uma pesquisa em andamento, essas conclusões ajudam a em vez de ajudar os pilotos a direcionar seus cursos, explicar decisões que as pessoas tomam em muitos a cabine do avião se tinha tornado um ambiente cada aspectos do desenvolvimento, incluindo poupança, vez mais complexo, no qual as melhorias técnicas investimento, consumo de energia, saúde e criação estressavam e até mesmo sobrecarregavam os pilotos. de filhos. As conclusões também aumentam o enten- A taxa de falha dos pilotos aumentou. Foram conta- dimento de como os comportamentos coletivos – tais tados peritos no campo do desenho dos fatores como confiança ou corrupção generalizada – se desen- humanos – um campo multidisciplinar baseado na volvidos e se tornam arraigados em uma sociedade. ideia central de que a tomada de decisão é o produto As constatações aplicam-se não somente a habitantes de uma interação entre a mente e o contexto. A cabine de países em desenvolvimento, mas também a profis- do avião foi redesenhada dispensando-se atenção sionais do desenvolvimento, os quais também são Visão Geral 3 propensos a errar quando os contextos de tomada de podem parecer triviais em comparação com os decisão são complexos. desafios que os governos e as organizações interna- Este enfoque expande o conjunto de ferramentas cionais enfrentam nos países em desenvolvimento. e estratégias de promoção do desenvolvimento e de No entanto, oferecem uma lição importante: quando combate à pobreza. O ponto forte da economia padrão o fracasso afeta a linha básica de geração de lucros, os é o fato de colocar a cognição e a motivação humanas designers de produtos começam a dispensar atenção em uma “caixa preta”, simplificando intencional- mais direta ao modo como os seres humanos realmente mente o “funcionamento interno confuso e miste- pensam e decidem. Engenheiros, empresas privadas rioso dos atores” (Freese 2009, 98) usando modelos e comerciantes de todos os tipos há muito prestam que frequentemente supõem que as pessoas consi- atenção aos limites inerentes da capacidade cognitiva derem todos os custos e benefícios possíveis de uma humana, ao papel que preferências sociais e o contexto perspectiva de interesse próprio e então tomem uma desempenham em nossas tomadas de decisão, bem decisão consciente e racional. Essa abordagem pode como ao uso de atalhos e modelos mentais para filtrar ser poderosa e útil, mas em diversos contextos traz e interpretar a informação. A comunidade do desenvol- também uma fraqueza: ignora as influências psico- vimento precisa fazer o mesmo. lógicas e sociais no comportamento. Os indivíduos O conjunto de evidências sobre a tomada de decisão não são autômatos calculadores. Ao contrário, as nos contextos dos países em desenvolvimento ainda pessoas são atores maleáveis e emotivos cuja tomada está em processo de formação e muitas das impli- de decisão é influenciada por indicações contextuais, cações das políticas emergentes requerem estudo mais redes e normas sociais locais e modelos mentais detalhado. No entanto, o objetivo deste relatório é compartilhados. Todos esses elementos desempenham inspirar e orientar os pesquisadores e profissionais que um papel naquilo que os indivíduos percebem como podem ajudar a descobrir as possibilidades e os limites desejável, possível ou até mesmo “pensável” em sua de um novo conjunto de abordagens. Por  exemplo, a vida. As novas ferramentas baseadas nessa plena consi- simplificação do processo de adesão a um programa deração dos fatores humanos não deslocam enfoques de ajuda financeira pode aumentar a  participação? de políticas existentes baseados em afetar incentivos A mudança da época de compra de fertilizantes para pessoais de interesse próprio; ao contrário, comple- coincidir com os lucros da colheita pode aumentar a mentam e aperfeiçoam. A implementação de algumas taxa de uso? Ser um modelo de comportamento pode das novas abordagens custa muito pouco porque influenciar a opinião de uma pessoa a respeito do depende de nuances no desenho e na implementação, que é possível na vida e do que é “correto” para uma tais como mudar o momento das transferências sociedade? Divulgar uma norma social sobre direção monetárias, rotular algo de forma diferente, simplificar segura pode reduzir as taxas de acidentes? Propor- as etapas de início dos serviços, oferecer lembretes, cionar informação sobre consumo de energia dos ativar uma norma social latente ou reduzir a relevância vizinhos pode induzir os indivíduos a conservá-la? de uma identidade estigmatizada. Outras oferecem abordagens inteiramente novas para compreender Como argumentará este relatório, as respostas forne- e combater a pobreza. cidas por novas percepções dos fatores humanos no Essas abordagens já são muito conhecidas nas campo cognitivo e de tomada de decisão são um sim empresas do setor privado, as quais frequentemente retumbante (ver, respectivamente, Bettinger et al. 2012; estão empenhadas em compreender o comportamento Duflo, Kremer e Robinson 2011; Beaman et al. 2009, dos clientes em seus contextos naturais. Quando uma 2012; Habyarimana e Jack 2011; Alcott 2011; Alcott empresa introduz um produto, seja ele uma nova e Rogers 2014). marca de cereal para o café da manhã, creme dental ou Das centenas de documentos empíricos sobre a telefone celular, está entrando em um mercado compe- tomada de decisão humana que formam a base deste titivo, no qual pequenas diferenças na utilização e relatório, destacam-se três princípios que proporcionam na satisfação do cliente significam a diferença entre orientação para novas abordagens para a compreensão aceitação ou rejeição de um produto. Na fase intensiva do comportamento e a formulação e implementação de e interativa de desenvolvimento do produto, a empresa uma política de desenvolvimento. Primeiro, as pessoas faz pesquisas qualitativas e quantitativas conside- fazem a maior parte dos juízos e das escolhas automa- ráveis sobre seus clientes para compreender motiva- ticamente e não por deliberação: chamamos isso de dores aparentemente periféricos, porém mesmo assim “pensar automaticamente”. Segundo, o modo de pensar críticos do comportamento. Onde e quando os clientes e agir das pessoas com frequência depende do que normalmente tomam o café da manhã? Em casa, outros a seu redor fazem e pensam: chamamos isso de trabalho, escola, ônibus, trem ou carro? Qual é o signi- “pensar socialmente”. Terceiro, os indivíduos em uma ficado social da refeição? Implica rituais valorizados? É determinada sociedade compartilham uma perspectiva um evento comunitário ou mais privado? A mudança comum a respeito de entender o sentido do mundo comportamental precisa ser coordenada entre muitas a seu redor e de compreender a si mesmos: chamamos pessoas ou ocorre individualmente? Esses exemplos isso de “pensar com modelos mentais”. 4 Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2015 Para ilustrar como os três tipos de modo de pensar mais receptivas às mensagens financeiras do que teria são importantes para o desenvolvimento, conside- ocorrido nos programas de alfabetização financeira. remos os problemas do baixo nível de poupança O sucesso da intervenção dependeu do “pensar social- pessoal e alto endividamento dos domicílios, elementos mente” – nossa tendência a identificar-nos com outros comuns no mundo em desenvolvimento (e também e aprender com eles. em muitos países de alta renda). Grande parte da Na Etiópia, pessoas desfavorecidas comumente política econômica opera com base na premissa de mencionam sentimentos de baixa estima psicológica, que o aumento das taxas de poupança requer um com frequência fazendo comentários como: “não aumento da taxa de retorno para os poupadores. Mas temos sonho nem imaginação” ou “vivemos somente outros fatores, além das variáveis padrão: preço, renda para o dia de hoje” (Bernard, Dercon e Taffesse 2011, 1). e regulamentações, também afetam o comportamento Em 2010, famílias selecionadas aleatoriamente foram da poupança, incluindo o pensar automaticamente convidadas a assistir vídeos inspiradores compostos que reage aos moldes e à percepção de escolhas, de quatro documentários de indivíduos da região a  tendência generalizada de aderir às normas sociais contando relatos pessoais sobre como melhoraram e os modelos mentais da posição da pessoa na vida. sua posição socioeconômica mediante o  estabeleci- Experiências de campo no Quênia, África do Sul mento de metas e o trabalho árduo. Seis meses depois e Etiópia demonstram a pertinência desses três princí- as famílias que tinham assistido aos vídeos inspira- pios da tomada de decisão humana ao problema-chave dores tinham feito uma poupança total mais alta e, do desenvolvimento. em média, tinham investido mais na educação dos No Quênia muitos domicílios mencionam a falta de filhos. As pesquisas revelaram que os vídeos tinham dinheiro como obstáculo ao investimento em produtos aumentado as aspirações e esperanças das pessoas, de saúde preventiva, tais como mosquiteiros tratados especialmente para o futuro educacional dos filhos com inseticida. Porém, ao proporcionar às pessoas (Bernard et al. 2014). O estudo ilustra a capacidade uma caixa de metal que pode ser trancada, um cadeado de uma intervenção para mudar o modelo mental  – e  uma caderneta na qual a família simplesmente a crença do que é possível para o futuro (Bernard coloca o nome de um produto de saúde preventiva, os e Taffesse 2014). pesquisadores observaram um aumento na poupança A ideia de que a rotulagem, modelos comporta- e o  investimento nesses produtos cresceu entre 66% mentais e aspirações podem afetar a poupança não e  75% (Dupas e Robinson 2013). A ideia fundamental é incoerente com a de que as pessoas respondem de do programa é a seguinte: embora o dinheiro seja forma previsível às taxas de juros ou a preços e outros fungível – e o dinheiro na mão possa ser gasto a qual- incentivos. Os novos enfoques não substituem quer momento – as pessoas tendem a alocar fundos a economia padrão. Mas os novos enfoques aumentam por meio de um processo de “contabilidade mental” nossa compreensão a respeito do processo de desen- na qual definem na mesma medida as categorias de volvimento e da forma como as políticas de desen- despesa e a estrutura de seu comportamento de gasto. volvimento e as intervenções podem ser formuladas O aspecto importante da caixa de metal, do cadeado e implementadas. e da caderneta com rótulo era o fato de permitir às A estrutura mente, sociedade e comportamento indica pessoas colocar o dinheiro em uma conta mental para a novas ferramentas para alcançar objetivos de desen- compra de produtos de saúde preventiva. A intervenção volvimento, bem como novos meios de aumentar a funcionou porque a contabilidade mental é uma forma eficácia das intervenções atuais. Proporciona mais pela qual as pessoas com frequência “pensam automa- pontos de entrada para políticas e novas ferramentas ticamente” e é um exemplo de um molde ou efeito de que os profissionais podem utilizar em seu empenho de rotulagem mais geral pelo qual designar algo a uma reduzir a pobreza e aumentar a prosperidade compar- categoria influencia como é percebido. tilhada. O relatório discute como o fato de levar os Programas convencionais de alfabetização finan- fatores humanos em conta de maneira mais completa ceira nos países de baixa renda têm tido efeitos na tomada de decisão lança luz sobre diversas áreas: limitados (Xu e Zia 2012). Em contraste, uma iniciativa persistência da pobreza, desenvolvimento da primeira recente na África do Sul de alfabetização financeira por infância, finanças domésticas, produtividade, saúde meio de uma novela na televisão que atraiu o público, e mudança climática. A estrutura e outros exemplos melhorou as escolhas financeiras que os indivíduos presentes no relatório mostram como obstáculos faziam. As mensagens financeiras estavam integradas à  capacidade das pessoas de processar informações na novela sobre um personagem financeiramente e os modos como as sociedades moldam mentalidades impulsivo. As famílias que assistiram à novela por podem ser fontes de desvantagem para o desenvolvi- dois meses estavam menos inclinadas aos jogos de mento, mas que também podem ser mudadas. azar e tinham uma menor probabilidade de comprar As três formas de pensar enfatizadas aqui aplicam- bens por meio de um plano de crediário caro (Berg e se igualmente a todos os seres humanos. Não se Zia 2013). As famílias sentiram-se emocionalmente limitam àqueles que têm níveis de renda mais altos vinculadas aos personagens da novela, o que as tornou ou mais baixos, ou níveis educacionais mais altos ou Visão Geral 5 mais baixos ou moram nos países de alta renda ou As pessoas geralmente dispõem de mais informações baixa renda. Vários exemplos de países de alta renda do que podem processar. Há um número elevado e não neste relatório demonstram a universalidade das administrável de formas de organizar as informações influências psicológicas e sociais sobre a tomada de que está relacionado a quase qualquer decisão. decisão. O relatório documenta as limitações cogni- tivas das pessoas em todos os estilos de vida, incluindo Box O.1 A evolução do pensamento na economia em o pessoal do Banco Mundial (ver a página de recursos matéria de tomada de decisão humana Destaque 3 e o Capítulo 10.) Os próprios profissionais do desenvolvimento pensam automaticamente, pensam Desde o trabalho pioneiro de Adam Smith ([1759, 1776] 1976), os economistas socialmente e pensam com modelos mentais e, como vêm examinado as influências psicológicas e sociais sobre a tomada de decisão resultado, podem identificar erroneamente as causas humana. John Maynard Keynes reconheceu a “ilusão do dinheiro” – a tendência do comportamento e negligenciar soluções potenciais de pensar no dinheiro em termos nominais em vez de reais – e usá-lo em sua para os problemas de desenvolvimento. As organi- proposta de solução para o desemprego. Reconheceu também que muitos de zações de desenvolvimento podem ser mais eficazes nossos investimentos de longo prazo refletem “espíritos animais” – intuições e se os profissionais estiverem conscientes dos próprios emoções – e não um cálculo de cabeça fria. Gunnar Myrdal foi um estudante vieses psicológicos e sociais e se as organizações da estagnação cultural. Herbert Simon e F. A. Hayek basearam grande parte implementarem procedimentos que possam mitigar de seu trabalho no reconhecimento de que os seres humanos somente podem seus efeitos. processar um determinado volume de informação ao mesmo tempo e não são Para os profissionais do desenvolvimento, identificar capazes de ponderar cuidadosamente os custos e os benefícios de todos os influências psicológicas e sociais sobre o comporta- possíveis resultados de suas decisões. Segundo Albert Hirschman, é útil lembrar mento e construir políticas que funcionem com elas que as pessoas têm motivos complexos e valorizam a cooperação e a lealdade. – em vez de ir contra – requer uma abordagem mais Entretanto, em grande parte do século XX, graças ao trabalho de Paul empírica e experimental na formulação de políticas. Samuelson e muitos outros, houve “uma tendência contínua no sentido da rejeição Como a tomada de decisão humana é tão complicada, de elementos hedonísticos, introspectivos e psicológicos” (Samuelson 1938, prever como os beneficiários responderão a deter- 344). Milton Friedman, em seu famoso ensaio “On the Methodology of Positive minadas intervenções é um desafio. Os processos de Economics” (Sobre a Metodologia da Economia Positiva) (1953) e outros na década formulação e implementação de políticas de desen- de 1950 argumentaram de modo persuasivo, baseado na evidência disponível volvimento se beneficiarão de diagnósticos mais naquela época, que os economistas poderiam com segurança ignorar fatores substanciosos de motivadores do comportamento psicológicos na formulação de previsões sobre os resultados do mercado. O ator (ver Destaque 4) e da experimentação antecipada do econômico individual podia ser compreendido como se ele se comportasse como desenho de um programa que preveja falhas e crie um agente desapaixonado, racional e unicamente com interesse próprio, uma vez ciclos contínuos de feedback que permitam aos profis- que os indivíduos que não se comportassem desta forma seriam eliminados do sionais melhorar de forma incremental e contínua mercado por aqueles que o fizessem. As premissas de um cálculo perfeito e fixo, a formulação de intervenções. bem como preferências totalmente autônomas integradas em modelos econô- micos padronizados tornaram-se crenças consideradas óbvias em muitos círculos. Três princípios da tomada Os últimos 30 anos de pesquisas sobre a tomada de decisão em muitas de decisão humana ciências sociais e do comportamento levaram os economistas a um estágio em A estrutura de organização da parte 1 do relatório que medem e formalizam os aspectos psicológicos e sociais da tomada de decisão baseia-se em três princípios da tomada de decisão que muitos fundadores da economia consideravam importantes. O trabalho humana: pensar automaticamente, pensar social- empírico demonstra que as pessoas não tomam decisões levando em conta mente e pensar com modelos mentais. Embora esses todos os custos e benefícios. As pessoas querem se conformar às expectativas princípios se baseiem em pesquisas pioneiras recentes sociais. As pessoas não têm gostos imutáveis ou que mudam arbitrariamente. As de todas as ciências sociais, cumpre enfatizar que preferências dependem do contexto em que se originam e das instituições sociais a nova pesquisa, de certa forma, faz a disciplina da que formaram as estruturas interpretativas por meio das quais os indivíduos veem economia descrever um ciclo completo com relação o mundo (Basu 2010; Fehr e Hoff 2011). ao ponto de início: partindo de Adam Smith no fim do Portanto, a economia percorreu um ciclo completo. Após uma pausa de cerca século XVIII e chegando às perspectivas proeminentes de 40 anos, a economia baseada em uma compreensão mais realista dos seres no início e na metade do século XX (Box O.1). humanos está sendo reinventada. Mas desta vez fundamenta-se em um grande conjunto de evidências empíricas – evidências no nível micro provenientes das Primeiro princípio: Pensar automaticamente ciências sociais e do comportamento. A mente, ao contrário do computador, é Ao simplificarem premissas utilizadas em diversos psicológica, não lógica; maleável, não fixa. Certamente é racional tratar problemas modelos econômicos, os atores econômicos consideram idênticos de forma idêntica, mas frequentemente as pessoas não o fazem; suas o universo completo de informações e indicações escolhas sofrem alterações quando mudam a opção padrão ou a ordem das ambientais e olham distante no futuro para tomar coisas. As pessoas baseiam-se em modelos mentais que dependem da situação decisões bem pensadas no presente que promovam suas e da cultura para interpretar experiências e tomar decisões. Este relatório mostra metas fixas e de longo prazo. Naturalmente, a tomada que uma perspectiva mais interdisciplinar sobre o comportamento humano pode de decisão real quase nunca é assim (ver, por exemplo, melhorar o poder preditivo da economia e fornecer novas ferramentas para uma Gilovich, Griffin e Kahneman 2002; Goldstein 2009). política de desenvolvimento. 6 Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2015 sobre o grau em que as pessoas deliberam ao tomarem Tabela O.1 As pessoas têm dois sistemas decisões, poderão estar em condições de formular de pensamento políticas que tornem mais simples e mais fácil aos Os indivíduos têm dois sistemas de pensamento: o sistema indivíduos escolher comportamentos coerentes com automático e o sistema deliberativo. O sistema automático os resultados desejados e para o seu próprio proveito. influencia quase todos os nossos julgamentos e decisões. Por exemplo, os formuladores de políticas podem Sistema automático Sistema deliberativo ajudar dispensando atenção especial a fatores tais Considera o que vem automatica- Considera um conjunto amplo de como o molde de escolhas e das opções padrão – ideia mente à mente (molde estreito) fatores relevantes (molde amplo) conhecida como “arquitetura de escolha” (Thaler e Sunstein 2008). A forma como o custo do empréstimo Fáceis Trabalhosos é enquadrado pode afetar o grau em que as pessoas Baseados em associações Baseados no raciocínio decidirão ter dívidas de juros altos. Para alguns Intuitivos Reflexivos indivíduos mais pobres em muitos países, o uso Fontes: Kahneman 2003; Evans 2008. repetido de empréstimos pequenos, de curto prazo e sem garantias é uma realidade; esses empréstimos seriam superiores a 400% se fossem multiplicados Portanto, há muito os psicólogos distinguem dois durante um ano. No entanto, o alto custo desses tipos de processos utilizados pelas pessoas quando empréstimos frequentemente não é óbvio aos pensam: os rápidos, automáticos, fáceis e associa- tomadores de empréstimos. Nos Estados Unidos os tivos; e os lentos, deliberativos, trabalhosos, seriais e credores chamados “credores de dia de pagamento” ponderados. Os psicólogos descrevem os dois modos oferecem empréstimos de curto prazo até chegar metaforicamente como dois sistemas distintos na o próximo dia de pagamento. O custo do empréstimo mente: Sistema 1, o “sistema automático” e o Sistema 2, é tipicamente apresentado como uma taxa fixa por o “sistema deliberativo” (Kahneman 2003). O Capítulo 1 empréstimo – digamos US$ 15,00 para cada US$ 100,00 descreve esta divisão mais detalhadamente, mas a emprestado por duas semanas – em vez de uma taxa Tabela O.1 oferece uma visão geral. A maioria das pessoas de juros anual efetiva ou o custo se o empréstimo fosse considera-se pensadores deliberativos – mas natural- repetido ao longo do tempo. mente tendem a pensar sobre os próprios processos de Um teste de campo nos Estados Unidos demonstrou pensamento de forma automática e sob a influência o poder de um molde mediante o teste de uma inter- de modelos mentais recebidos sobre quem são e como venção que apresentou o custo do empréstimo de a mente funciona. Na realidade, o sistema automático forma mais transparente (Bertrand e Morse 2011). Um influencia a maior parte de nossos julgamentos e grupo recebeu o envelope padrão do credor de dia de decisões, com frequência de forma poderosa e até pagamento, que inclui o dinheiro e a documentação mesmo decisiva. A maioria das pessoas, na maior parte do empréstimo. O envelope declarava o montante das vezes, não está ciente de muitas das influências devido e a data do pagamento, conforme consta da sobre suas decisões. As pessoas que se ocupam do pensa- Figura O.2, painel a. Outro grupo recebeu um envelope mento automático podem construir o que elas mesmas com dinheiro que também mostrava como o montante creem ser erros de grande porte e sistemáticos; ou seja, das taxas se acumula quando o empréstimo fica as pessoas podem examinar as escolhas feitas enquanto pendente por três meses, em comparação com as mantinham um pensamento automático e desejar que taxas equivalentes de um empréstimo do mesmo tivessem decidido de forma diferente. montante com um cartão de crédito (Figura O.2, painel O pensamento automático leva-nos a simplificar b). Aqueles que receberam o envelope no qual o custo e ver os problemas através de moldes estreitos. do empréstimo estava reenquadrado em montantes Preenchemos a informação que falta com base em acumulados em dólares dos EUA tinham uma proba- nossas premissas do mundo e avaliamos situações bilidade 11% menor de tomar emprestado dos credores com base em associações que automaticamente vêm de dia de pagamento nos quatro meses seguintes à à mente e em sistemas de crenças que simplesmente intervenção. O estudo capta uma implicação-chave do consideramos como algo normal. Ao agir assim, Capítulo 1, a saber, reajustar a informação fornecida e podemos formar um quadro equivocado de uma o formato em que foi fornecida pode ajudar as pessoas situação, tal como olhar um parque urbano através de a tomarem melhores decisões. uma pequena janela pode induzir alguém a pensar que está em um lugar mais bucólico (Figura O.1). Segundo princípio: Pensar socialmente O fato de que os indivíduos podem depender do Os indivíduos são animais sociais influenciados por pensamento automático tem implicações significativas preferências sociais, redes sociais, identidades sociais e para compreender os desafios de desenvolvimento normas sociais: a maioria das pessoas preocupa-se com e formular as melhores políticas para enfrentá-los. Se o que os indivíduos ao seu redor estão fazendo e como os formuladores de políticas revisarem suas premissas eles se encaixam nos seus grupos e imitam o compor- Visão Geral 7 tamento dos outros quase automaticamente, conforme à análise da tomada de decisão e do comportamento mostra a Figura O.3. Muitas pessoas têm preferências dos seres humanos. Como muitas políticas econô- sociais por justiça e reciprocidade e têm espírito coope- micas pressupõem indivíduos egoístas, tomadores rativo. Estas características podem influenciar resul- autônomos de decisões, essas políticas geralmente tados coletivos tanto bons como ruins; sociedades com enfocam incentivos materiais externos, tais como alto índice de confiança e sociedades com alto índice de preços. No entanto, a sociabilidade humana implica corrupção requerem um alto grau de cooperação (ver que o comportamento também é influenciado por Destaque 1). O Capítulo 2 enfoca o “pensar socialmente”. expectativas sociais, reconhecimento social, padrões A sociabilidade humana (a tendência de as pessoas de cooperação, atenção dispensada aos membros do se preocuparem e se associarem umas com as outras) grupo e normas sociais. Na realidade, a concepção das acrescenta uma camada de complexidade e realismo instituições e as formas como organizam os grupos Figura O.1 O pensamento automático nos dá uma visão parcial do mundo Para tomar a maior parte das decisões e fazer a maioria dos julgamentos pensamos automaticamente. Utilizamos moldes estreitos e nos baseamos em premissas e associações padrão, o que nos dá uma visão deformada da situação. Até mesmo detalhes aparentemente irrelevantes sobre como uma situação se apresenta pode afetar como a percebemos, uma vez que tendemos a tirar conclusões precipitadas baseadas em informação limitada. 8 Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2015 Figura O.2 Reenquadrar decisões pode melhorar o bem-estar: O caso do empréstimo de dia de pagamento a. O envelope padrão Um tomador de empréstimo de dia de pagamento recebe seu dinheiro em um envelope. O envelope padrão mostra somente um calendário e a data de pagamento do empréstimo. b. O envelope comparando o custo dos empréstimos de dia de pagamento e o empréstimo feito com um cartão de crédito Em uma experiência de campo tomadores de empréstimo aleatoriamente escolhidos receberam envelopes que mostravam como o montante das taxas em dólares dos EUA se acumula quando um empréstimo de dia de pagamento está pendente por três meses, em comparação com as taxas de um empréstimo do mesmo montante com cartão de crédito. Quanto custará em taxas ou juros se você tomar US$ 300 emprestados MUTUANTE DE DIA DE PAGAMENTO CARTÃO DE CRÉDITO (supondo-se que a taxa seja de US$ 15 (presumindo um APR de 20%) para cada empréstimo do US$ 100) Se você pagar em: Se você pagar em 2 Semanas US$ 45 2 Semanas US$2.50 1 Meses US$ 90 1 Meses US$5 2 Meses US$ 180 2 Meses US$10 3 Meses US$ 270 3 Meses US$15 Os tomadores de empréstimo que receberam o envelope com os custos dos empréstimos expressos em dólares dos EUA tinham uma probabilidade 11% menor de tomar emprestado nos quatro meses seguintes em comparação com o grupo que recebeu o envelope padrão. O empréstimo de dia de pagamento diminuiu quando os consumidores pensaram em termos mais amplos sobre os custos do empréstimo. Fonte: Bertrand e Morse 2011. Nota: APR = taxa de percentagem anual (na sigla em inglês) Visão Geral 9 e  utilizam incentivos materiais podem eliminar ou tipo dominante em todos eles. Em outras palavras, em criar motivações para tarefas cooperativas, tais como nenhuma sociedade em que esse comportamento foi desenvolvimento comunitário e monitoramento escolar. estudado prevalece essa teoria canônica de comporta- Frequentemente as pessoas se comportam como mento econômico (Henrich et al. 2001). cooperadores condicionais – ou seja, indivíduos que As preferências sociais e influências sociais podem preferem cooperar contanto que outros estejam coope- levar as sociedades a adotar padrões coletivos que rando. A Figura O.4 mostra os resultados de um “jogo se autorreforçam. Em muitos casos, esses padrões de bens públicos” praticado em oito países. Ela são altamente desejáveis, representando padrões de demonstra que, embora a proporção de cooperadores confiança e valores compartilhados. Porém, quando condicionais em contraposição a oportunistas varie comportamentos de grupo influenciam preferências entre os países, os cooperadores condicionais são o individuais e as preferências individuais combinam-se Figura O.3 O que os outros pensam, esperam e fazem afeta nossas preferências e decisões Os seres humanos são inerentemente sociais. Quando tomamos decisões, somos geralmente afetados pelo que os outros estão pensando e fazendo e o que esperam de nós. Os outros podem impelir-nos a certos moldes e padrões de comportamento coletivo. 10 Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2015 em comportamentos de grupo, as sociedades também Uganda e Malaui as atividades de extensão agrícola podem acabar coordenando atividades ao redor de um tiveram muito mais êxito quando colegas agricultores ponto focal comum pouco recomendado ou até mesmo foram usados em atividades de treinamento (Vasilaky e destrutivo à comunidade. A segregação racial ou étnica Leonard 2013; BenYishay e Mobarak 2014). Os indivíduos e a corrupção são apenas dois exemplos (Destaque 1). geralmente querem pagar seus empréstimos e adotar Quando “pontos coordenados” que se autorreforçam uma melhor tecnologia, mas podem encontrar dificul- surgem em uma sociedade, podem ser muito resis- dades para se motivarem a  fazer isso. Ao utilizar tentes à mudança. Os significados e normas sociais, motivações sociais, as políticas podem ajudá-los a atingir bem como as redes sociais de que fazemos parte nos suas metas e proteger seus interesses. impelem na direção de certos moldes e  padrões de O caso de uma emergência pública em Bogotá, comportamento coletivo. Colômbia, ilustra como os enfoques de políticas podem Por outro lado, levando em conta o fator humano prejudicar e promover comportamentos cooperativos da sociabilidade pode ajudar a formular intervenções (Destaque 5). Em 1997, parte de um túnel que levava inovadoras de políticas e a tornar mais eficazes as inter- água para a cidade desmoronou, provocando uma venções existentes. Na Índia, os clientes do microfinan- emergência de escassez de água. A primeira ação do ciamento designados a se reunirem de modo aleatório governo da cidade foi declarar estado de emergência semanalmente em vez de mensalmente, tinham um e dar início a um programa de comunicação alertando contato social mais informal entre si dois anos depois os moradores sobre a crise iminente. Embora essa de concluído o ciclo do empréstimo, estavam mais medida pretendesse promover a economia de água, ela dispostos a compartilhar riscos e tinham uma probabi- aumentou o consumo e o armazenamento. Reconhe- lidade três vezes menor de inadimplência no segundo cendo o problema, o governo da cidade mudou sua empréstimo (Feigenberg, Field e Pande 2013). Em estratégia de comunicação: enviou voluntários para Figura O.4 Em situações experimentais a maioria das pessoas comporta-se como cooperadores condicionais em vez de oportunistas O modelo econômico padrão (painel a) supõe que as pessoas sejam oportunistas. Os verdadeiros dados do experimento (painel b) mostram que em oito sociedades, a maioria dos indivíduos comporta-se como cooperadores condicionais em vez de oportunistas quando joga um jogo de bens públicos. O modelo de oportunismo não teve apoio em nenhuma sociedade estudada. a. Comportamento b. Comportamento real demonstrado em emperimentos previsto em modelo econômico padrão 100 Percentagem da população que demonstra 90 80 comportamento cooperador 70 60 50 40 30 20 10 0 Colômbia Vietnã Suíça Dinamarca Federação Estados Áustria Japão Russa Unidos Oportunistas Cooperadores condicionais Fonte: Martinsson, Pham-Khanh e Villegas-Palacio 2013. Nota: Outros atores não se enquadraram em nenhuma dessas duas categorias, razão pela qual a soma das barras não atinge 100%. Visão Geral 11 instruírem as pessoas acerca das medidas mais reforçaram a cooperação e as reduções no consumo eficazes de economia de água, começou a publicar de água continuaram por muito tempo mesmo após diariamente os números relativos ao consumo de o conserto do túnel. água e a divulgar os nomes das pessoas que estavam O princípio de pensar socialmente tem muitas colaborando com o esforço, bem como das que não implicações para a política. O Capítulo 2 examina estavam cooperando. O prefeito apareceu em um o  âmbito dos incentivos econômicos e sociais em anúncio na televisão tomando um banho de chuveiro um mundo no qual a sociabilidade humana é um com sua esposa e explicando como a torneira poderia importante fator de influência para o comporta- ser fechada enquanto as pessoas se ensaboavam e mento, mostra como as instituições e as intervenções sugerindo tomar banho em duplas. Essas estratégias podem ser planejadas para apoiar o comportamento Figura O.5 Pensamento recorre a modelos mentais Os indivíduos não respondem à experiência objetiva, mas à representação mental da experiência. Ao construir suas representações mentais, esses indivíduos utilizam estruturas interpretativas fornecidas por “modelos mentais”. Eles têm acesso a diversos e às vezes conflitantes modelos mentais. O uso de um modelo diferente pode alterar o que um indivíduo percebe e como ele interpreta isso. 12 Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2015 colaborativo e demonstra como as redes e normas e Huillery 2014) e podem até apresentar desempenho sociais moldam o comportamento e podem servir de pior em situações sociais quando são lembradas da sua base para novos tipos de intervenção. participação nesse grupo. Dessas e outras maneiras, os estereótipos podem ser autorrealizáveis e podem Terceiro princípio: Pensar reforçar as diferenças econômicas entre os grupos com modelos mentais (consultar, por exemplo, Ridgeway 2011 sobre estereó- Quando as pessoas pensam, elas em geral não recorrem tipos de gênero). a conceitos que elas próprias inventaram. Em lugar Na Índia, os meninos da casta inferior eram disso, utilizam conceitos, categorias, identidades, essencialmente tão competentes na solução de quebra- protótipos, estereótipos, narrativas causais e visões cabeças quanto os meninos da casta superior quando a de mundo extraídas de suas comunidades. Todos identidade da casta não foi revelada, como demonstra a esses são exemplos de modelos mentais. Os modelos Figura O.6. Entretanto, a revelação da casta dos meninos mentais afetam o que os indivíduos percebem e o modo antes das sessões de solução de quebra-cabeças criou como  interpretam o que percebem, como demonstra uma “lacuna de casta” significativa no desempenho e a Figura O.5. Existem modelos mentais para o quanto os meninos da casta inferior tiveram desempenho 30% falar com as crianças, quais riscos segurar, para quê pior que os meninos da casta superior, controlando poupar, como está o clima e a causa uma doença. Muitos outras variáveis individuais (Hoff e Pandey 2006, 2014). modelos mentais são úteis; outros não são e contribuem para a transmissão intergeracional da pobreza. Os Figura O.6 Dar destaque a uma identidade modelos mentais originam-se no lado cognitivo das estigmatizada ou considerada superior interações sociais, que as pessoas geralmente chamam pode afetar o desempenho dos estudantes de “cultura”. A cultura influencia a tomada de decisão de uma pessoa porque atua como um conjunto esquemas Meninos de casta elevada e de casta inferior de vilarejos na Índia foram distribuídos aleatoriamente em grupos com inter-relacionados de significados que as pessoas diferentes identidades de casta. Quando as castas não usam quando agem e fazem escolhas. Esses esquemas foram reveladas, os meninos de ambas as castas tiveram de significados funcionam como ferramentas para estatisticamente o mesmo desempenho na solução de habilitar e orientar a ação (DiMaggio 1997). quebra-cabeças. A revelação da casta nas salas de aula com Os modelos mentais e as crenças e práticas sociais castas mistas reduziu o desempenho dos meninos da casta inferior. Mas a revelação pública das castas nas salas de aula geralmente se tornam profundamente enraizadas nas com castas separadas – um indicador de direito adquirido da pessoas. Temos a tendência de internalizar aspectos da casta elevada - reduziu o desempenho, tanto dos meninos sociedade partindo do princípio que são “fatos sociais” de casta elevada quanto dos de classe baixa e, mais uma vez, inevitáveis. Os modelos mentais das pessoas moldam não houve distinção entre seus desempenhos. seu entendimento sobre o que é certo, o que é natural 7 e o que é possível na vida. As relações e estruturas sociais, por sua vez, são a base do “senso comum” Número de quebra-cabeças resolvidos construído socialmente, que representa as evidências, 6 as ideologias e aspirações que os indivíduos dão como certas e utilizam para tomar decisões – e que, em alguns casos, aumentam as diferenças sociais. Documentos 5 produzidos por antropólogos e outros cientistas sociais indicam que o que as pessoas consideram provas irrefu- 4 táveis e senso comum (seus modelos mentais básicos sobre seu mundo e como ele funciona) é geralmente formado por relações econômicas, filiações religiosas e 3 identidades de grupos sociais (Bourdieu 1977; Kleinman 2006). Grande parte desse trabalho afirma que para alcançar a mudança social em uma situação em que 2 os modelos mentais foram internalizados talvez seja preciso influenciar não apenas a tomada de decisão cognitiva de determinadas pessoas, mas também as 1 práticas sociais e as instituições. Um exemplo canônico de um modelo mental é  o 0 estereótipo, que é um modelo mental de um grupo Casta não revelada Casta revelada, Casta revelada, social. Os estereótipos afetam as oportunidades grupos de grupos de disponíveis para as pessoas e moldam os processos castas mistas castas separadas de inclusão e exclusão social. Como consequência Casta superior Casta inferior dos estereótipos, as pessoas de grupos desfavore- cidos tendem a subestimar suas habilidades (Guyon Fonte: Hoff e Pandey 2014. Visão Geral 13 O destaque dado à casta chamou a atenção para as A exposição à ficção, como um seriado de televisão, identidades dos meninos e afetou o desempenho. O pode mudar modelos mentais (ver Destaque 2 sobre desempenho dos meninos estigmatizados da casta educação pelo entretenimento). Por exemplo, quando inferior caiu com relação ao desempenho dos meninos as pessoas que viviam em sociedades com alto índice da casta elevada. Quando a casta foi revelada para os de fertilidade entravam em contato com seriados meninos da casta superior, mas eles não estavam junto interessantes sobre famílias com poucos filhos, as com os meninos da casta inferior, os meninos da casta taxas de fertilidade caíam (Jensen e Oster 2009; La superior tiveram desempenho ruim, talvez porque essa Ferrara, Chong e Duryea 2012). revelação tenha despertado uma sensação de direito Os modelos mentais compartilhados são persistentes adquirido e “Por que tentar?” A simples presença de um e podem exercer grande influência sobre as escolhas estereótipo pode contribuir para mensurar as diferenças das pessoas e agregar resultados sociais. Tendo em de capacidade, as quais, por sua vez, podem reforçar o vista que os modelos mentais são de certa forma estereótipo e servir de base para a distinção e exclusão, maleáveis, as intervenções podem direcioná-los para em um ciclo vicioso. promover objetivos de desenvolvimento. Os indivíduos A descoberta de maneiras de quebrar esses ciclos têm muitos modelos mentais diferentes e conflitantes pode aumentar enormemente o bem-estar de pessoas que podem empregar em qualquer situação; sua marginalizadas. Evidências obtidas de diversos contextos escolha dependerá de qual deles o contexto vai ativar. sugerem que mencionar as identidades positivas pode As políticas que expõem as pessoas a novas formas contrabalançar estereótipos e elevar as aspirações. O de pensamento e entendimentos alternativos sobre incentivo para que os indivíduos ponderem sobre seus o mundo podem ampliar o conjunto disponível de próprios pontos fortes ocasionou melhores resultados modelos mentais e, portanto, desempenham um papel acadêmicos entre as minorias de risco nos Estados importante no desenvolvimento. Unidos; maior interesse em programas de combate à pobreza entre as pessoas de baixa renda e um aumento Perspectivas psicológicas e na probabilidade de conseguir emprego entre os desem- sociais a respeito de política pregados no Reino Unido (Cohen et al. 2009; Hall, Zhao Em muitos casos, um entendimento mais completo e Shafir 2014; Bennhold 2013). sobre a tomada de decisão humana pode ajudar Essas ponderações também ampliam os conjuntos as sociedades a alcançarem objetivos amplamente de ferramentas dos formuladores de políticas de compartilhados, tais como mais poupança ou melhor outras formas. Um conjunto cada vez mais importante saúde e, dessa forma, melhorar o bem-estar individual. de intervenções de desenvolvimento envolve a mídia. A Tabela O.2 apresenta exemplos de intervenções Tabela O.2 Exemplos de intervenções comportamentais com excelente relação custo-benefício Intervenção Descrição Resultado Lembretes Mensagens de texto semanais para lembrar os pacientes Adesão a um tratamento médico de tomarem seus medicamentos para o HIV no Quênia. Lembretes semanais aumentaram a taxa de adesão ao medicamento de 40% para 53%. Presentes não monetários Pequenos incentivos e prêmios não financeiros – como lentilhas Taxa de imunização e pratos de metal para refeições – foram combinados com Entre as crianças de 1-3 anos de idade, as taxas de imunização completa um provedor de imunização confiável dentro da comunidade foram de 39% com os incentivos das lentilhas em comparação com 18% na Índia. no grupo que recebeu apenas imunização confiável. Nas áreas sem qualquer intervenção, a taxa de imunização completa foi de 6%. Avisos públicos Foram colocados pequenos adesivos em ônibus escolhidos Acidentes de trânsito aleatoriamente incentivando os passageiros a "abordar As taxas anuais de reivindicações de pagamento de seguro e repreender" motoristas imprudentes no Quênia. por acidentes caíram de 10% para 5%. Tornar os produtos Dispensadores de cloro foram fornecidos gratuitamente junto Aderência à cloração convenientes às fontes de água locais e foram contratados promotores de A taxa de aderência foi de 60% nos domicílios com dispensadores cloração da água para visitar as casas no Quênia. em comparação com 7% no grupo de comparação. Mensagens inspiradoras Foram exibidos em domicílios de baixa renda vídeos sobre como Aspirações e investimentos pessoas como elas haviam saído da pobreza ou melhorado sua As aspirações para as crianças aumentaram. O total de poupança situação socioeconômica na Etiópia. e investimentos em educação foi maior ao fim de seis meses. Momento das transferências Parte de uma transferência monetária condicionada foi poupada Matrícula no ensino superior monetárias automaticamente e entregue de uma só vez no momento em que A taxa de matrícula para o próximo ano letivo aumentou sem redução eram tomadas as decisões sobre matrícula escolar na Colômbia. da frequência atual. Fontes: Pop-Eleches et al. 2011; Banerjee et al. 2010; Habyarimana e Jack 2011; Kremer et al. 2009; Bernard et al. 2014; Barrera-Osorio et al. 2011. 14 Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2015 baseadas em um entendimento mais realista do apresentam desempenho pior na mesma série de comportamento humano que leva em consideração testes cognitivos antes de receberem o pagamento pela os fatores humanos. O aproveitamento de percepções colheita do que depois de recebê-lo – uma diferença de sobre o comportamento moderno e sobre as ciências pontuação equivalente a 10 pontos de QI. Nesse sentido, sociais pode gerar novos tipos de intervenção capazes a pobreza cobra um “tributo cognitivo”. de produzir excelente relação custo-benefício. A política de desenvolvimento destinada a reduzir Um maior entendimento do comportamento ou eliminar o tributo cognitivo imposto à pobreza humano pode aprimorar a política de desenvolvi- poderia tentar afastar o momento das decisões críticas mento. Enquanto a parte 1 deste relatório é organizada dos períodos nos quais a capacidade cognitiva e a por princípios de comportamento humano, a parte energia (“largura de banda”) são previsivelmente 2 é organizada por problemas de desenvolvimento e baixas (como transferir as decisões sobre matrícula ilustra como esses princípios podem ser aplicados em escolar para mais próximo dos períodos em que a diversos domínios de política. Os capítulos procuram renda é mais alta) ou direcionar a assistência para as oferecer um guia ilustrativo e não um guia abrangente. decisões que possam exigir muita largura de banda (como a escolha de um plano de saúde ou inscrição em Pobreza um programa de ensino superior). A pobreza não é apenas a deficiência de recursos As pesquisas psicológicas e antropológicas também materiais, mas também um contexto no qual as sugerem que a pobreza gera um modelo mental decisões são tomadas. Ela pode impor um ônus por meio do qual os pobres veem a si próprios e a cognitivo às pessoas, o que torna particularmente suas oportunidades. Particularmente, esse modelo difícil para elas pensar de maneira ponderada (Mullai- pode prejudicar a capacidade de imaginar uma vida nathan e Shafir 2013). As pessoas que precisam melhor (Appadurai 2004). As evidências demonstram empregar muita energia mental todos os dias apenas também que as intervenções e os projetos de políticas para assegurar acesso a necessidades básicas como que alteram esse modelo mental para que as pessoas alimento e água tratada ficam com menos energia para possam reconhecer seu próprio potencial com mais deliberações ponderadas do que aquelas que, simples- facilidade – ou que pelo menos poupem as pessoas mente por viverem em uma área com boa infraes- pobres das lembranças de sua privação – podem trutura e boas instituições, podem se concentrar em melhorar importantes resultados de desenvolvimento, investir em um negócio ou ir às reuniões do comitê tais como rendimento escolar, participação no mercado escolar. Assim, as pessoas de baixa renda podem ser de trabalho e adoção de programas de combate forçadas a valer-se ainda mais da tomada de decisão à pobreza. automática do que as pessoas que não são pobres. (Capítulo 4). Desenvolvimento infantil O alto nível de estresse e a insuficiência de estímulo socioemocional e cognitivo nos primeiros anos de O aproveitamento de percepções sobre vida, que tendem a estar associados com o crescimento na pobreza, podem prejudicar o desenvolvimento o comportamento moderno e sobre do sistema de tomada de decisão automática (como a capacidade de lidar com o estresse) e o sistema as ciências sociais pode gerar novos deliberativo (como a capacidade de prestar atenção). O Capítulo 5 aborda essas questões. tipos de intervenções capazes de ter Em todos os países estudados até o momento, quer de renda baixa, média ou alta, a partir dos três anos de excelente relação custo-benefício. idade existe uma divergência nas habilidades cognitivas e não cognitivas de crianças de famílias do patamar mais baixo de distribuição de renda nacional e daquelas Os agricultores que cultivam cana-de-açúcar na da camada mais elevada. Essa disparidade é resultado, Índia, por exemplo, geralmente recebem seu pagamento em parte, de problemas que a política pode tratar. uma vez por ano, na época da colheita. A grande O problema de insuficiência de estímulo para diferença de pagamento entre imediatamente antes ou as crianças é de especial interesse para os países de imediatamente após a colheita afeta a tomada de decisão baixa renda. Um estudo de práticas de prestação de financeira. Imediatamente antes da colheita é muito cuidados por mães em 28 países em desenvolvimento mais provável que esses agricultores tenham tomado constatou que a prestação de cuidado socioemocional empréstimos e penhorado alguns de seus pertences. não variava muito com o nível de desenvolvimento. Essa angústia financeira prejudica os recursos cogni- Por outro lado, a quantidade de estímulo cognitivo tivos que os agricultores têm disponíveis antes do que as mães oferecem é sistematicamente inferior tempo da colheita (Mani et al. 2013). Esses agricultores nos países com medidas mais baixas de variáveis Visão Geral 15 econômicas, de saúde e de educação de acordo com desenvolvimento emocional e cognitivo. As crianças o Índice de Desenvolvimento Humano das Nações escolhidas aleatoriamente para participar do programa Unidas (Figura O.7). Nesse estudo, o nível de estímulo ganharam 25% mais como adultas do que aquelas do cognitivo foi medido pelo número de vezes que um grupo de controle que não participaram do programa – cuidador lia livros, contava histórias e participava o suficiente para fechar a lacuna com a população que de atividades de dar nomes, contar ou desenhar com não estava em desvantagem. a criança. Quando o estímulo cognitivo entre os bebês é baixo, eles têm interações linguísticas menos Finanças domésticas numerosas e menos sofisticadas, o que pode resultar É difícil tomar uma boa decisão financeira. É preciso em menos facilidade com linguagem e pode prejudicar que as pessoas compreendam o custo do dinheiro no o rendimento escolar no futuro. futuro, concentrem-se nos ganhos e perdas de maneira O estímulo na primeira infância tem grande correta, resistam à tentação de consumir demais impacto no sucesso no mercado de trabalho na idade e  evitem a procrastinação. Percepções comporta- adulta, constatou um estudo realizado durante 20 anos mentais e sociais recentes demonstram as dificuldades na Jamaica (Gertler et al. 2014). Os profissionais de envolvidas, embora também abram caminhos para os saúde comunitária fizeram visitas semanais aos formuladores de políticas ajudarem as pessoas a tomar lares para ensinar as mães como brincar e interagir decisões que atendam a seus interesses e alcancem com seus filhos de maneiras que promovam o seus objetivos (Capítulo 6). Figura O.7 Existe uma variação maior entre os países no tocante à prestação de cuidados cognitivos do que na prestação de cuidados socioemocionais As atividades de cuidados cognitivos, representadas por barras azul escuro, tendem a ser muito maiores nos países com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) elevado do que nos países com IDH baixo, embora existam apenas pequenas diferenças nas atividades socioemocionais (barras azul claro) entre os países. A altura das barras com bebês indica o número médio de atividades de prestação de cuidados cognitivos relatado por pais em países com IDH alto e baixo. Atividades de cuidados cognitivos Atividades de cuidados socioemocionais IDH baixo IDH médio IDH alto Número médio de atividades de cuidados 3 2 1 0 Togo Gâmbia Costa do Marfim Guiné-Bissau República Centro-Africana Serra Leoa Tailândia Belize Jamaica República Árabe da Síria Mongólia Vietnã Uzbequistão Quirguistão Tajiquistão Iêmen Gana Bangladesh Montenegro Sérvia Belarus Macedônia Albânia Cazaquistão Bósnia e Herzegovina Fonte: Bornstein e Putnick 2012. Nota: Os gráficos de barras mostram o número de atividades de prestação de cuidados relatados por mães nos últimos três anos de acordo com dados comparáveis de 28 países em desenvolvimento classificados pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das Nações Unidas. As três categorias de atividades de cuidados cognitivos mensuradas foram a leitura de livros, contar de histórias e dar nomes, contar ou desenhar com a criança. 16 Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2015 Um experimento com uma população de baixa Figura O.8 O esclarecimento de um formulário pode renda no México demonstra como as restrições de ajudar os mutuários a encontrarem um melhor produto largura de banda podem limitar o modo como as de empréstimo pessoas processam informações financeiras (Giné, Pessoas de baixa renda da Cidade do México foram convidadas para Martinez Cuellar e Mazer 2014). As pessoas de baixa participarem de uma aula e escolherem o produto mais barato para um renda da Cidade do México foram solicitadas a escolher empréstimo de US$ 800 (10 mil pesos) dentre um conjunto de cinco produtos. o melhor produto de empréstimo de 10 mil pesos Os que dessem a resposta certa ganhariam prêmios. Quando utilizaram as (cerca de US$ 800) em um ano a partir de uma lista de descrições fornecidas pelos bancos para seus produtos, somente 39% das pessoas conseguiram identificar o produto de crédito mais barato. Quando produtos de empréstimo parecidos com os disponíveis utilizaram uma folha de resumo mais clara, 68% identificaram o crédito mais localmente. Aqueles que identificassem o produto de barato. Cada indivíduo levou em conta um conjunto diferente de produtos menor custo ganhariam prêmios. Como demonstra a que eram representativos da verdadeira distribuição de produtos de crédito Figura O.8, painel a, somente 39% das pessoas conse- oferecida pelos bancos da Cidade do México. guiram identificar o produto de menor custo quando a. Folhetos do banco b. Folha de resumo receberam os folhetos criados pelos bancos para seus clientes. Mas uma fração muito maior (68%) de pessoas conseguiu identificar o produto de crédito de menor custo usando um resumo de fácil compreensão projetado pelo Serviço de Crédito Financeiro ao Consu- midor do México (Figura O.8, painel b). Outro conjunto de intervenções enfocou a poupança. Alguns programas têm ajudado as pessoas a alcan- çarem seus objetivos de poupança mediante o uso de lembretes que ressaltam os objetivos. Uma série de estudos na Bolívia, Peru e Filipinas mostra que mensagens de texto simples e oportunas lembrando as pessoas de poupar melhora as taxas de poupança em sincronia com seus objetivos (Karlan, Morten e Zinman 2012). Outros programas têm ajudado as pessoas a aumentarem sua poupança oferecendo dispositivos de compromisso nos quais os consumi- dores voluntariamente abrem mão do acesso às suas economias até atingirem um nível especificado de poupança. Quando as cadernetas de poupança foram oferecidas nas Filipinas sem a opção de retirada por 39% das pessoas conseguiram identificar 68% das pessoas conseguiram identificar seis meses, quase 30% das pessoas a quem as cader- o produto de empréstimo mais barato o produto de empréstimo mais barato nos folhetos informativos dos bancos na folha resumida padronizada netas foram oferecidas, aceitaram-nas (Ashraf, Karlan e Yin 2006). Após um ano, as pessoas que tinham = 10 pessoas recebido a oferta e aceitaram as cadernetas aumen- taram sua poupança em 82% mais do que um grupo de controle que não tinha o produto. Esses e outros Fonte: Giné, Martinez Cuellar e Mazer 2014. estudos demonstram que fatores psicológicos e sociais impedem a tomada de decisão financeira e que as intervenções voltadas para esses fatores podem ajudar Dívidas de consumo elevadas são muitas vezes as pessoas a alcançarem seus objetivos financeiros. consequência de uma forma de pensar automati- camente, na qual as pessoas dão mais importância Produtividade ao consumo atual por meio de empréstimos do que Pensamento automático, modelos mentais e motivações à perda de consumo que ocorrerá quando tiverem que sociais também desempenham um papel impor- pagar esses empréstimos no futuro. Determinados tante na motivação dos trabalhadores e nas decisões tipos de regulamentação financeira podem ajudar de investimento dos agricultores e empresários os consumidores a planejar suas decisões acerca da (capítulo 7). Mesmo quando os incentivos monetários tomada de empréstimo em um contexto mais amplo, são fortes, as pessoas podem não fazer todo o esforço que englobe mais de uma perspectiva de consumo que pretendem, a menos que chegue o prazo final imediato. Esse tipo de regulamentação ajuda as ou o dia de pagamento. Os trabalhadores podem, por pessoas a tomarem as decisões financeiras que elas exemplo, tomar a decisão de trabalhar a cada momento provavelmente escolheriam se tivessem pensado de de forma mais limitada e, assim, deixar de alcançar forma deliberativa a respeito delas em vez de pensar seus próprios objetivos (a chamada linha divisória automaticamente. entre intenção e ação). Visão Geral 17 O hiato entre intenções e ações inspirou uma inter- pessoas de pensarem automaticamente, socialmente e venção que ofereceu a funcionários de processamento com modelos mentais pode melhorar a produtividade. de dados na Índia a oportunidade de escolher um contrato no qual cada trabalhador poderia definir um Saúde número de campos digitados com precisão que ele ou As decisões que as pessoas tomam acerca de sua saúde ela inserisse. Se o funcionário alcançasse sua meta, ele e seus organismos resultam de um emaranhado de ou ela receberia o salário normal por produtividade. informações, da disponibilidade e dos preços de bens Porém, se não alcançasse sua própria meta, ele ou ela e serviços para a saúde, normas e pressões sociais, receberia menos. Se as pessoas podem simplesmente modelos mentais das causas de doenças e a disposição fazer aquilo que se dispõem a fazer, não há nenhum para experimentar determinadas intervenções. Ao benefício em escolher este tipo de contrato porque os reconhecer essa ampla variedade de fatores humanos, trabalhadores não aumentam seu pagamento se alcan- a política de desenvolvimento relacionada com a saúde çarem a meta, mas o reduzem caso isso não ocorra. pode, em alguns casos, aumentar dramaticamente Mas se os trabalhadores reconhecerem que existe uma seus resultados (Capítulo 8). lacuna entre intenções e ações, o contrato de compro- Consideremos o problema de defecação ao ar livre. misso pode atender a uma finalidade útil. Como o Cerca de 1 bilhão de pessoas defeca ao ar livre, e a esforço tem um custo no presente e uma recompensa defecação está relacionada com infecções em crianças no futuro, as pessoas podem dedicar menos tempo que acarretam atraso no crescimento e, em alguns ao esforço do que seu pensamento deliberativo prefe- casos, a morte. Uma abordagem padrão é fornecer riria. O contrato de compromisso dá ao indivíduo informação, além de mercadorias a preço subsidiado – um incentivo para trabalhar mais do que o faria no neste caso para a construção de vasos sanitários. Mas momento atual quando o trabalho precisa ser feito. mesmo com a implantação dessas mudanças, são No caso dos profissionais de processamento de dados necessárias também normas sanitárias para acabar com essa prática prejudicial á saúde. Funcionários do da Índia, cerca de um terço escolheu um contrato de governo de Zimbábue desenvolveram “clubes de saúde compromisso – indicando que alguns desses traba- comunitários” para criar estruturas comunitárias lhadores tinham, eles próprios, uma necessidade que servissem de fonte de endosso do grupo a novas de serem cobrados. Os contratos de compromisso normas sanitárias (Waterkeyn e Cairncross 2005). escolhidos pelo próprio funcionário aumentaram Uma abordagem correlata para a criação de novas o esforço. Os trabalhadores que optaram por esses normas com algumas provas empíricas é o Sanea- contratos aumentaram sua produtividade em um mento Total Liderado pela Comunidade (CLTS). Um montante equivalente ao que seria um aumento de 18% elemento fundamental dessa abordagem é o fato de nos salários por produtividade (Kaur, Kremer e Mullai- os líderes da CLTS trabalharem com os membros da nathan 2014). comunidade para fazer mapas das moradias e dos A maneira como um nível idêntico de pagamento locais onde as pessoas defecam ao ar livre. O facilitador é descrito também pode afetar a produtividade. usa um conjunto de exercícios para ajudar as pessoas Tomemos o exemplo do pagamento por desempenho a reconhecerem as implicações do que viram para a para professores, no qual os professores recebem uma disseminação de infecções e para desenvolver novas bonificação no final do ano que depende do desem- normas de maneira compatível. Um estudo recente e penho acadêmico ou do progresso dos seus alunos. sistemático de CLTS em vilarejos na Índia e Indonésia Esse tipo de intervenção não melhorou as notas das oferece provas da importância da iniciativa, bem como provas nas comunidades de baixa renda da cidade de suas limitações. Foi constatado que os programas de Chicago, Estados Unidos (Fryer et al. 2012). Outra de CLTS diminuem a defecação ao ar livre em 7% a 11% variante do programa, contudo, alterou o momento a partir de níveis muito elevados na Indonésia e na das bonificações e apresentou-as como prejuízos Índia, respectivamente, em comparação com vilarejos e não como ganhos. No início do ano letivo, os profes- de controle. Mas nos lugares em que a CLTS foi sores receberam o montante que os administradores associada a subsídios para a construção de sanitários, esperavam que seria a média das bonificações. Se o seu impacto na disponibilidade de sanitários no desempenho dos seus alunos fosse acima da média no interior das casas foi muito maior. Essas constatações final do ano, eles receberiam um pagamento adicional. sugerem que a CLTS pode complementar, mas talvez Se o desempenho dos estudantes fosse abaixo da não substituir, os programas que fornecem recursos média, contudo, eles teriam que devolver a diferença para a construção de sanitários (Patil et  al.  2014; entre o que receberam no início e o bônus final que Cameron, Shah e Olivia 2013). eles teriam recebido caso o desempenho dos seus Os modelos mentais do corpo humano também alunos fosse acima da média. Esse bônus apresentado afetam as escolhas e comportamentos sobre saúde. como prejuízo melhorou em muito os resultados das Crenças sobre as causas de esterilidade, autismo e provas. Como esses exemplos sugerem, intervenções outras condições influenciam as decisões dos pais bem planejadas que levam em conta as tendências das de vacinarem seus filhos, bem como de aderirem 18 Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2015 a tratamentos apropriados. Na Índia, 35%-50% das em todos os lugares, existem muitos exemplos nos mulheres de baixa renda relatam que o tratamento quais os líderes transformaram as expectativas sociais apropriado para uma criança com diarreia é reduzir e melhoraram o desempenho. a ingestão de líquidos, o que faz sentido se o modelo mental prevalente atribui a causa da diarreia ao excesso Mudança climática de líquido (então a criança está “vazando”) (Datta e A resposta à mudança climática é um dos desafios Mullainathan 2014). Todavia, existe um tratamento de centrais do nosso tempo. Os países e comunidades de baixo custo e extraordinariamente bem-sucedido para baixa renda são em geral mais vulneráveis aos efeitos a diarreia: terapia de reidratação oral (TRO). Embora a da mudança climática e também arcarão com custos TRO salve vidas evitando a desidratação, ela não acaba significativos durante as transições para economias com os sintomas da diarreia, tornando os benefícios de baixo carbono. A abordagem da mudança climática mais difíceis de perceber. O Comitê para o Progresso requer que as pessoas e as sociedades não apenas Rural de Bangladesh enfrentou os obstáculos à adoção superem os complexos desafios econômicos, políticos, de TRO criando uma abordagem doméstica na qual tecnológicos e sociais, mas também contornem eram contratados agentes comunitários de saúde para várias ilusões cognitivas e preconceitos (Capítulo 9). ensinar às mães como preparar soluções de TRO em As  pessoas baseiam suas opiniões sobre o clima em casa. Os agentes realizavam interações sociais presen- sua experiência recente com as condições climáticas. ciais e explicavam a importância do tratamento. Essa A observância de preceitos ideológicos e sociais pode e outras campanhas semelhantes impulsionaram a acarretar o viés de confirmação, que é a tendência de adoção de TRO em Bangladesh e em todo o Sul da Ásia. as pessoas interpretarem e filtrarem informações Iniciativas para aumentar o uso de produtos e de uma maneira que confirme suas ideias preconce- serviços de saúde geralmente dependem de subsídios, bidas e hipóteses. As pessoas tendem a ignorar ou a outra área em que as percepções psicológicas e sociais menosprezar as informações apresentadas em proba- são importantes. As pessoas podem querer adotar bilidades, inclusive previsões de chuvas sazonais e e  usar produtos de saúde se eles forem gratuitos, outras variáveis relacionadas com o clima. Os seres mas são quase totalmente resistentes ao uso quando humanos preocupam-se muito mais com o presente os preços são qualquer coisa acima de zero (Kremer do que com o futuro, e muitos dos piores impactos e Glennerster 2011). O motivo é que os preços dos da mudança climática podem ocorrer daqui a vários produtos de saúde podem ter significados que vão anos. As pessoas tendem a evitar tomar alguma além do valor do pagamento exigido em troca. Um atitude diante do desconhecido. Preconceito que atende a produto que seja gratuito desencadeia uma reação interesse próprio – a tendência das pessoas de preferir emocional e pode transmitir uma norma social de princípios, especialmente princípios relativos a justiça que todos devem usá-lo e o usarão. A determinação que atendam a seus interesses – dificulta alcançar dos preços como zero, contudo, pode promover o acordos sobre como compartilhar o ônus da mitigação desperdício se as pessoas levarem o produto mas não e da adaptação à mudança climática. o utilizarem. A pesquisa sobre esse tema nos países As perspectivas psicológicas e sociais também em desenvolvimento é recente, mas a mensagem que ampliam o leque de opções para abordar a mudança emerge é que se os produtos forem suficientemente climática. Uma opção é usar a política para promover importantes para serem subsidiados, pode haver novos hábitos de uso de energia. Em estudo sobre o compensações significativas em definir os preços em efeito de um período de oito meses de racionamento zero e não próximos de zero. obrigatório de eletricidade no Brasil, as evidências As escolhas feitas pelos prestadores de cuidados comprovam que a política levou a uma redução persis- de saúde também são resultado de um complicado tente do uso de eletricidade, com consumo 14% menor, emaranhado de fatores, inclusive informações cientí- mesmo 10 anos após o fim do racionamento. Dados de ficas à sua disposição, quanto e como são pagos e domicílios acerca da existência de eletrodomésticos normas profissionais e sociais. O simples lembrete aos e hábitos de consumo indicam que uma mudança prestadores acerca das expectativas sociais que cercam de hábitos foi o principal motivo para a redução do seu desempenho, já pode mudá-lo. Por exemplo: consumo (Costa 2012). os médicos clínicos na área urbana da Tanzânia Um programa de conservação de energia nos melhoraram consideravelmente seu esforço quando Estados Unidos ilustra de que modo as comparações um colega visitante simplesmente pediu a eles que sociais também podem influenciar o consumo de melhorassem seus cuidados (Brock, Lange e Leonard, energia. A empresa responsável pelo programa, no prelo), embora a visita não trouxesse nenhuma Opower, enviou pelo correio “relatórios de energia informação nova, não mudasse os incentivos e não doméstica” para centenas de milhares de domicílios; impusesse qualquer consequência material. Embora esses relatórios comparavam o uso de eletricidade de o desenvolvimento e o aprimoramento de normas um domicílio com a quantidade utilizada por outros profissionais e sociais em cuidados de saúde não sejam na mesma vizinhança e no mesmo período. Essa medidas simples e a mesma solução não dará resultado simples informação resultou em uma redução de 2% Visão Geral 19 no consumo de energia, o equivalente a reduções em menos informadas do que realmente são. Crenças consequência de aumentos de curto prazo nos preços como essa acerca do contexto da pobreza moldam de energia de 11%-20% e um aumento de longo prazo as escolhas de políticas. É importante comparar os de 5% (Allcott 2011; Allcott e Rogers 2014). modelos mentais sobre pobreza com a realidade (Capítulo 10). O trabalho dos profissionais A pesquisa da equipe do WDR 2015 estudou também de desenvolvimento as formas como as perspectivas ideológicas e políticas afetam o modo como o pessoal do Banco Mundial O reconhecimento do fator humano na tomada de interpreta os dados. Os entrevistados receberam dados decisão e no comportamento tem duas repercussões idênticos em dois contextos diferentes e foram solici- relacionadas entre si para a prática do desenvolvi- tados a identificar a conclusão mais compatível com mento. Em primeiro lugar, peritos, formuladores de os dados. Um contexto usou uma estrutura política e políticas e profissionais do desenvolvimento estão, como todo mundo, sujeitos aos preconceitos e erros que podem resultar do pensamento automático, pensamento social e uso de modelos mentais. Eles Os próprios profissionais do precisam ter mais consciência desses preconceitos, e as organizações devem implementar procedimentos desenvolvimento estão sujeitos aos para mitigá-los. Segundo, detalhes aparentemente pequenos do projeto podem, às vezes, ter grandes preconceitos e erros que podem resultar efeitos nas escolhas e ações das pessoas. Além disso, desafios semelhantes podem ter causas diferentes; do pensamento automático, pensamento as soluções para um desafio em um contexto podem não funcionar em outro. Consequentemente, a prática social e uso de modelos mentais. do desenvolvimento exige um processo repetitivo de descoberta e aprendizagem. Vários fatores psicoló- Eles precisam ter mais consciência gicos e sociais podem afetar o sucesso ou o fracasso de uma política; embora alguns desses fatores talvez desses preconceitos, e as organizações sejam conhecidos antes da implementação, outros não são. Isso significa que é necessário um processo devem implementar procedimentos de aprendizagem iterativo que, por sua vez, implique a distribuição dos recursos (tempo, dinheiro e conhe- para  mitigá-los. cimento) pelos diversos ciclos de projeto, implemen- tação e avaliação. ideologicamente neutra: um estudo sobre qual entre dois cremes hidratantes era mais eficaz. O segundo Profissionais do desenvolvimento contexto tinha mais carga política e ideológica: se Embora o objetivo do desenvolvimento seja acabar as leis sobre salário mínimo reduzem a pobreza. com a pobreza, os profissionais do desenvolvimento A pesquisa constatou que o pessoal do Banco Mundial nem sempre são bons em prever de que modo a deu mais respostas certas no contexto do creme hidra- pobreza molda atitudes mentais. A equipe do WDR tante do que no do salário mínimo, embora os dados 2015 realizou uma pesquisa aleatória para examinar a fossem os mesmos em ambos os contextos. Alguém capacidade de julgamento e a tomada de decisão entre poderia ficar tentado a dizer que isso ocorreu apesar de o pessoal do Banco Mundial. Apesar de 42% do pessoal muitos funcionários do Banco Mundial serem peritos ter previsto que a maioria das pessoas pobres em altamente capacitados em pobreza mas, na realidade, Nairóbi, Quênia, concordaria com a afirmação de que isso ocorreu porque os funcionários do Banco “as vacinas são arriscadas porque podem causar esteri- Mundial são altamente capacitados nesse assunto. lização”, somente 11% dos pobres da amostra (definidos Diante de um cálculo complexo, eles interpretaram os neste caso como o terço inferior da distribuição de novos dados de maneira coerente com suas opiniões riqueza naquela cidade) efetivamente concordaram anteriores, a respeito das quais se sentiam seguros. com a afirmação. Da mesma forma, o pessoal previu Essa pergunta da pesquisa seguiu a linha de investi- que um número muito maior de residentes pobres gação desenvolvida por Kahan et al. (2013). de Jacarta, Indonésia, e Lima, Peru, expressasse senti- Uma maneira de superar as limitações naturais do mentos de impotência e falta de controle sobre seu discernimento dos profissionais de desenvolvimento futuro do que realmente ocorreu segundo a pesquisa pode ser tomar emprestado e adaptar certos métodos da equipe do WDR 2015. Essa constatação sugere que da indústria. Dogfooding é uma prática no setor de os profissionais do desenvolvimento podem supor que tecnologia na qual os próprios funcionários da empresa as pessoas de baixa renda tenham menos autonomia, utilizam um produto e o testam para descobrir seus menos responsabilidade, menos esperança e sejam defeitos. Eles solucionam os problemas do produto 20 Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2015 antes de lançá-lo no mercado. Os criadores de políticas instituição e o aumento da tolerância da organização poderiam experimentar o processo de inscrever-se a falhas. Em muitos casos, o diagnóstico inicial pode em seus próprios programas ou tentar ter acesso aos estar incorreto ou pode ter apenas um êxito parcial. serviços disponíveis como forma de diagnosticar os Somente por meio da implementação isso se tornará problemas antecipadamente. Paralelamente, a prática claro. Entretanto, em vez de punir o fracasso ou de red teaming, usada nos setores militar e privado, sepultar as constatações de fracasso, as organizações poderia ajudar a revelar as fragilidades dos argumentos precisam reconhecer que os verdadeiros fracassos antes de as grandes decisões serem tomadas e dos são aquelas intervenções de políticas nas quais não há programas serem desenhados. Em red teaming, um aprendizagem oriunda da experiência. grupo externo tem a função de desafiar os planos, Para entender a utilidade dessa abordagem, conside- procedimentos, recursos e premissas de um projeto remos o problema da diarreia em alguns experimentos operacional, com o intuito de adotar a perspectiva implementados no Quênia para descobrir métodos de parceiros ou adversários potenciais. O red teaming com eficácia de custo para enfrentá-lo (Ahuja, Kremer baseia-se na percepção, extraída da psicologia social, de e Zwane 2010). A água contaminada por bactérias é um importante elemento da carga de doença entre crianças Diversos fatores comportamentais e pode acarretar prejuízos físicos e cognitivos para toda a vida. A falta de acesso à água tratada foi diagnosticada e sociais podem afetar o êxito de como um problema. Assim, uma intervenção antecipada destinou-se a melhorar a infraestrutura das fontes de uma política. Portanto, a prática de água dos domicílios, que são nascentes naturais. As nascentes eram suscetíveis à contaminação, como por exemplo por matéria fecal do seu entorno. Para reduzir desenvolvimento exige um processo a contaminação, as nascentes foram cobertas com concreto para que a água fluísse de um cano acima do iterativo de descoberta e aprendizagem, solo em vez de brotar do chão. Embora essa medida tenha melhorado consideravelmente a qualidade da que implica a distribuição do tempo, água na origem, seus efeitos foram apenas moderados na qualidade da água consumida nos domicílios porque dinheiro e conhecimento técnico ao a água era facilmente contaminada durante o trans- porte ou armazenamento. longo de vários ciclos de projeto, O problema foi, então, redefinido como: as famílias não tratam adequadamente a água em suas casas. implementação e avaliação. Outra repetição de experimentos demonstrou que a entrega gratuita de cloro em casa ou cupons de desconto que poderiam ser trocados no comércio que ambientes de grupo motivam os indivíduos para o local produziu elevada aceitação do produto para debate intenso. A deliberação de grupo entre pessoas tratamento da água em um primeiro momento mas que discordam, mas que compartilham um interesse acabou por não gerar resultados sustentáveis. As comum na busca da verdade pode dividir eficiente- pessoas precisavam clorar sua água quando voltavam mente o trabalho cognitivo, aumentar a probabilidade para casa com a água da nascente e precisavam de que o melhor projeto surja e atenue os efeitos do continuar indo à loja para comprar o cloro quando “pensamento de grupo”. o suprimento inicial terminava. Esses resultados sugeriram ainda outro diagnóstico Design adaptável, intervenções adaptáveis do problema: as famílias não conseguem manter o Tendo em vista que diversos fatores conflitantes uso do tratamento de água ao longo do tempo. Isso podem influenciar a tomada de decisão em um levou ao planejamento de dispensadores gratuitos determinado contexto e também que os profissionais de cloro junto à fonte de água, o que deu mais de desenvolvimento podem, eles próprios, estar importância ao tratamento da água (o dispensador inclinados para certas tendenciosidades ao avaliarem servia como lembrete exatamente quando as pessoas uma situação, o diagnóstico e a experimentação devem estavam pensando sobre a água) e mais comodidade fazer parte de um processo contínuo de aprendizagem (não havia necessidade de deslocar-se até a loja e a (Capítulo 11). Os mecanismos institucionais de pesquisa agitação da água e o tempo de espera para o cloro e política de desenvolvimento devem assegurar espaço fazer efeito ocorriam automaticamente durante para um diagnóstico sólido e para feedback eficaz com a  caminhada para casa). Isso também transformou o o objetivo de adaptar programas que se alinhem com tratamento da água em uma ação pública, que poderia as evidências reunidas durante a implementação. Essa ser observada por qualquer pessoa que estivesse na etapa pode exigir alterações nos modelos mentais da nascente no momento da coleta da água, propiciando Visão Geral 21 Figura O.9 O entendimento do comportamento e a identificação de intervenções eficazes constituem processos complexos e iterativos Em uma abordagem que incorpora aspectos psicológicos e sociais da tomada de decisão, o ciclo de intervenção parece diferente. Os recursos empregados na definição e diagnóstico, assim como no projeto, são maiores. O período de implementação testa várias intervenções, cada uma baseada em premissas diferentes sobre escolha e comportamento. Uma dessas intervenções é adaptada e inserida em uma nova rodada de definição, diagnóstico, projeto, implementação e teste. O processo de aprimoramento continua depois que as intervenções alcançam outro nível. ir e diagnosticar r e fazer novo diagnó Defin efini stico Red tar ap Ad Projetar ntar e avaliar leme Imp Fonte: Equipe do WDR. o reforço social do uso do tratamento da água. Esses Por que os governos devem envolver-se no processo dispensadores demonstraram ser o método de melhor de conformação de escolhas individuais? Existem três relação custo-benefício para aumentar o tratamento da razões básicas, discutidas no Destaque 6. Primeiro, água e prevenir os incidentes diarreicos (Laboratório a conformação de escolhas pode ajudar as pessoas a de Ação contra a Pobreza Abdul Latif Jameel, 2012). alcançarem seus próprios objetivos. Os lembretes para Resultados como esses, bem como o processo de poupar ou tomar medicamentos ajudam as pessoas investigação contínua utilizado para estabelecê-los, que estão envolvidas com outras coisas a alcançarem são animadores. Assim é a compreensão de que uma objetivos que elas próprias definiram. Os contratos de análise mais completa dos fatores psicológicos e sociais compromisso, que o mercado não contempla, podem que envolvem a tomada de decisão pode oferecer reforçar decisões de adotar comportamentos saudáveis. “frutos fáceis de colher”, ou seja, políticas com ganhos Estabelecer a correspondência entre o momento de relativamente elevados a um custo relativamente transferências sociais e o momento de cobranças de matrículas escolares ou facilitar a compra de baixo. Tendo em vista que pequenas mudanças no fertilizantes na época da semeadura, quando o dinheiro projeto e implementação podem produzir grandes está disponível, pode ajudar a superar a lacuna entre consequências para o êxito de uma intervenção, intenções e ações para as pessoas que podem ser a  experimentação contínua será crucial. A análise de desatentas ou que não tenham força de vontade dados atuais e recém-coletados e observações de campo suficiente (isto é, todos nós). Grande parte das políticas gerarão hipóteses que podem contribuir para o projeto que operam no limite entre a Economia e  a  Psicologia de possíveis intervenções. Intervenções com vários braços pode ser entendida nesses termos. – as intervenções que diversificam muitos parâmetros, Segundo, as preferências e metas imediatas tais como a frequência de lembretes ou o método de das pessoas nem sempre promovem seus próprios recompensar o esforço – podem elucidar quais deles interesses. As pessoas escolheriam de forma diferente, são mais eficazes para a consecução do objetivo social. de maneiras mais coerentes com suas aspirações A aprendizagem que ocorre durante a implementação mais elevadas se tivessem mais tempo e abrangência deve então retornar na forma de redefinição, novo para reflexão. Terceiro, as práticas e modelos mentais diagnóstico e remodelação de programas em um ciclo reforçados socialmente podem obstruir escolhas que de melhoria continuada (Figura O.9). aprimorem a ação e promovam o bem-estar e, assim, Antes de os formuladores de políticas lançarem impedem as pessoas de até mesmo imaginar deter- iniciativas para ajudar as pessoas com a tomada de minados cursos de ação, como quando o preconceito decisões, eles devem enfrentar uma pergunta normativa: pode, de maneira compreensível, levar as pessoas 22 Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2015 a adotarem aspirações menos ambiciosas. Os governos Akerlof, George A., and Robert Shiller. Forthcoming. devem agir quando a participação inadequada, “Phishing for Phools.” Unpublished manuscript. estrutura situacional e práticas sociais prejudicam Allcott, Hunt. 2011. “Social Norms and Energy a ação e criam ou perpetuam a pobreza. Embora Conservation.” Journal of Public Economics 95 (9): 1082–95. os atores do desenvolvimento tenham diferenças doi: 10.1016/j.jpubeco.2011.03.003. legítimas sobre algumas dessas questões e atribuam Allcott, Hunt, and Todd Rogers. 2014. “The Short-Run pesos diferentes às liberdades individuais e aos and Long-Run Effects of Behavioral Interventions: objetivos coletivos, os direitos humanos amplamente Experimental Evidence from Energy Conservation.” compartilhados e ratificados constituem um princípio American Economic Review 104 (10): 3003–37. doi: 10.1257 orientador para tratar esses dilemas. /aer.104.10.3003. Nem todas as percepções psicológicas ou sociais Appadurai, Arjun. 2004. “The Capacity to Aspire: Culture exigem mais intervenção do governo, algumas, até and the Terms of Recognition.” In Culture and Public menos. Como os próprios formuladores de políticas Action, edited by Vijayendra Rao and Michael Walton, estão sujeitos a preconceitos, eles devem buscar e 59–84. Palo Alto, CA: Stanford University Press. basear-se em evidências sólidas de que suas inter- Ashraf, Nava, Dean Karlan, and Wesley Yin. 2006. “Tying venções tenham os efeitos planejados e permitam Odysseus to the Mast: Evidence from a Commitment que as pessoas revisem e examinem suas políticas e Savings Product in the Philippines.” Quarterly Journal of intervenções, especialmente aquelas que se destinem Economics 121 (2): 635–72. a moldar a escolha individual. Ainda assim, isso não Banerjee, Abhijit Vinayak, Esther Duflo, Rachel significa que quando os governos se abstêm de atuar, as Glennerster, and Dhruva Kothari. 2010. “Improving pessoas façam livre e coerentemente as escolhas no seu Immunisation Coverage in Rural India: Clustered melhor interesse, sem influência de qualquer pessoa. Randomised Controlled Evaluation of Immunisation Várias partes interessadas exploram a tendência das Campaigns with and without Incentives.” BMJ 340. pessoas de pensarem automaticamente, sucumbirem à doi: http://dx.doi.org/10.1136/bmj.c2220. pressão social e confiar em modelos mentais (Akerlof Barrera-Osorio, Felipe, Marianne Bertrand, Leigh L. e Shiller no prelo), inclusive agiotas, anunciantes e Linden, and Francisco Perez-Calle. 2011. “Improving ­ elites de todos os tipos. Nesse contexto, a inação gover- the Design of Conditional Transfer Programs: namental não necessariamente deixa espaço para a Evidence from a Randomized Education Experiment liberdade individual mas, em vez disso, pode significar in Colombia.” American Economic Journal: Applied a indiferença pela perda de liberdade (Sunstein 2014). Economics 3 (2): 167–95. Este relatório procura acelerar o processo de Basu, Kaushik. 2010. Beyond the Invisible Hand: Groundwork aplicação de novas percepções à tomada de decisão for a New Economics. Princeton, NJ: Princeton para a política de desenvolvimento. As possibilidades University Press. e restrições desta abordagem – baseada na observação Beaman, Lori, Raghabendra Chattopadhyay, Esther Duflo, minuciosa das pessoas e no reconhecimento de que Rohini Pande, and Petia Topalova. 2009. “Powerful uma combinação de forças psicológicas e sociais afeta Women: Does Exposure Reduce Bias?” Quarterly sua percepção, cognição, suas decisões e comporta- Journal of Economics 124 (4): 1497–1540. mentos – ainda não são totalmente conhecidas. A Beaman, Lori, Esther Duflo, Rohini Pande, and Petia pesquisa apresentada no relatório origina-se de um Topalova. 2012. “Female Leadership Raises Aspirations campo ativo, interessante e incerto. Este relatório and Educational Attainment for Girls: A Policy é apenas o início de uma abordagem que pode final- Experiment in India.” Science 335 (6068): 582–86. mente alterar o campo da economia do desenvolvi- Bennhold, Katrin. 2013. “Britain’s Ministry of Nudges.” New mento e aumentar a eficácia das políticas e inter- York Times, Dec. 7. http://www.nytimes.com/2013/12/08 venções de desenvolvimento. /business/international/britainsministry-of-nudges .html?pagewanted=all&_r. Referências BenYishay, Ariel, and A. Mushfiq Mobarak. 2014. “Social Abdul Latif Jameel Poverty Action Lab. 2012. “Cleaner Learning and Communication.” Working Paper 20139, Water at the Source.” J-PAL Policy Briefcase (September). National Bureau of Economic Research, Cambridge, http://www.povertyactionlab.org/publication MA. /cleaner-water-source. Berg, Gunhild, and Bilal Zia. 2013. “Harnessing Emotional Ahuja, Amrita, Michael Kremer, and Alix Peterson Connections to Improve Financial Decisions: Zwane. 2010. “Providing Safe Water: Evidence from Evaluating the Impact of Financial Education in Randomized Evaluations.” Annual Review of Resource Mainstream Media.” Policy Research Working Paper Economics 2 (1): 237–56. 6407, World Bank, Washington, DC. Visão Geral 23 Bernard, Tanguy, Stefan Dercon, Kate Orkin, and Dupas, Pascaline, and Jonathan Robinson. 2013. “Why Alemayehu Seyoum Taffesse. 2014. “The Future in Don’t the Poor Save More? Evidence from Health Mind: Aspirations and Forward-Looking Behaviour in Savings Experiments.” American Economic Review 103 Rural Ethiopia.” Working Paper, Centre for the Study (4): 1138–71. African Economies, University of Oxford. of ­ Evans, Jonathan St. B. 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Intervention in Kenya.” Journal of Public Economics 95 (11): Duflo, Esther, Michael Kremer, and Jonathan Robinson. 1438–46. 2011. “Nudging Farmers to Use Fertilizer: Theory Hall, Crystal C., Jiaying Zhao, and Eldar Shafir. 2014. “Self- and Experimental Evidence from Kenya.” American Affirmation among the Poor: Cognitive and Behavioral Economic Review 101 (6): 2350–90. Implications.” Psychological Science 25 (2): 619–25. 24 Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2015 Henrich, Joseph, Robert Boyd, Samuel Bowles, Colin Mullainathan, Sendhil, and Eldar Shafir. 2013. Scarcity: Camerer, Ernst Fehr, Herbert Gintis, and Richard Why Having Too Little Means So Much. New York: Times McElreath. 2001. “In Search of homo economicus: Books. Behavioral Experiments in 15 Small-Scale Societies.” Patil, S. R., B. F. Arnold, A. L. Salvatore, B. Briceno, S. American Economic Review 91 (2): 73–78. Ganguly, J. Colford Jr., and P. J. 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Índice do Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2015 Sumário Prefácio Agradecimentos Abreviaturas Visão Geral: Tomada de decisões e política de desenvolvimento  Parte 1: Um entendimento amplo sobre o comportamento humano para o desenvolvimento econômico: uma estrutura conceitual 1. Pensar automaticamente 2. Pensar socialmente Destaque 1: Quando a corrupção é a norma 3. Pensar com modelos mentais Destaque 2: Entretenimento educacional Parte 2: Perspectivas psicológicas e sociais a respeito de política 4. Pobreza Destaque 3: Até que ponto compreendemos os contextos da pobreza? 5. Desenvolvimento na primeira infância 6. Finanças domésticas 7. Produtividade Destaque 4: Uso da etnografia para entender o local de trabalho 8. Saúde 9 Mudança climática Destaque 5: Promoção da conservação de água na Colômbia  arte 3: Aprimoramento do trabalho dos profissionais P do desenvolvimento 10 Os preconceitos dos profissionais do desenvolvimento 11. Projeto de adaptação, intervenções de adaptação Destaque 6: Por que os governos devem moldar as escolhas individuais? Índice ECOAUDITORIA Declaração de Benefícios Ambientais O Banco Mundial está comprometido com Foram salvos: a preservação das florestas em perigo de •  24 árvores extinção e dos recursos naturais. A Divisão 11 milhões de BTUs de •   de Publicação e Conhecimento decidiu energia total imprimir a Visão Geral do Relatório sobre 938 kg de gases do efeito •   o Desenvolvimento Mundial 2015: Mente, estufa líquidos Sociedade e Comportamento com papel 42.500 litros de águas •   reciclado com 50% de fibras pós-consumo residuais em conformidade com os padrões recomen- 340,7 kg de resíduos •   dados para o uso de papel, estabelecidos pela sólidos Iniciativa da Imprensa Verde, um programa sem fins lucrativos que apoia editoras no uso de fibra que não provenha de florestas em perigo de extinção. Para obter mais infor- mações visite www.greenpressinitiative.org. MENTE, SOCIEDADE E COMPORTAMENTO Está prevista uma reformulação da economia e da política do desenvolvimento Nas últimas décadas, as pesquisas de todas as ciências naturais e sociais proporcionaram um conhecimento surpreendente acerca da forma como as pessoas pensam e tomam decisões. Embora a primeira geração da política do desenvolvimento tenha sido baseada na premissa de que os seres humanos tomem decisões de forma deliberativa e independente, com base em preferências coerentes e interesse próprio, as pesquisas recentes demonstram que a tomada de decisão raramente ocorre dessa maneira. As pessoas pensam automaticamente: quando tomam decisões geralmente recorrem ao que lhes vem à mente sem esforço. As pessoas também pensam socialmente: as normas sociais orientam grande parte do comportamento e muitas pessoas preferem cooperar desde que os outros estejam fazendo sua parte. E as pessoas pensam comm modelos mentais: o que percebem e como interpretam essas percepções depende de conceitos e visões do mundo extraídas de suas sociedades e de histórias compartilhadas. O Relatório do Desenvolvimento Mundial 2015 oferece uma análise concreta de como essas percepções se aplicam à política do desenvolvimento. Ele mostra como uma visão mais profunda do comportamento humano pode contribuir para o alcance dos objetivos de desenvolvimento em muitas áreas, como desenvolvimento na primeira infância, finanças domésticas, produtividade, saúde e mudança climática. Demonstra também como uma visão mais sutil do comportamento humano oferece novas ferramentas para intervenções. Mesmo fazendo pequenos ajustes em um contexto de tomada de decisão, com a elaboração de intervenções baseadas em um entendimento sobre preferências sociais e a exposição dos indivíduos a novas experiências e formas de pensar podem habilitar as pessoas a melhorarem suas vidas. O Relatório abre novos caminhos interessantes para o trabalho do desenvolvimento. Ele mostra que a pobreza não é apenas um estado de privação material, mas também um “tributo” sobre os recursos cognitivos que afeta a qualidade da tomada de decisões. O Relatório enfatiza que todos os seres humanos, inclusive peritos e formuladores de políticas, estão sujeitos a influências psicológicas e sociais sobre o pensamento e que as organizações do desenvolvimento podem beneficiar-se de procedimentos para melhorar suas próprias deliberações e tomada de decisões. Demonstra a necessidade de mais descobertas, aprendizagem e adaptação no projeto da política e sua implementação. A nova abordagem para a economia do desenvolvimento contém uma enorme promessa. Seu âmbito de aplicação é amplo. Este Relatório lança uma importante agenda nova para a comunidade do desenvolvimento. GRUPO BANCO MUNDIAL SKU 32881